Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM GRUPOS NA COMUNIDADE: UMA ESTRATÉGIA FACILITADORA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE
Juliana Ferreira da Silva, Deborah Franscielle da Fonseca
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A Estratégia Saúde da Família (ESF) hoje consolidada como estratégia principal do modelo de Vigilância à Saúde, configura-se como uma proposta do Ministério da Saúde (MS) na tentativa de modificar as práticas assistenciais à saúde. A ESF é responsável por desenvolver ações individuais e coletivas, que objetivam impactar condições de saúde das populações atuando em seus determinantes. Neste contexto, a Educação em Saúde constitui ferramenta que pode ser utilizada para realização destas ações, sendo definida como um processo educativo baseado na construção de conhecimentos em saúde, que requer um pensamento crítico e reflexivo visando o empoderamento das pessoas na produção do cuidado. Observa-se, entretanto, que metodologias de ensino-aprendizagem que respeitem e envolvam a singularidade dos usuários são pouco utilizadas por equipes de trabalho em saúde, não sendo incorporadas no planejamento e organização dos serviços. Na educação problematizadora ou participativa proposta por Paulo Freire, todos são sujeitos do processo de aprendizagem com igual oportunidade de troca de conhecimentos e experiências, desenvolvendo o poder de captação e de compreensão do mundo como uma realidade em transformação. A educação dos sujeitos voltada para a saúde requer, portanto, a compreensão de educação como um processo contínuo, onde o aprendizado ocorre através do desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais e não pela adaptação ou reprodução de comportamentos, e se configura pelo impacto causado no contexto sociocultural dos indivíduos. Este estudo surge, neste contexto, a partir da relevância de relatar uma experiência prática de educação em saúde em um grupo de idosos de uma Estratégia de Saúde da Família de um município da região Centro-Oeste de Minas Gerais. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O Programa de Residência Profissional em Área da Saúde – Enfermagem na Atenção Básica/Saúde da Família da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), implantado em 2010, conta no primeiro semestre com diversos módulos, dentre estes destaca-se o módulo de Educação em Saúde. Considerando as atividades a serem desenvolvidas no decorrer desse módulo, foram realizadas ações educativas em grupo. Este estudo trata de um relato de experiência de enfermeiras residentes na prática de grupos de educação em saúde com usuários de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF), do município de Divinópolis, Minas Gerais, Brasil. A metodologia adotada foi fundamentada por Enrique Pichon-Rivière (1998), que considera o grupo como um conjunto de pessoas, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõem a uma tarefa e estabelecem vínculos entre si, sendo os vínculos considerados a base para os processos de comunicação e aprendizagem. Essa proposta pedagógica objetivou o aprimoramento das competências das residentes quanto às ações de promoção da saúde. No desenvolvimento e orientação das atividades de educação em saúde, foram utilizados conteúdos já elaborados por teóricos da área, dinâmicas e parábolas do meio social. Os indivíduos participantes foram convidados pela equipe de saúde local com base na demanda levantada pela mesma através da vivência em serviço. Estas atividades foram desenvolvidas em três dias, com encontros semanais, na sala de espera da ESF. Foram realizadas dinâmicas de acolhimento, apresentação dos participantes e discussão dos seguintes assuntos levantados pela equipe e pelos indivíduos: “o uso de psicotrópicos”, “relações familiares” com o questionamento de “Qual a família que tenho e a família que gostaria de ter?” e no terceiro encontro, “O que fazer no tempo livre?”. Em cada encontro, houve diferenciações quantitativas de usuários presentes e para o encerramento de cada uns deles, propôs-se um momento de confraternização. RESULTADOS: Durante o desenvolvimento das atividades de educação em saúde houve participação ativa dos indivíduos, onde foi possível compartilhar experiências e discutir/ refletir situações cotidianas. A abordagem do tema inicial “o uso de psicotrópicos” durante o primeiro encontro, ocorreu por meio de dinâmicas em que incentivavam os participantes a falarem sobre si, sua história de vida e o que gostavam de fazer no seu dia-a-dia. Para iniciar as atividades, realizou-se a “dinâmica do barbante”, que tem como objetivo promover a comunicação e o relacionamento interpessoal. Posteriormente foi realizada a dinâmica da “batata quente”, a qual busca promover a construção do conhecimento e discussão sobre o tema inicial proposto, por meio das seguintes perguntas sorteadas no decorrer da dinâmica: “O que mais você gosta de fazer no tempo livre?”; “Tem alguma coisa que têm prejudicado as suas atividades e o seu convívio com as pessoas no dia-a-dia?”. Atividades como ficar em casa, cuidar dos netos, fazer amizades com os vizinhos e conversar foram citadas como práticas do cotidiano. O sentimento de ansiedade foi mencionado como prejudicial em relação às atividades do dia-a-dia e no convívio com outras pessoas, mas que pode ser amenizado com a pratica de atividades físicas e conversa com amigos. Para finalizar este encontro procedeu-se com a avaliação das atividades propostas e levantamento de um tema para ser discutido no próximo. Para o segundo encontro foi sugerido pelos participantes anteriormente, o tema “relações familiares”. A atividade desenvolveu-se com o discurso de cada participante a partir das interrogações: “Qual a família que tenho?”; “Qual a família que gostaria de ter?”. Todos os participantes falaram de suas origens, sua relação com a família nuclear ou com a família da segunda geração, e ainda que existam momentos de convivência conflituosa, as relações familiares são avaliadas de forma positiva. Ao final do encontro, novamente procedeu-se avaliação das atividades propostas e levantamento do tema “O que fazer no tempo livre?” para ser discutido no próximo. A partir do tema proposto houve relato de atividades como dançar, cozinhar, pescar, ouvir música, caminhar, cuidar dos netos, visitar os amigos e realizar trabalhos manuais como forma de ocupar o tempo livre. Além disso, foi realizada uma discussão acerca das atividades levantadas e da possibilidade de realizá-las na unidade de saúde, bem como a avaliação de todo o processo educativo, que de acordo com os indivíduos foi positivo, construtor e promotor de saúde, vínculos e novas amizades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As atividades de educação em saúde requerem dos indivíduos o desenvolvimento de autonomia e pensamento crítico que reflitam em suas práticas de cuidado. A continuidade da realização dos grupos de educação em saúde na ESF é necessária, uma vez que, durante as atividades, os indivíduos compartilham experiências e constroem conhecimentos coletivos que podem impactar positivamente em suas condições de saúde e seus determinantes.
Palavras-chave
Educação em Saúde; Estratégia Saúde da Família; Saúde de Grupos Específicos
Referências
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