Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CONCEPÇÕES SOBRE A COORDENAÇÃO DO CUIDADO À SAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA
ITALO RICARDO SANTOS ALELUIA, Maria Guadalupe Medina, Patty Fidelis de Almeida, Ana Luiza Queiroz Vilasbôas

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A crescente prevalência das condições crônicas no cenário epidemiológico brasileiro exige transformações na organização dos serviços de saúde que viabilizem melhorias na integração e continuidade do cuidado. A Atenção Primária à Saúde (APS) assumiu papel prioritário para integrar cuidados, serviços e informações e tem como atributo fundamental a coordenação do cuidado (SCHMIDT et al., 2001). No âmbito da APS, faz-se necessário que o cuidado esteja orientado por práticas de coordenação, com vistas a integrar os níveis assistenciais, facilitando assim, o ordenamento de fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações para garantir uma atenção sincronizada (ALMEIDA et al., 2012; GIOVANELLA, 2011). Nesse sentido, estudos ressaltam que as ações de coordenação do cuidado possibilitariam melhorias na continuidade e na integralidade da atenção, na medida em que reduziriam barreiras de acesso aos distintos serviços de saúde, articulando-os em tempo e local oportunos (PIRES et al., 2010; MARTINEZ et al., 2009). Apesar da existência de inúmeros estudos na literatura nacional e internacional sobre a coordenação do cuidado, pode-se afirmar que ainda há uma importante dificuldade na definição do seu significado. Vários termos e modelos têm sido utilizados como sinônimos ou em conjunto, sendo difícil interpretar a inter-relação entre eles e chegar a um denominador comum, sobre o que seria, de fato, a coordenação do cuidado à saúde. O objetivo desse trabalho foi sistematizar o conhecimento da literatura internacional e nacional sobre a coordenação do cuidado à saúde. MÉTODO: Esse trabalho é parte da dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva, realizado na Universidade Federal da Bahia, pelo autor. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura nacional e internacional. O estudo compreendeu a revisão de artigos, teses de doutorado e/ou documentos técnicos institucionais. Os textos incluídos nesta revisão derivaram das bases de dados científicas Pubmed, Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo a busca realizada no período de outubro a novembro de 2013. Foram incluídos textos que tratassem sobre concepções da coordenação do cuidado e que estivessem publicados no período 1994 a 2012, redigidos nos idiomas inglês, espanhol e português. Utilizou-se combinações e operações booleanas, a partir de descritores previamente definidos e categorizados nas bases de dados Pubmed (MeSH Terms) e nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), além dos unitermos presentes nas publicações identificados nas leituras exploratórias sobre a temática, ambos nas línguas inglesa e portuguesa. Para os Meash Terms funcionaram como descritores Care Continuum; Patient Care Continuity, Cordination Care; Coordination of Care; Integrated Delivery System e Primary Health Care. Já para a busca dos textos nacionais os unitermos utilizados foram Coordenação do Cuidado, Atenção Primária à Saúde, Integração do Cuidado, Continuidade da Assistência ao Paciente; Integração Assistencial e Sistemas Integrados. A análise dos textos foi realizada qualitativamente através de uma matriz para sistematização dos resultados onde se compilaram informações de forma horizontal e vertical entre os documentos incluídos. Para esse estudo considerou-se como concepções da coordenação do cuidado características, elementos, mecanismos ou instrumentos para integração de ações, de serviços de saúde, para definição de fluxos assistenciais, comunicação e monitoramento dos usuários no interior de um mesmo nível de assistência ou entre estes.   RESULTADOS: A partir desta revisão foram evidenciadas várias concepções sobre a coordenação do cuidado. Dentre elas, destacaram-se as práticas para integração de serviços e ações de saúde, a organização deliberada à atenção à saúde, a interação entre prestadores, a articulação de intervenções multiprofissionais, a promoção da continuidade assistencial, a otimização do tratamento, estratégias de articulação entre APS e atenção especializada, o gerenciamento de fluxos de informação, a construção de planos terapêuticos compartilhados e a comunicação entre profissionais e serviços. Nas vertentes explicativas para o surgimento da coordenação do cuidado, três proposições foram apontadas. A primeira derivada da necessidade de controle de custos, da qualidade da atenção e satisfação dos usuários; a segunda relativa ao crescimento na prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, que exigiu práticas centradas nos usuários e necessidades de saúde; e a terceira que emergiu da necessidade de superar a fragmentação dos sistemas de saúde. Sobre os objetivos da coordenação do cuidado, grande parte dos autores destacou a promoção da continuidade assistencial, a melhoria da qualidade, o potencial de interferir na redução dos custos da atenção à saúde e a organização da oferta e do acesso, em tempo e local oportunos. Outras concepções trouxeram a ideia de componentes e mecanismos para coordenar o cuidado. No que concerne aos componentes os mais citados na literatura foram o planejamento da assistência individual, a padronização de condutas, a comunicação e a troca de informações entre profissionais de distintos níveis de atenção e, entre estes, com usuários e familiares, o referenciamento e o monitoramento dos usuários. Com relação aos mecanismos de coordenação mais referidos, a literatura apontou a construção compartilhada de planos assistenciais com a previsão de ajustes, a depender da necessidade do usuário; a utilização de guias, protocolos clínicos, mapas e diretrizes terapêuticas baseadas em evidência; o registro regular e a identificação de profissionais e equipes de referência; o registro dos encaminhamentos realizados seja manual ou por meio de tecnologias de informação; o compartilhamento de informações entre profissionais e entre estes e usuários, a avaliação dos resultados e impactos na condição de saúde do usuário. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados desse estudo delineiam as principais concepções nacionais e internacionais, relativas à coordenação do cuidado à saúde. A presente sistematização permitiu evidenciar que há um grande dissenso na literatura sobre a coordenação do cuidado à saúde, há pouca clareza sobre os mecanismos de operacionalização dos componentes e mecanismos citados, bem como não foi identificado um marco teórico-conceitual que orientasse caminhos metodológicos para a mensurar a efetividade e o grau de implantação de intervenções relativas à coordenação do cuidado pela APS. Em suma a presente revisão permitiu concluir que a coordenação do cuidado pode ser entendida como um processo que visa integrar ações e serviços de saúde, em que distintos profissionais utilizam mecanismos e instrumentos específicos para planejar a assistência, definir fluxos, trocar informações sobre usuários e seu processo assistencial, para referenciar, contrarreferenciar e monitorar pacientes com diferentes necessidades de saúde, entre serviços localizados no mesmo ou em distintos níveis de atenção, a fim de facilitar a prestação do cuidado contínuo e integral, em local e tempo oportunos.

Palavras-chave


Coordenação do cuidado; Atenção; Integração; Continuidade

Referências


SCHMIDT, M. I.; Et al. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: carga e desafios atuais. The Lancet, v. 377. n. 9781. p. 1949 – 1961, Jun. 2011.

ALMEIDA, P.F. de.; GIOVANELLA, L.; NUNAN, B.A.; Coordenação dos cuidados em saúde pela atenção primária à saúde e suas implicações para a satisfação dos usuários. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 36, n. 94, p. 375-391, jul./set. 2012.

GIOVANELLA, L. Redes integradas, programas de gestão clínica e generalista coordenador: análise das reformas recentes do setor ambulatorial na Alemanha. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p.1081-1096, 2011.

PIRES, M. R. G. M.; et al. Oferta e demanda por média complexidade/SUS: relação com atenção básica. Ciência & Saúde Coletiva, v. 15, n. 1, p. 1009- 1019. 2010.

MARTINEZ, D.H.; NAVARRETE, M.L.V.; LORENZO, I.V. Factores que influyen em la coordinación entre niveles asistenciales según la opinión de directivos y profesionales sanitarios. Gac Sanit. v. 23, n. 4, p. 280–286. 2009