Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O processo ensino-aprendizagem dos Preceptores na Residência Multiprofissional em Saúde
Luciana da Conceição e Silva, Shirley Soares da Silva Marins do Patrocínio, Marcio Eduardo Brotto

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


Este trabalho é parte do estudo realizado para o Trabalho de Conclusão da Residência. Tem como tema o processo de ensino e aprendizagem dos preceptores em uma residência multiprofissional em saúde. Os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde foram pensados com o objetivo de contribuir com a revisão do modelo assistencial, na medida em que podem formam um novo perfil do profissional de saúde preparado para responder às reais necessidades de saúde dos usuários, família e comunidade. Elencamos como questão norteadora dessa pesquisa: Como tem sido a contribuição dos preceptores para a formação multiprofissional em saúde dos residentes, através do seu processo de ensino no e pelo trabalho, objetivando a construção de um curso de formação crítica para o SUS? O objetivo geral deste trabalho é analisar o processo ensino-aprendizagem na Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher do Instituto de atenção a saúde são Francisco de Assis (HESFA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a partir do relato dos preceptores. Os objetivos específicos foram; destacar as contribuições dos preceptores para a formação multiprofissional na RMSM; e a contribuição na construção do Projeto Político-Pedagógico da RMSM. O estudo está de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que traz diretrizes e normas regulamentadoras que devem ser cumpridas nos projetos de pesquisa envolvendo seres humanos. A metodologia do estudo foi a pesquisa quantiqualitativa e realizou-se a partir dos relatos dos preceptores do HESFA/UFRJ que pertencem às seguintes áreas de conhecimento: Serviço Social, Psicologia e Enfermagem. Dentro do total de 41 preceptores, 12 foram entrevistados, dos quais: 4 assistentes sociais, 4 enfermeiros e 4 psicólogos. O critério de escolha foi o sorteio aleatório. Utilizou-se o Roteiro de Entrevista Semiestruturada e a Análise de Conteúdo Temático para a coleta e tratamento dos dados. Podemos observar que a maioria desconhece (67%) o projeto; 42% não participaram da construção do projeto; 42% participaram da construção, mas não consideraram a participação substancial com respostas relacionadas de que os preceptores foram chamados a operacionalizar o que fora pensado; e apenas 17% afirmaram ter tido participação efetiva na construção do projeto. Um dado interessante se levarmos em consideração que 67% dos preceptores entrevistados estão inseridos no RMSM desde seu início. Ao serem indagados sobre o planejamento multiprofissional do ensino na preceptoria observa-se que 67% dos preceptores afirmaram que não há planejamento multiprofissional e quando indagamos sobre a prática multiprofissional no próprio HESFA os preceptores encontram dificuldades (25%) por questões estruturais; outros afirmaram que não há integração multiprofissional no instituto (25%) e outros ainda afirmaram que não conseguiam avaliar (25%) tendo em vista que não conheciam o trabalho das outras unidades. Esses dados demonstram que apesar dos preceptores considerarem que o Instituto e suas unidades são avançados na intenção e em práticas multiprofissionais a realidade aponta que os profissionais possuem muita dificuldade em integrar essas práticas no cotidiano como exemplo do planejamento e do conhecimento da realidade de outros setores do HESFA. Os dados sugerem que os preceptores não estão desenvolvendo, planejando e protagonizando um trabalho que venha a contribuir para um processo ensino-aprendizagem condizente com uma formação profissional voltada aos objetivos propostos pela Residência Multiprofissional. Isto pode estar acontecendo devido à falta de participação mais efetiva dos preceptores na construção e discussão do projeto Político Pedagógico do curso; pela organização do trabalho que se desenvolve distanciada do molde multiprofissional assim como pela inexistência e fragmentação do planejamento das atividades de ensino. A falta de protagonismo dos formadores preceptores na construção do Projeto Político-Pedagógico abre a discussão para repensar a participação mais satisfatória desses no planejamento pedagógico do curso tendo em vista que esses profissionais são centrais na formação do curso com ênfase prática onde a maior parte do processo de ensino-aprendizagem realizar-se-á nos cenários de prática com a supervisão profissional dos preceptores. Percebemos também, através destes dados, que os profissionais não conseguem planejar e definir objetivos claros para a ação profissional, o que impede que eles utilizem de sua relativa autonomia para sustentarem princípios ético-políticos progressistas nos atendimentos, direcionando os instrumentos utilizados a partir de seu referencial e dos objetivos propostos. Outra tendência observada é a de que os profissionais, por não planejarem e nem refletirem sobre o exercício profissional, acabam por não destacarem as prioridades de atendimento para a formação dos residentes, reiterando, dessa forma, o que o cotidiano impõe como prioridade, cotidiano este que tem a hegemonia do capital financeiro preconizando práticas meramente curativas e fragmentadas na saúde, além de uma defesa cada vez maior da privatização do setor. Ao refletirmos sobre a avaliação da prática profissional, consideramos que para analisar as consequências do exercício da profissão nas relações contraditórias da realidade faz-se necessário captar as referências ético-políticas e teórico-metodológicas da ação desenvolvida presentes nas estratégias, prioridades e manifestações dos profissionais.  Esse tipo de avaliação não é realizada pelos profissionais que se limitam a recorrer à aparência da realidade institucional para analisarem seu cotidiano, demonstrando dessa forma que a reflexão e a relação teoria-prática, essencial a um intelectual especialmente ao vinculado às unidades universitárias, é realizada de forma superficial na realidade de trabalho desses profissionais. Uma prática mediada pelos interesses históricos das massas trabalhadoras não se materializa através da posição verbalmente declarada, mas por um conjunto de ações e mediações que materialize esse posicionamento. Desta forma, destaca-se o planejamento, individual e coletivo da prática assistencial; destacando-se, as ações relacionadas à preparação para a realização das atividades, tendo em vista os fins desejados – o planejamento. Esse processo torna-se um instrumento importante para quem faz opção por uma prática mediada pelos interesses dos trabalhadores, visto que contém a possibilidade de estruturar um conjunto coordenado de ações visando a consecução de determinados objetivos; ou seja, a possibilidade de uma prática que esteja voltada para o acesso às políticas públicas como direito e com controle social. Mas, na sociedade capitalista, o planejamento, assim como outros, é um instrumento que pode ser utilizado para diversos fins. Entretanto, ao profissional que opta por um projeto de profissão voltado para fortalecer a saúde coletiva na perspectiva da Reforma Sanitária, coloca-se a exigência de planejamento do exercício profissional. Sem planejamento as demandas dos usuários são abordadas como “problemas” a serem resolvidos de modo pontual, sem que sejam apreendidas como expressões da dinâmica da sociedade capitalista. Desta forma, o planejamento torna-se um instrumento essencial que permite estabelecer metas, prioridades e ações necessárias, tendo em vista assegurar uma prática institucional que reverta em ganhos para a população. A falta de planejamento dificulta, ainda, a avaliação da prática profissional e a avaliação dos alunos residentes, uma vez que não se estabeleceram parâmetros, metas e prioridades. Isto influencia na qualidade dos serviços prestados e impede uma formação avaliada nas suas consequências.

Palavras-chave


Residência; Saúde; Educação.

Referências


PINTO, Isabela Cardoso de Matos; BELISÀRIO, Soraya Almeida; CASTRO, Janete Lima.  Políticas na área de trabalho e educação na saúde depois do SUS. IN: PINTO, Isabela Cardoso de Matos; NUNES, Tânia Celeste Matos;FAGUNDES, Terezinha de LisieuxQuesado ; BELISÀRIO, Soraya Almeida (orgs.).  Trabalho e Educação na Saúde: a produção técnico científica– Rio de Janeiro : Abrasco, 2012.

SANTOS, Fernanda Almeida dos. Análise crítica dos Projetos Político-pedagógicos de dois Programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Dissertação em maio de 2010. ENSP/Fiocruz.

VASCONCELOS, Ana Maria de. A Prática dos Profissionais de Saúde no Município do Rio de Janeiro. Hospitais Universitários.  Projeto de Pesquisa. FSS/UERJ/FAPERJ/CNPq, 2010.