Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Experiência de Interação de Estudantes de Medicina da UFFS/PF com a Comunidade Escolar no Bairro Santa Marta em Passo Fundo/RS
Karla Munike MAgri Cortez Heep, Isabel Cristina Hilgert Genz

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: Relato de experiência desenvolvido por um grupo de estudantes do segundo semestre de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), por meio de um Projeto de Interação com a comunidade, realizado durante as imersões/vivências no Sistema Único de Saúde (SUS), dispositivo de aprendizagem em serviço vinculado ao Componente Curricular de Saúde Coletiva. Desenvolvido com crianças e adolescentes de uma escola estadual pertencente à zona rural e de abrangência da Estratégia de Saúde da Família do Bairro Santa Marta, Passo Fundo/RS. Teve objetivo de contribuir na melhoria das condições de higiene pessoal, alimentação, redução de doenças parasitárias e elucidar a potencialidade e as perspectivas que há em cada pessoa. DESENVOLVIMENTO: O movimento transformador em saúde se reflete na construção do SUS, desde os cuidados de atenção à saúde da população, até a formação de profissionais da saúde para atuar no sistema. As ações vinculadas à Atenção Básica apresentam complexidades relacionadas à articulação de diversos saberes, múltiplos profissionais e às diversidades presentes no cotidiano de vida e saúde das populações. Isto irá refletir-se na atuação do profissional médico, que precisa desenvolver uma adequada abordagem e efetiva transformação nesse nível de atendimento, uma síntese de saberes e interações de ações individuais e coletivas; curativas e preventivas; assistenciais e educativas. As demandas com base nas necessidades básicas envolvem um conjunto de ações médicas sanitárias e clínicas que resultam em um trabalho complexo, ao atender requisitos de alta capacidade resolutiva e, ao mesmo tempo, de alta sensibilidade diagnóstica. Essas questões desafiam a formação médica orientada por uma visão mais integrada, intersetorial, visando à garantia da promoção da saúde, da prevenção de doenças, da recuperação e reabilitação a partir do cuidado integral e da responsabilidade sanitária como elementos norteadores das práticas em saúde. Dentro dessa proposta de aproximação do acadêmico com a comunidade, diagnosticando as fragilidades e potencialidades nela presentes e interagindo com atores específicos, o Projeto de Interação foi realizado no período de março a junho de 2015, com um total de seis encontros, envolvendo 68 alunos de seis a 18 anos. Cada atividade foi preparada e aplicada da maneira mais divertida e diversificada possível, utilizando elementos da arte em saúde através da música, teatro e dança, assim como o uso de imagens, dinâmicas participativas e interativas, alimentos, escovódromo, dentre outros dispositivos para o engajamento dos alunos da escola. A escolha da comunidade escolar foi baseada nas vulnerabilidades as quais esses alunos estavam expostos e também, pela busca da coordenadora, para que a escola pudesse ser assistida de alguma maneira pelos universitários e agregar pontos positivos à formação em saúde de seus alunos. Nesse sentido, foi definido um processo de Educação em Saúde com crianças e adolescentes através de quatro encontros ou oficinas com duração de quatro horas sobre os temas: alimentação saudável, higiene, saúde bucal e conhecimento do corpo. Para cada encontro foi preparada uma metodologia participativa de envolvimento e interação com todos. Cada um dos acadêmicos tinha um determinado papel para desenvolver e juntos garantiram o desenvolvimento da atividade. Assim, no primeiro encontro, o tema foi alimentação. Com acadêmicos de palhaços, um violão e a música “O que é que têm na comida de cada criança”, elas foram apresentando-se e dizendo de que se alimentam. Em seguida, a partir de uma mesa com frutas e verduras foi feita uma roda de conversa e a dinâmica “Monte seu sanduíche”, que tratou da importância da alimentação saudável. Após, a brincadeira “Caça ao Tesouro” garantiu uma premiação igual para todos os participantes. No segundo encontro o tema foi higiene, onde se trabalhou com atividades relacionadas à higiene pessoal de maneira lúdica e com palestras envolvendo teatro com fantoches, palhaço, vídeo, dinâmica de limpeza das mãos e a fala sobre higiene pessoal. Relacionou-se, também, a higiene da família de maneira que o conteúdo abordado pudesse ser compartilhado em casa com integrantes do núcleo familiar. No outro encontro, sobre higiene bucal, buscou-se a disponibilização de um escovódromo, escovas dentais e creme dental para que cada um pudesse, na prática, realizar a higiene da boca, a partir das orientações gerais. Assim, todos participaram e receberam as escovas disponibilizadas. Além disso, realizaram-se orientações para que as crianças e seus familiares, pelo menos uma vez ao ano, busquem atendimento odontológico na Estratégia de Saúde da Família. Por fim, a atividade de conhecimento do corpo foi através da visita ao Laboratório de Anatomia e ao Campus da Medicina da UFFS de Passo Fundo. Com o intuito de mostrar uma realidade um pouco diferente, preparou-se essa visita das séries finais do ensino fundamental que passaram a conhecer o que é uma universidade federal, buscando despertar o interesse em continuar os estudos e buscar novas perspectivas de vida. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Observou-se o crescente interesse dos alunos em participar e interagir com as atividades, potencializando os encontros e participando ativamente de todas as dinâmicas e atividades propostas, sendo que, a partir do segundo encontro começou a se observar uma mudança na postura em relação aos assuntos trabalhados, concluindo que as atividades estavam gerando mudanças nos participantes. A valorização, autoestima e novos horizontes aos alunos ficaram evidentes, corroborando com Leonardo Boff que afirma: “O que efetivamente conta não são as coisas que nos acontecem. Mas, sobretudo, a nossa reação frente a elas”. Isso porque o conteúdo puramente em si qualquer grupo de estudantes poderia ir à instituição e trabalhar, porém o olhar voltado mais para o ser humano, além de ensinar novos hábitos proporcionou, com certeza, a vontade de fazer uma nova história. A constatação convicta dessa mudança, mesmo sendo demasiadamente pequena diante da complexidade das dificuldades enfrentadas, foi fundamental, pois foram ouvidas dentro da escola várias manifestações de que a instituição era esquecida por se encontrar em zona rural. Ou seja, só o fato de trabalhar com eles já mostra o quanto são importantes para a universidade. Além disso, buscou-se ao máximo mostrar novos caminhos aos alunos, mostrar que existe muito mais do que eles estavam vendo. Exemplo disso foi um simples passeio de ônibus até o centro de Passo Fundo no dia da visita à UFFS e ao laboratório de anatomia. O brilho no olhar e o sorriso no rosto ficou explícito. Pequenos detalhes fizeram a diferença na vida desses adolescentes que certamente ficarão marcadas para toda a vida. Afinal, cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os pés pisam. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As vivências nos serviços de saúde, territórios e realidades das comunidades no Curso de Medicina são fundamentais, a fim de conhecer as diferentes realidades e desenvolver conhecimentos, habilidades e sensibilidades de interagir em grupos, comunidades, escolas de maneira que possa não apenas tratar doenças, mas buscar a promoção da saúde, a proteção e os cuidados para evitar o adoecimento das pessoas. O trabalho de valorização, autoestima e identificação das potencialidades de vida num universo de muitas vulnerabilidades e adversidades foram sementes lançadas e gerarão frutos de vida, saúde e dignidade.