Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Educação Permanente em Saúde em ato: O Núcleo de Apoio à Saúde da Família como produtor da clínica inventiva
JANAINNY MAGALHÃES FERNANDES, Scheila Mai, Vinicius Santos Sanches

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Introdução: O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) é um dos campos de atuação da Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública, dos quais os residentes realizam apoio matricial, utilizam da clínica ampliada, de projetos terapêuticos singulares e da educação permanente em saúde (EPS). Cenário e Metodologia: Trata-se de uma experiência de EPS em Movimento realizado por residentes que compõem a equipe NASF Cruzeiro, do município de Porto Alegre - RS. Utilizou-se a caixa de afecções como ferramenta de promoção para a observação seguida de reflexão, provocadora de questionamentos, organização, planejamento e na invenção de novas possibilidades e consequentes transformações do processo de trabalho (EPS EM MOVIMENTO, 2014). Descrição da experiência: A caixa de afecções foi apresentada a equipe, para que a cada dia ou, no mínimo, uma vez por semana cada um escrevesse, desenhasse, citasse ou expusesse na caixa o que lhe afetou naquele dia/semana. Após a abertura da caixa de afecções do NASF, questões complexas, subjetivas e tão íntimas surgiram. Um forte sentimento de luta, solidão, desvalorização e afetações do trabalho e da vida pessoal apareceram como dificuldade ao enfrentar as barreiras cotidianas impostas por um trabalho hierarquizado, compensadas por escritas de motivação, eficácia, escuta e arte que demonstravam a clínica inventiva da equipe. Estas questões foram trabalhadas em forma teatral denominada "O Julgamento", onde os profissionais do NASF faziam papel de réus "acusados" por incompetência para o SUS. Nesta cena, os profissionais deveriam se defender e apontar as potencialidades de seu trabalho. Além disso, cada profissional apresentou um poema, música ou texto referente ao que acreditam de melhor no trabalho e na vida. Durante o "julgamento", referenciais teóricos e relatos coletados previamente de profissionais que atuam em equipes de Saúde da Família matriciadas pelo NASF compuseram o ato, trazendo à tona as potencialidades da equipe e seu trabalho na clínica das pessoas. Neste momento, a equipe NASF conseguiu enxergar sua potência e problematizar os pontos frágeis de sua atuação. Implicações e Considerações: As dificuldades apontadas pelo NASF se dão por esta equipe atuar em movimento contra-hegemônico e em favor da clínica da leveza, onde se preconiza o uso das tecnologias leves (FRANCO; MERHY, 2013), mas que ainda sofre pelo afogamento que o pensamento cartesiano impõe nos serviços, a partir de metas quantitativas e trabalho assistencialista. O uso da Caixa de Afecções como ferramenta de EPS permitiu o compartilhamento de sensações, sentimentos, reflexões e problematizações do trabalho e da vida dos profissionais, onde, o que se vive em ato é história, é narrativa, e cada ator envolvido é protagonista e produz ou reduz potências a partir dos desejos, encontros, desencontros e devires no cotidiano. As poesias e músicas trazidas pelos profissionais demonstraram, ainda, que o NASF também realiza a clínica dos outros, conforme refere o poeta Manoel de Barros: "Perdoai, mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas".

Palavras-chave


Núcleo de Apoio à Saúde da Família; Educação Permanente em Saúde; Tecnologias Leves

Referências


EPS EM MOVIMENTO. Refletindo sobre ferramentas analisadoras. 2014. Disponível em: <http://eps.otics.org/material/entrada-textos/refletindo-sobre-ferramentas-analisadoras>. Acesso em: 28 de setembro de 2015.

FRANCO, T. B.; MERHY, E. E. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde: textos reunidos. 1.ed. – São Paulo: Hucitec, 2013. 361p.