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APRESENTAÇÃO: A atenção às condições crônicas exige melhorias na prestação do cuidado relativas ao acesso, à qualidade e à continuidade da atenção, mediante a integração de serviços entre os diferentes níveis do sistema de saúde e ao interior de um mesmo nível (ALMEIDA et al., 2012). No âmbito da APS, o cuidado às condições crônicas deve ser orientado por práticas que visem integrar os níveis assistenciais e facilitar o ordenamento de fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações, através da conformação de redes de atenção que tenham como finalidade garantir a integralidade do cuidado; a integração entre trabalhadores e serviços; a racionalização e otimização do processo de trabalho e a continuidade da atenção (PIRES et al., 2010; SISSON et al., 2011). De um lado, autores ressaltam a falta de integração dos cuidados como um entrave crítico e que contribui para erros de diagnóstico e de tratamento, utilização equivocada de recursos e aumento dos custos para o sistema de saúde (PUIG et al., 2209). Do outro, atestam que a fragmentação do cuidado reduz a eficiência da atenção, contribuindo para a instalação de longas filas de espera, duplicações de provas diagnósticas e hospitalizações desnecessárias (ALMEIDA et al., 2012; LORENZO e NAVARRETE, 2007). As reformas organizacionais dos sistemas de saúde têm atribuído diferentes conformações de modelos que visam orientar os meios, as práticas e processos de trabalho, seja nas relações entre profissionais, entres estes e os serviços e/ou população usuária, entretanto, há que se destacar a escassez de estudos que sistematizem essas proposições e que identifiquem suas potencialidades, modos de operacionalização, metodologias avaliativas e graus de sucesso e insucesso. Esse estudo teve como objetivo sistematizar o conhecimento produzido na literatura nacional e internacional sobre características da atenção às condições crônicas, em redes centradas na atenção primária à saúde. MÉTODO: Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura nacional e internacional. Compuseram essa revisão documentos como artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, publicados entre 2000 e 2012 e indexados nas bases de dados científicas Pubmed, Scielo e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Na elaboração das sintaxes de busca priorizaram-se aquelas que garantissem a sensibilidade (inclusão do maior número possível dos documentos relacionados ao objetivo do estudo) e especificidade (exclusão dos documentos não relacionados ao objetivo do estudo). Utilizou-se combinações e operações booleanas, a partir de descritores previamente definidos e categorizados nas bases de dados Pubmed (MeSH Terms) e nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), além dos unitermos presentes nas publicações identificados nas leituras exploratórias sobre a temática, ambos nas línguas inglesa e portuguesa. Para seleção e busca dos estudos na língua inglesa utilizou-se os MeSH Terms Primary Health Care, Chronic disease, Cardiovascular diseases, Hypertension, Diabetes Mellitus, Pulmonary Disease, Chronic Obstructive, Asthma, Neoplasms. Já para as buscas em língua portuguesa adotou-se unitermos como Atenção, Doenças Crônicas, Doença Crônica, Condições Crônicas, Doenças cardiovasculares, Hipertensão arterial, Diabetes, Câncer, Asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Inicialmente foram reunidos 1.990 documentos, distribuídos em 875 (43,9%) artigos na base Pubmed, 650 (34,2%) artigos na base Scielo e 465 (23,4%) dissertações e/ou teses na base BVS. A seguir, procedeu-se à exclusão dos documentos em três etapas. Na primeira foram suprimidas as duplicidades de cada base com a exclusão de 453 artigos e 154 dissertações e/ou teses. Na segunda etapa restaram 1383 textos e foi realizada a leitura dos títulos e resumos, com a exclusão de 746 artigos e 239 dissertações e/ou teses. Nesta etapa aplicaram-se os seguintes critérios de exclusão: (1) não tratar de condições crônicas da espécie humana; (2) não abordar as doenças ou condições crônicas definidas como condições traçadoras para esse estudo; (3) tratar de doenças ou condições agudas; (4) não tratar de propostas/características de gestão de serviços em redes centradas na Atenção Primária à Saúde (APS); e (5) textos não redigidos nas línguas portuguesas e inglesas. Na terceira etapa leu-se 398 textos restantes e foram excluídos 116 artigos e 46 dissertações/teses, restando, ao final desta revisão, um total de 236 documentos para serem utilizados no preenchimento da matriz de sistematização dos resultados. Considerou-se características ou elementos sobre modelos de cuidados, seja quanto ao conteúdo das práticas, seja quanto às relações profissional-usuário, profissional-profissional e profissional-comunidade. A análise dos textos foi feita de forma duplo-cega por dois revisores, através de uma matriz de sistematização dos resultados. RESULTADOS: Considerando as características da atenção às condições crônicas em redes centradas na APS, os documentos revisados indicaram que a relação entre os profissionais deve ser orientada por uma atuação multidisciplinar e multiprofissional. Além disso, são necessárias melhorias nos mecanismos de integração e comunicação entre profissionais da APS e profissionais da atenção especializada, assim como entre os profissionais e gerentes de unidades básicas de saúde. Alguns estudos chamaram a atenção para a necessidade da integração de práticas convencionais com práticas complementares e inovadoras nos sistemas de saúde. Os autores evidenciaram que a relação profissional-usuário deve ser pautada em práticas educativas, que orientem os sujeitos portadores de condições crônicas e seus familiares para o autocuidado. Foi mencionada, também, a importância de estratégias comunicacionais para o aconselhamento que considerem o contexto de vida e saúde dos sujeitos, incluindo-os nas decisões e no planejamento sobre o processo assistencial. Uma gama de produções destacou a relevância do papel dos familiares no monitoramento e adesão ao tratamento, além da necessidade de práticas de acolhimento, vínculo e responsabilização, integrando profissionais, usuários e familiares. No que tange à relação profissional-comunidade, foi possível identificar que essa díade deve ser pautada em práticas educativas que promovam o empoderamento dos sujeitos para o autocuidado. Quanto ao modelo de prestação dos cuidados, os estudos recomendaram a priorização de práticas de aconselhamento preventivo e de promoção de saúde, em que os usuários e a comunidade tivessem seus aspectos sociais, culturais, étnicos, dentre outros, levados em consideração pelas equipes, de modo a valorizar e fortalecer as potencialidades comunitárias, sobretudo, estabelecendo parcerias com lideranças e organizações locais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Esse estudo delineou as características da atenção às condições crônicas em redes centradas na atenção primária. As principais proposições apontaram a integração das práticas e do processo de trabalho de forma multiprofissional e interdisciplinar. O âmbito das relações entre profissionais e usuários remonta para práticas voltadas ao empoderamento e integração de usuários e familiares com vistas à maior participação destes, no processo decisório relativo ao plano de cuidados, que devem estar centrados, sobretudo, em práticas educativas e de promoção da saúde, mediante parcerias comunitárias. Assim como as características de gestão de serviços, o espectro da atenção às condições crônicas em rede apresentou diversas proposições e recomendações, com importantes limitações relativas a critérios e indicadores de avaliação do conteúdo das práticas. Houve ainda um importante déficit de estudos que apresentassem métodos de avaliação e/ou descrevessem experiências concretas sobre as proposições. Nesse sentido, recomenda-se estudos de avaliação de efetividade das diferentes recomendações, que fomentem inferências capazes de sustentar sua implantação, avaliação e monitoramento, no âmbito das políticas e programas voltados à prestação do cuidado em redes centradas na APS.

Atenção Primária; Redes; Modelo de Atenção; Condições Crônicas