Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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NOVAS PRÁTICAS NO ESTÁGIO EM SAÚDE DA COMUNIDADE NO CURSO DE MEDICINA DA UFMS
Joaquim Dias da Mota Longo, Ana Rita Barbieri, Luiza Helena de Oliveira Cazola, Rafael Garanhani

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: Há cinco anos, após a mudança do Projeto Pedagógico do Curso de Medicina, aprovado pela Resolução COEG nº 122, de julho de 2010 e alterado pela Resolução COEG nº 178, de 1 de dezembro de 2010 em decorrência de proposições do Ministério da Educação e da Saúde para aproximar o ensino  médico aos cenários da prática da atenção básica à saúde,  o Estágio em Saúde da Comunidade I, do quinto ano do curso de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul foi contemplado com um aumento significativo na carga horária. Com isso os alunos passaram a permanecer 360 horas em atividades práticas, com aportes teóricos, distribuídas em nove semanas, tendo como princípio a Estratégia da Saúde da Família. Isso exigiu reestruturação da disciplina e novas formas de inserção nos campos de prática. Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência docente na reinserção acadêmica no serviço e comunidade. EXPERIÊNCIA: A reorganização do estágio foi iniciada em 2012 com um planejamento que envolveu: (1) a negociação junto à Secretaria de Saúde de Campo Grande (SESAU); e (2) conteúdos e metodologias inovadoras. No planejamento da disciplina ficou definido que os acadêmicos precisariam desenvolver atividades em conjunto com os profissionais sendo corresponsáveis pela saúde da população. A partir do planejamento, com apoio teórico, os alunos são orientados a ter um olhar ampliado sobre a saúde da coletividade, contribuindo para a melhoria de um indicador de saúde e, sob o ponto de vista do indivíduo, precisam fazer a assistência integral, em forma de estudo de caso prático, a um indivíduo doente. Os conteúdos selecionados são voltados à atenção primária e sua organização, modelo assistencial e clínica ampliada com enfoque integral baseada em evidências. São abordados: Política Nacional da Atenção Primária, Redes de Atenção à Saúde, Ferramentas de Abordagem Familiar,  Indicadores de Saúde,  protocolos e manuais  do Ministério da Saúde voltados à atenção primária, com sua aplicação. Alguns assuntos recebem maior ênfase devido à sua abordagem restrita na formação como: saúde do idoso, saúde mental, violência e vulnerabilidade, sempre com ênfase na atenção primária. Também, as aulas teóricas são ministradas como aulas expositivas dialogadas com exercícios e atividades em sala de aula, seminários com a visualização dos serviços existentes e sua abrangência no município e busca de referencial teórico. Nas atividades práticas, os acadêmicos realizam o atendimento médico por meio de consultas integrais, com participação de outros profissionais, incluindo os presentes no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) nas regiões por ele cobertas. Além das atividades clínicas, devem conhecer a realidade e espaço geográfico local, realizar ou acompanhar atividades desenvolvidas na UESF na sala de vacinas, pré-consulta, curativos, inalação, odontologia, farmácia, além de realizar atividades educativas, contribuir na educação permanente e realizar visitas domiciliares com todos os profissionais que as realizam. Em parceria com a SESAU foram identificadas Unidades de Estratégia da Saúde da Família (UESF) e médicos que aceitassem o papel de preceptores dos acadêmicos, sem nenhuma forma de incentivo financeiro. O início foi bastante difícil. Eram necessários ao menos 6 preceptores para que os alunos pudessem ser distribuídos em duplas. RESULTADOS: Do início do processo até setembro de 2015, passaram pela disciplina 240 alunos distribuídos em 24 grupos, os quais experimentaram essa nova metodologia que permitiu que os mesmos incorporassem novas atitudes a partir de uma vivencia participativa em atenção primária. No que diz respeito aos indicadores de saúde, até o momento os acadêmicos deixaram como contribuição, 120 projetos de intervenção, colaborando para modificar a situação epidemiológica local com atuação em diversos campos como: coleta de colpocitologia oncótica; avaliação integral dos hipertensos e diabéticos com inspeção e exame de pés diabéticos e exames laboratoriais em conformidade com protocolos; investigação de doença renal em diabéticos; avaliação integral de idosos, desenvolvimento do Escore de Framinghan em diversas UESF; educação e formação de equipe para urgências pré-hospitalares; educação em saúde para diferentes grupos; dentre outros. Foram conduzidos aproximadamente 96 estudos de caso, com a realização de diagnósticos e intervenções importantes em pacientes com câncer, síndromes, hanseníase na sua forma multibacilar em estágios avançados, sífilis gestacional de difícil tratamento, acompanhamento de pacientes diabéticos e hipertensos com pouca capacidade de aderir ao tratamento, hepatites B e C, tuberculose dentre outros, enfatizando que independentemente da gravidade do caso, todos pacientes precisam ser cuidados no seu domicílio. Em todos os acompanhamentos, foi priorizado o tratamento, a redução do dano com a melhoria da qualidade de vida. IMPACTO NA FORMAÇÃO: Essa melhoria de qualidade no processo de ensino é registrada anualmente no Relatório de Avaliação dos Estágios Obrigatórios, publicado pela Famed/UFMS. Dados do Relatório de 2015 afirmam que, em geral 90% dos alunos avaliam o Estágio Obrigatório em Saúde da Comunidade I como Bom/Muito Bom, índice acima do resultado geral, que é de 61,02%. Atribuem tal nota ao empenho dos docentes e dos preceptores. Os alunos afirmam que houve contato maior com a população e a possibilidade de ver mais de perto a realidade das pessoas que são atendidas na saúde pública com visitas domiciliares que ampliam a capacidade de enxergar a realidade aprimorando a formação e entendimento de como lidar com o paciente. Também os alunos apontam a importância dos preceptores da rede de atenção, sendo que 90,91% afirmam que os mesmos promovem um atendimento humanizado, com construção de vínculo singularizado, longitudinalidade do cuidado direcionado ao benefício do paciente e família e orientado à integralidade do cuidado à saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O estágio ainda apresenta limites, muito deles voltados à dificuldade de manter os preceptores que têm alta rotatividade na SESAU devido a contratos temporários.  Também, a UFMS não efetua pagamento aos preceptores diferentes de outras instituições que pagam bolsas e outros incentivos.  No entanto, constatamos que é possível desenvolver o aprendizado no qual o aluno sente, pratica, reflete e reformula a sua prática em uma espiral ascendente com ganhos de competências a partir das atitudes e habilidades desenvolvidas. É possível constatar aprendizado quanto à longitudinalidade do cuidado, compreensão da determinação social, econômica e da escolaridade sobre o adoecimento e sobre o tratamento das doenças e condições crônicas, compreensão da articulação do cuidado em redes assistenciais, capacidade resolutiva da atenção primária quando bem feita e o êxito do trabalho em equipe. Constata-se que, a nova organização do Estágio em Saúde da Comunidade I promoveu a articulação real entre o ensino e a prática em uma parceria na qual todos ganham: alunos, serviço e comunidade.

Palavras-chave


Educação; Medicina; Integração

Referências


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