Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Perfil e Concepções de Saúde dos preceptores de uma Residência Multiprofissional no Rio de Janeiro
Luciana da Conceição e Silva, Marcio Eduardo Brotto

Última alteração: 2016-03-07

Resumo


O tema deste trabalho é a formação em saúde na Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher do Instituto São Francisco de Assis (HESFA)/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Neste estudo mostraremos o resultado do estudo que fizemos com os preceptores. O objetivo geral é analisar o perfil das concepções, teóricas e ético-políticas, dos preceptores. A metodologia do estudo foi a pesquisa qualitativa e realizou-se a partir dos relatos dos preceptores do HESFA/UFRJ que pertencem às seguintes áreas de conhecimento: Serviço Social, Psicologia e Enfermagem. Segundo Minayo (2010), a relevância de dados qualitativos está na amostra de pelo menos 30% de um universo. Assim, do total de 41 preceptores, 12 foram entrevistados, dos quais: 4 assistentes sociais, 4 enfermeiros e 4 psicólogos. O critério de escolha foi o sorteio aleatório. Utilizou-se o Roteiro de Entrevista Semiestruturada e a Análise de Conteúdo Temática para a coleta e tratamento dos dados. O estudo está de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que traz diretrizes e normas regulamentadoras que devem ser cumpridas nos projetos de pesquisa envolvendo seres humanos. Observamos como dados da nossa pesquisa que a maioria dos preceptores é do sexo feminino (92%), contra 8% do Sexo masculino. Um dos traços estruturais do setor de serviços de saúde é a preponderância da força de trabalho feminino principalmente as que envolvem o cuidado, um fenômeno observado em todos os países. O processo de feminização é um aspecto a ser considerado neste trabalho, apesar de não ser aprofundado, tendo em vista que a questão do gênero, nos seus aspectos sociais e culturais, tais como a carga de trabalho exigido da mulher e a própria desvalorização do trabalho na saúde vêm sendo observados na área. A feminização da força de trabalho é acompanhada pela desvalorização econômica e social da atividade. Observou-se que a maioria dos profissionais preceptores possui mais de 40 anos de idade, trabalha há mais de 20 anos na instituição, está na Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher desde o início e tem vínculo estatutário com carga horária de 40 horas semanais. Quanto à categoria de análise sobre as referências teórico-metodológicas e posicionamento político-ideológico dos preceptores verificou-se que 50% dos preceptores citaram a concepção da Organização Mundial da Saúde e, assim, percebem a saúde como bem-estar físico, metal e social, distanciando-se dos determinantes assegurados na Constituição Brasileira de 1988. De qualquer forma, 25% deles citaram a concepção da Reforma Sanitária Brasileira (RBS) que abarca os determinantes concretos na saúde. No entanto, 17% têm concepção eclética citando várias teorias sobre saúde e 8% apontaram a saúde apenas como ausência de doença, concepção considerada mais defasada na saúde por ser mais voltada às compreensões biologicista e curativista. É fato a existência de diversas concepções de saúde. Neste trabalho, essas concepções foram de três tipos: a de modelo Flexneriano (biomédico) – que centra o estudo na doença individual e concretamente, no qual as relações sociais vivenciadas pela sociedade não contam para o ensino médico e não são consideradas no processo de saúde-doença; a da OMS – que coloca a saúde como um completo bem estar físico, mental, e social e não apenas ausência de doença. Este conceito é bastante avançado devido ao período histórico de pós-Segunda Guerra Mundial, contudo, ainda é um conceito idealista que coloca a saúde como algo a ser alcançado e a concepção do Movimento de RSB que apresenta um conceito ampliado de saúde e assegurado na Constituição Federal de 1988, tornando-se base teórico-metodológica da Saúde Coletiva brasileira. Quanto à visão que os preceptores têm sobre o SUS os dados revelam que 35% destacam a importância da Descentralização/Regionalização; 20% consideram o SUS Formal, mas que não se efetiva na realidade; 15% destacam um programa ou Política Atual (Clínica da Família, CAPS); 15% defendem, mas apontam dificuldades; outros 10% destacam o avanço em relação à Integralidade/Universalidade/Acessibilidade; ainda, 5% não acreditam na viabilidade do SUS. Procurou-se verificar como o SUS é visto pelos sujeitos que podem transformá-lo em realidade, tal como está definido nas legislações de saúde e diante dos desafios postos pela sociedade capitalista e as intervenções neoliberais. Uma postura de entendimento sobre a importância da construção do SUS e sua defesa crítica é essencial para o profissional formador. Referente à defesa e posicionamento do Projeto de Universidade que os preceptores defendem, verificou-se que 67% são favoráveis à Universidade Pública; 17% apontaram a qualidade da pública em relação à privada e 16% defenderam a Universidade Pública e Universal. Quando indagados sobre a privatização na saúde, 83% dos preceptores foram contrários à Gestão Privada na Universidade Pública, 9% se disseram Contra a gestão privada, mas criticam a estabilidade do servidor público e 8% disseram-se a favor da privatização em algumas instituições de saúde. Consideramos importante que esses profissionais defendam um projeto de Universidade Pública e sem a interferência da gestão privada, tal como os dados apresentados neste trabalho. Isto é muito relevante quanto ao tipo de referência de formação e crítica que a residência possibilitará. No que diz respeito ao conhecimento dos profissionais sobre a importância dos conselhos de política e de direitos na atenção à saúde da população, observou-se um distanciamento dos profissionais com esses espaços já que 42% nunca participaram dos conselhos e 25% não participam mais, apenas 33% participam ativamente. Quando perguntados se participam de outros espaços coletivos, 50% afirmam que não participam atualmente, mas já participaram; 42% nunca participaram e apenas 8% participam ativamente. Indagou-se sobre a importância dos espaços coletivos, fóruns e conselhos para a formação do Residente do SUS e a maioria (83%) afirmou que sim. Porém, 9% desconhecem esses espaços e ainda tiveram aqueles que criticaram esses espaços (8%). De qualquer forma, mesmo os que não incorporaram a participação nesses espaços em sua prática social na saúde, a maioria reconhece a relevância da inserção dos residentes nesses espaços políticos. Constatamos que há ainda a prevalência de uma concepção abstrata sobre saúde e falta de participação dos preceptores nos espaços coletivos e políticos do SUS, essa falta de participação pode ser parte e expressão da não apreensão do significado da concepção ampliada e política de saúde do Movimento de Reforma Sanitária apesar da alta qualificação dos preceptores (especialistas sendo alguns já mestres) e trabalhando em serviços de referência, a maioria em uma Universidade Federal e estando a mais de três anos envolvido na formação de um curso de residência multiprofissional. Fato este que faz perceber que a RMSM poderia potencializar sua possibilidade de espaço Educação Permanente para esses profissionais. Também se associa a constatação, acima descrita, aos processos de vida ligada à feminização do trabalho em saúde e exploração da força de trabalho feminino na sociedade o que pode afastá-las da participação motivadas pela falta de tempo e cultura de inserção da mulher nas atividades públicas, com isso também associa-se a pouca cultura de participação política do brasileiro. Diante do enfrentamento de uma política de contrarreformas, a afirmação de um projeto profissional e político-pedagógico voltado para uma formação crítica, reflexiva, teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política é de extrema importância para a formação dos profissionais e fortalecimento do SUS, levando em consideração os dilemas entre causalidade e teleologia na realidade capitalista e os projetos profissionais e societários.

Palavras-chave


Educação; Trabalho; Residência.

Referências


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