Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
METODOLOGIA ATIVA E SUA IMPORTÂNCIA NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE PERIGOSOS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Silvia Regina Souza de Azevedo, Ângelo Rodolfo Santiago, Fausi Padilha Gonçalves, Rogério Dias Renovato

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


Apresentação: Nos setores de Unidade de Terapias Intensivas (UTI) e Unidades Semi-Intensivas (USI), a abordagem dos erros de medicação e suas consequências para o paciente e equipe de enfermagem merecem destaque uma vez que a terapia medicamentosa é complexa e a administração de inúmeros Medicamentos Potencialmente Perigosos (MPPs) associados à gravidade e instabilidade clínica dos pacientes, justifica uma avaliação centralizada, pois nessas circunstâncias, as consequências podem ser ainda mais dolorosas (TORFFOTETTO; PADILHA, 2006). Os Medicamentos Potencialmente Perigosos (MPPs) são aqueles que segundo Cohen (2014) possuem risco aumentado de provocar danos significativos aos pacientes em decorrência de falha no processo de utilização. Sakata (2010) justifica o uso frequente destes medicamentos, pois grande parte dos pacientes internados no setor UTI experimenta sensação de dor, medo e ansiedade, portanto, a administração de analgésicos e sedativos é fundamental para dar conforto ao paciente, reduzindo assim, o estresse e evitando o retardamento na recuperação e no desmame ventilatório. No Brasil, a administração de medicamentos é uma atividade cotidiana, de responsabilidade legal da equipe de enfermagem, em todas as instituições de saúde (SILVA et al., 2007). O Decreto nº 94.406/87 que regulamenta a Lei nº 7489, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 311/2007 (direitos, deveres, responsabilidades e proibições). É proibido segundo o Art. 30 – Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga ou sem certificar-se da possibilidade dos riscos. Portanto neste contexto, é exigido que todos os profissionais envolvidos nesta assistência sejam qualificados para tal valorizando suas experiências e vivências profissionais e conforme preceitua Murback (2008) a educação continuada não é apenas transmissão de conhecimentos científicos, mas, também uma transmissão de atitudes em relação à utilização desses conhecimentos, portanto para entender na essência educação continuada apenas como uma transmissão de saberes e é uma visão simplista, educar exige também rever conceitos, mudar atitudes e ser capaz de agir como agente transformador. Neste cenário surgem as metodologias ativas envoltas em uma concepção educativa que estimula processos de ensino-aprendizagem críticos-reflexivos, no qual o educando participa e compromete-se com seu aprendizado. O método propõe a elaboração de situações de ensino que promovam uma aproximação crítica do aluno com a realidade; a reflexão sobre problemas que geram curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e soluções; a identificação e organização das soluções hipotéticas mais adequadas à situação e à aplicação dessas soluções (LUCKESI, 2007). O objetivo do estudo e realizar um ensaio teórico e reflexivo sobre a metodologia ativa em saúde e suas contribuições para assistência de enfermagem frente à administração de MPPs por profissionais de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva. Desenvolvimento do Trabalho: Para este estudo utilizaremos a abordagem metodológica de ensaio teórico e reflexivo, consistente em uma exposição lógico-reflexiva com ênfase na argumentação e interpretação pessoal, para expor ideias científicas ou filosóficas (SEVERINO, 2000). Resultados: De acordo com Luz (2000) nas instituições hospitalares, a enfermagem desempenha importante papel na preparação da infraestrutura para a realização segura e eficaz dos procedimentos médicos e de enfermagem, além de ações assistenciais, orientação e educação preventiva, visando ao autocuidado, facilitando a reintegração social do paciente, no Brasil, a equipe de enfermagem representa o percentual mais significativo de pessoal, chegando a atingir em alguns casos cerca de 60% nas instituições hospitalares. Convém ressaltar que a proposta pedagógica a ser utilizada na continuidade da formação em saúde necessitará considerar os trabalhadores como sujeitos de um processo de construção social de saberes e práticas, preparando-os para serem sujeitos dos seus próprios processos de formação ao longo de toda a sua vida (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004). Nesta conjuntura, o ser humano na concepção de Bagnato é um sujeito que se constitui nas relações consigo mesmo, nas relações com outros sujeitos, com os meios de comunicação, com religião, famílias, com acesso a novos conhecimentos e lugares que vai ocupando. Para essa pensadora do campo da Educação em Saúde, o conhecimento do outro é construído e desconstruído no diálogo, na diversidade de vozes, através das palavras, dos gestos e das ações (BAGNATO; RENOVATO, 2006). Para Amorin (2001) a linguagem assume um papel de destaque em um diálogo, pois é nela que acontecem as trocas e os acolhimentos. Assim, o educador em saúde atuará como mediador cultural no sentido de decodificar a linguagem técnica utilizada e estabelecer as interlocuções do grupo com outros saberes. É esperado propiciar condições para que os indivíduos adquiram uma linguagem que busque a reflexão de suas experiências, para transformá-las em projetos mais amplos de responsabilidade social (BAGNATO; RENOVATO, 2006). É primordial destacar que o mundo global não comporta mais profissionais limitados apenas a sua função, mas necessita que estejam preparados para a vida e sejam capazes de mobilizar e articular conhecimentos, valores e habilidades na tomada de decisões frente a qualquer problema/situação, os profissionais de enfermagem necessitam ser competentes em uma prática mais abrangente, sem se abstrair dos conhecimentos primordiais para o desempenho de sua função (FERREIRA, 2003). Portanto, entende-se que desta forma para que tal objetivo seja alcançado deve-se utilizar as metodologias ativas, uma vez que é através da problematização como estratégia de ensino-aprendizagem - cuja finalidade é motivar o profissional – que ele diante do problema, se detém, examina, reflete e inicia o processo de produção do seu próprio conhecimento e assim seu autodesenvolvimento contribuindo para sua própria formação (MITRE, 2008). Considerações finais: A partir do estudo realizado entende-se que a metodologia ativa para a qualificação desses profissionais seja de grande valia para a assistência de enfermagem frente ao tema proposto. Uma vez que desenvolve nestes profissionais a capacidade do pensar, refletir e da habilidade resolutiva no que se refere à resolução de problemas, desenvolvendo ações de saúde e, principalmente, comprometidos com a construção do seu próprio conhecimento, valorizando o ser humano e a vida. Porém, acredito que a metodologia ativa frente à assistência da enfermagem na administração de MPPs ainda é um desafio à sua implantação, pois a enfermagem ainda está atrelada ao processo do fazer dissociada do raciocínio clínico e reflexivo. E é primordial destacar que somente através de uma prática reflexiva, crítica e principalmente comprometida com o processo de cuidar pode-se promover a autonomia, o diálogo, a troca de experiências e vivências profissionais.

Palavras-chave


Assistência de Enfermagem; Metodologia ativa; Medicamentos Potencialmente Perigosos.

Referências


AMORIN, M.. O pesquisador e seu outro – Bakhtin nas ciências humanas. 1ed. São Paulo: Musa Editora, 2001.

BAGNATO, M.H.S; RENOVATO R.D.. Práticas Educativas em Saúde: um território de saber, poder e produção de identidades. In: Deitos RA, Rodrigues RM (Org). Estado,                                                               m rm.desenvolvimento, democracia & políticas sociais. Cascavel: EDUNIOESTE, 2006. p. 87 - 104.

COHEN, M. R.  Medication errors. Nursing. V. 44, n. 8, p. 317-411, 2014

FERREIRA H.M.. A totalidade do conhecimento da enfermagem: uma abordagem curricular. Revista Acta Paulista de Enfermagem. São Paulo (SP), v. 6, p.56-65, 2003.

LUCKESI C.C.. Avaliação da aprendizagem e comunicação. Revista ABC Educatio. São Paulo (SP), v. 62, p. 22-25, 2007.

LUZ S.. Educação Continuada: estudo descritivo de instituições hospitalares. O mundo da Saúde 2000; 24(5): 343-51.

MANCIA, J.R.; CABRAL, C.L.; KOERICH, S.M.. Educação permanente no contexto da enfermagem e na saúde. Revista Brasileira de Enfermagem. V. 57, n. 5, p. 605-610, 2004.

MURBACK, S.E.S.L. Educação continuada em saúde coletiva: desafios e possibilidades. [dissertação]. Campinas, SP: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas; 2008.

MITRE, S.M.I. et. al. Metodologias ativas de ensino – aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 13, 2008, p. 2133-244.

SAKATA, R.K. Analgesia e sedação em Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Anestesiologia. v. 60, n. 6, p. 653-658, 2010.

SEVERINO,  A.J. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

SILVA, A.E.B.C.; et al. Problemas na comunicação: uma possível causa de erros de medicação. Acta paulista de enfermagem. v. 20, n. 3, p. 272-276, 2007.

TOFFOLETTO, M. C.; PADILHA, K. G. Consequências dos erros de medicação em unidades de terapia intensiva e semi-intensiva. Revista da Escola de Enfermagem da USP. v. 40, n. 2, p. 247-252, 2006.