Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O desejo do analista e os desafios do controle social na política de saúde municipal de Betim
Rhayane Maria Medeiros Ribeiro do Carmo, Paula Angela de Figueiredo e Paula, Marisa Queiroz Nogueira, Edgar Márcio de Freitas

Última alteração: 2016-02-22

Resumo


Apresentação: A pesquisa realizada pelo “Observatório da Saúde da PUCMG em Betim” em 2011 revelou que 90% dos trabalhadores sabiam sobre a existência, importância e função dos Conselhos Municipais de Saúde, contra 15% de usuários. Paradoxalmente 83% dos trabalhadores disseram não ter interesse em participar dos mesmos, enquanto 89% dos usuários responderam sim. Este dado desmente a crença de que as pessoas mudam sua forma de agir e pensar, através do acesso ao conhecimento. Desenvolvimento/Metodologia: Para investigar este paradoxo usamos de duas metodologias: 1) Uma entrevista semiestruturada segundo os parâmetros da “história oral”; 2) O trabalho com grupos baseado na proposta lacaniana do “cartéis”. A amostra foi composta por ex-conselheiros representantes de trabalhadores e usuários. Após transcrição do material utilizamos a análise de conteúdo, tendo como base de análise a Lei nº 8142/90 que regulamenta os Conselhos e as teorias de Lacan, Althusser e Foucault. Resultados: Nós descobrimos que há entre os trabalhadores a descrença de que sua participação seja capaz de fazer os conselhos exercerem o Controle Social, enquanto para os usuários é o contrário. Descobrimos também que as relações políticas entre as categorias no interior dos conselhos, reproduzem posições de submissão dos usuários as outras duas categorias representativas porque o saber trazido pelo usuário não ter valor. Os conselhos reproduzem as formas de atuação das câmaras legislativas, com representantes que não conseguem dialogar com suas bases, sem trabalhar em razão do interesse público. Nosso convite aos ex-conselheiros para que pudessem fazer uso de um espaço de fala livre onde fosse produzido um saber capaz de provocar mudanças subjetivas quanto à sua vitimização perante o Estado, não foi suficiente para motivá-los a participar do pequeno grupo. Considerações Finais: Isso nos mostrou que, para além dos cursos rotineiros de capacitação, deve-se investir durante a gestão dos Conselheiros neste tipo de trabalho em grupo, onde a palavra circule, apostando na subversão do poder em seu interior. Já sabemos que as capacitações investem apenas na oferta de conhecimentos técnicos e burocráticos, que são importantes, mas revelaram-se “saberes inócuos” para promover a mudança da posição subjetiva frente à submissão de uma categoria perante a outra. O conhecimento ensinado nas capacitações parece reforçar as relações de poder de uma classe sobre a outra, ou seja, não muda o micropoder exercido nessas relações, mantendo assim, as desigualdades existentes na sociedade em geral. Estamos com Foucault quando admitimos não ser possível mudar a sociedade, sem mudar o micropoder exercido nas relações entre as categorias representativas dos Conselhos.    

Palavras-chave


controle social; sus; conselho de saúde

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