Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
NOTAS SOBRE A PRODUÇÃO COMPARTILHADA DE MATERIAIS EDUCATIVOS PARA A SENSIBILIZAÇÃO E REFLEXÃO EM DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
Sheila Soares de Assis, Tania Cremonini Araújo-Jorge

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: Neste trabalho apresentamos a trajetória de construção compartilhada dos produtos da oficina dialógica “Comunicação. Ciência e Saúde – Doenças Negligenciadas no Brasil sem Miséria”, quando um material educativo foi produzido com professores, profissionais da saúde e da assistência social. As atividades fazem parte do conjunto de ações delineadas no escopo de uma tese de doutorado em desenvolvimento. O projeto que abrange este ensaio insere-se em uma cooperação institucional que visa traçar soluções ou meios de mitigar os temas delineados no Plano Brasil sem Miséria, iniciado em 2011 pelo governo federal. Pressupondo a intersetorialidade como abordagem essencial para as doenças negligenciadas e a promoção da saúde, buscamos motivar a interlocução com profissionais dos campos da saúde, educação e assistência social, utilizando matérias jornalísticas local abordando três doenças negligenciadas e/ou seus contextos. As reportagens foram apresentadas e a discussão em grupo buscou trazer à tona as percepções dos participantes sobre o tema. Na sequência, foi proposta a realização de um telejornal composto de matérias fictícias a ser elaborado pelos participantes e a produção de imagens que retratassem o seu cotidiano. As imagens foram reunidas e fotografadas em sequência resultando em um material com potencial para animações do tipo stop motion. As experiências das oficinas foram então transformadas em um fascículo da série “Com Ciência e Arte na Escola e...” para a estratégia ser replicada e estimular o diálogo entre profissionais de diferentes setores sobre a temática e o contexto compartilhado. DESENVOLVIMENTO O estudo é qualitativo e apropriou-se das estratégias metodológicas de oficinas de trabalho e rodas de discussão. Foram realizadas duas oficinas dialógicas em julho de 2014, na cidade de Rio Branco (AC) no contexto de uma expedição “Fiocruz por um Brasil sem Miséria”. Na primeira edição participaram 24 profissionais de educação. Já na segunda, a atividade contou com 48 participantes ao todo, dos três setores em foco. A proposta, acima de tudo, almejou despertar a “noção de grupo”, discutir a abordagem atribuída pela mídia a três doenças negligenciadas e seus contextos. As doenças negligenciadas escolhidas para a discussão foram malária, dengue e leishmanioses, selecionadas devido à alta incidência na região de realização da atividade. Os vídeos com matérias jornalísticas foram obtidos a partir do acesso ao Youtube e ao site de emissoras locais. Após a discussão os professores foram convidados a produzir um telejornal local composto com matérias fictícias. Já os profissionais da saúde e de assistência social, por meio de desenhos, desenvolveram imagens que foram fotografadas e posteriormente ordenadas numa sequencia com potencial para animação do tipo stop motion, simplesmente sendo a sequência apresentada na tela do computador com uma velocidade suficiente para simular seu movimento. Estas estratégias foram escolhidas devido à capacidade que conservam de exprimir as percepções e visão das pessoas sobre o ambiente em que vivem, temas conflitosos e a reflexão sobre o seu papel e de seus pares frente a estas situações. Além disso, a produção em grupo resguarda o princípio de integração entre os diferentes atores de diversas áreas, mas que se intercruzam frente às questões trabalhadas. A partir das experiências foi produzido um fascículo da série “Com Ciência e Arte na Escola e...”. O material educativo tem como público os profissionais da área da saúde, educação e de outros campos que atuem como educadores. A série é disponibilizada online e apresenta proposta de atividades abertas, passiveis de intervenção e modificação pelos educadores interessados, de modo a poderem ser desenvolvidas em escolas e outros espaços educativos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: As duas oficinas atingiram o propósito de fomentar o diálogo sobre o tema das doenças negligenciadas, seu contexto e o cotidiano de trabalho dos profissionais. Trazer à tona essas percepções é importante à medida que os participantes podem exteriorizar suas reflexões e confrontar ideias com seus pares. Além disso, as atividades desenvolvidas foram cruciais para sensibilizar os atores para a importância de se trabalhar em grupo, principalmente no contexto das doenças negligenciadas. Na primeira oficina o grupo de docentes desenvolveu reportagens que abordaram o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), reciclagem de materiais, dengue, saúde e educação indígena. A diversidade de temas para a elaboração do telejornal foi uma escolha dos participantes e demonstra a flexibilidade da estratégia adotada e as possibilidades de articulação do tema das doenças negligenciadas com o cotidiano destes profissionais. Além do mais, a possibilidade dos participantes produzir um material audiovisual resulta na percepção de sua autonomia e seu papel como agente ativo na autoria de um recurso com potencial educativo. Já na segunda oficina, os profissionais de saúde e assistência social desenvolveram sequências de imagens que versaram sobre três temas: 1) papel do agente comunitário de saúde no controle da dengue; 2) abordagem social e saúde e; 3) controle da dengue. As imagens produzidas refletiram o cotidiano dos profissionais, seus desafios e conquistas. Tal experiência é essencial por representar um momento de aprendizagem a partir da reflexão sobre a prática e o cotidiano. Com base nas atividades vivenciadas junto aos profissionais da área da saúde, assistência social e educação, foi elaborado um volume da série de fascículos “Com Ciência e Arte na Escola e...”. O material tem potencial como recurso de apoio às atividades educativas que tratem do tema. Embora no fascículo sejam descritos de forma detalhada os passos da oficina, é importante ressaltar que este não se caracteriza como um material prescritivo. Pelo contrário, as ações a serem desenvolvidas podem e devem ser pensadas de forma crítica e localmente contextualizadas, e o conteúdo estimula que o educador adapte a proposta a sua realidade e ao seu grupo. A proposta de produzir materiais em conjunto com os profissionais para os quais as atividades são destinadas, reflete a preocupação de que o recurso educativo potencialmente adotado por este grupo em seus processos educativos tenha sentido e seja significativo para os atores envolvidos. Deste modo, pretende-se ultrapassar o modelo verticalizado de elaboração de instrumentos educativos que frequentemente é criticado. O conjunto de recursos educativos produzido comprova que é possível uma elaboração de forma compartilhada, ao mesmo tempo frutos e produto destinado aos processos educativos em saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As doenças negligenciadas acometem cerca de um bilhão de pessoas em todo mundo, sendo que sua prevenção e controle ultrapassa o setor da saúde. Assim sendo, as ações intersetoriais são reconhecidamente importantes e os profissionais da saúde, educação e assistência social não podem ser negligenciados. Estes devem ser pensados não só como mediadores de ações educativas, mas também como autores na construção e desenvolvimento de materiais e estratégias educativas. Através das experiências relatadas foi possível desenvolver uma proposta que compreende a reflexão, aprendizado e estimulo ao trabalho coletivo. Estes aspectos são de suma importância em um contexto como o das doenças negligenciadas, associadas à pobreza, e em que se visa à realização de ações em nível intersetorial como, por exemplo, no âmbito do Programa Saúde na Escola. Ainda em tempo, destaca-se a participação ativa dos envolvidos como sujeitos produtores de reflexão e ação sobre a sua prática.

Palavras-chave


Doenças negligenciadas, intersetorialidade, produção compartilhada de material educativo