Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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DA SAÚDE COLETIVA AOS COLETIVOS DA SAÚDE
Monica Garcia Pontes, Daniel Emílio da Silva Almeida, Ricardo Moebus, Roseli da Costa Oliveira, Alzira de Oliveira Jorge, Vinícius Lana Ferreira

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


Apresentação: A criação de uma Rede Nacional de Avaliação Compartilhada – Rede RAC, em curso desde 2013, vem produzindo uma abordagem da Produção do Cuidado no SUS à luz das Redes Temáticas propostas pelo Ministério da Saúde nos últimos anos (Merhy, 2013). O objetivo deste Observatório é construir uma abordagem dos processos de trabalho nos serviços assistenciais que possa ser reveladora dos modos e da potência da produção do cuidado em saúde nestes serviços. Desenvolvimento do trabalho: Considerando que avalia quem pede, quem faz e quem usa, a pesquisa propôs-se à construção de um percurso metodológico que envolve os gestores em seus vários níveis, os trabalhadores das equipes de saúde, os familiares e os usuários, considerados como usuários-guia, para a produção do saber sobre o cuidado. Ou seja, tomando os saberes e experiências de todos estes atores como válidos e fomentando novas experiências de produção do cuidado onde todos possam construir conhecimentos sem o saber de um subsumindo o do outro, e onde se aceitam as diferenças, trabalhando permanentemente os processos de assimetrias e desigualdades (Merhy, 2009). A aposta feita é que ao se levar em consideração os saberes, experiências e desejos de todos os atores do processo de produção de cuidado em saúde nestes municípios, numa forma mais simétrica, seja possível produzir riqueza a partir da diferença, construindo assim coletivos interligados em educação, reflexão, produção permanente de saber. As principais fontes utilizadas durante esse trabalho foram: fontes documentais, prontuários, e as narrativas dos sujeitos, tanto usuários-guia, quanto trabalhadores e gestores. Foram acompanhados, em uma primeira fase, seis usuários-guia em Belo Horizonte. Estes usuários levaram-nos pelos caminhos produzidos por si na busca de soluções para os seus problemas de saúde (Merhy et al., 2014). A partir desta construção metodológica, seguimos pela produção de vários analisadores para o processo de cuidado produzido pela própria rede. Resultados: A partir do acompanhamento dos usuários-guia e dos coletivos da saúde reconstroem-se as trajetórias de vida de usuários que revelam os pontos operadores de produção de saúde e vida nas redes temáticas, suas limitações, e a intercambialidade de redes percorridas pelos mesmos, que constroem suas redes vivas existenciais. Foi identificado por nós que a definição do usuário guia acrescentou, abriu e iluminou os coletivos, que passaram a refletir sobre a potência das redes sendo construída/desconstruída no dia a dia dos serviços. Esse processo permitiu aos gestores, trabalhadores e pesquisadores reconhecerem que a vida requer muito além do que é preconizado em protocolos, normas e diretrizes, e que esses mecanismos normatizadores têm que ser trabalhados para que não sejam utilizados favorecendo arranjos burocratizantes e dificultadores do acesso e da continuidade na produção do cuidado. Considerações finais: As redes vivas existenciais incluem as variadas estações de produção de cuidado, constroem uma composição de redes de redes, incluem inumeráveis componentes extraclínicos e externos às redes de atenção à saúde, que conseguem produzir mais cuidado sempre que escapam e extrapolam os limites dos protocolos, sejam burocráticos, sejam clínicos, sejam epidemiológicos.

Referências


MERHY, Emerson Elias. "Desafios de desaprendizagens no trabalho em saúde: em busca de anômalos”. In: LOBOSQUE, A. M. (org.) - Cadernos Saúde Mental 3 – Saúde Mental: Os desafios da formação. Escola de Saúde pública de Minas Gerais. ESPMG, 2009.

MERHY, E.E.; FEUERWERKER, L. M. ; SILVA, E. ; GOMES, M. P. C. ; SANTOS, M. F. L. ; CRUZ, K. T. ; FRANCO, T.B. Redes Vivas: multiplicidades girando as existências, sinais da rua. Implicações para a produção do cuidado e a produção do conhecimento em saúde. Divulgação em Saúde para Debate, v. 52, p. 153-164, 2014.