Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
A questão do processo de trabalho dos profissionais da rede de saúde voltada para os usuários de álcool e drogas
Lirys Figueiredo Cedro, Ândrea Cardoso de Souza, Ana Lúcia Abrahão

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


A realização deste estudo deve-se à questão da necessidade de se construírem  redes de atenção conforme o percurso do usuário e não o contrário.  Apesar de existirem vários serviços na rede de saúde, o grande problema é a falta de integração e os diálogos – institucional e interinstitucionais – que dificultam o cuidado ao usuário de álcool e outras drogas. A escolha dessa temática deve-se a minha trajetória  na área de saúde mental desde a graduação: quando fui acadêmico bolsista do Programa de  Estágio Integrado em Saúde Mental no CAPS II Ernesto Nazaré, momento em que pude cuidar de alguns pacientes  que apresentavam problemas relacionados ao uso abusivo de drogas. Mesmo não sendo um CAPS AD,  havia usuários que apresentavam além da psicose, a comorbidade do uso abusivo de drogas de modo que para obtê-la faziam de tudo, inclusive trocar os próprios eletrodomésticos pela droga, dentre outras coisas; seguido da Residência Multiprofissional em Saúde Mental - UFRJ-IPUB – Universidade Federal do Rio de Janeiro - Instituto de Psiquiatria - UFRJ-IPUB (2011-2013) -  em que tive uma experiência com usuários de álcool e outras drogas do PROJAD. Projeto de álcool e drogas. Esses serviços extra-hospitalares têm o papel de contribuir para assegurar os direitos e proteção voltada para usuários do âmbito da saúde mental, inclusive os usuários de álcool e outras drogas, mas essa atuação no território é muito recente, apesar da luta intensa por transformações no campo da saúde  mental há mais de vinte anos. A rede de atenção sobre drogas pode ser entendida como uma rede de assistência centrada na atenção comunitária atrelada à rede de serviços de saúde e sociais que tenha ênfase na atenção  e reinserção social dos seus usuários, sempre considerando que a oferta de cuidados à pessoas que apresentem problemas devido ao uso de álcool e outras drogas deve ser baseada em serviços extra-hospitalares de atenção psicossocial. (COSTA, 2015). Conforme Abrahão (2013), a rede pública de serviços de saúde de Niterói compromete-se com o pacto pela vida, reconhecendo a parceria estabelecida com a Universidade Federal Fluminense - UFF. Neste sentido, a atuação em redes de atenção à saúde, orienta a organização do cuidado à saúde e forma o profissional. Optamos por realizar uma pesquisa a respeito da rede de cuidados aos usuários de álcool e outras drogas. Objetivo:  Identificar  o que facilita o acesso e o atendimento integral destes mesmos usuários aos serviços, bem como o que dificulta. É relevante afirmar que facilitar este acesso aos usuários de álcool e outras drogas é uma forma de cuidado. Sendo assim, consideramos ampliar o acesso aos usuários de álcool e outras drogas por meio de redes é uma forma de cuidado. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo  intervenção. A intervenção está relacionada ao desenvolvimento e/ou utilização de analisadores, conceito-ferramenta formulado na trajetória do institucionalismo francês, são catalizadores de sentido, desnaturalizando o existente e suas condições e fazendo a análise. O conceito de instituição também sofre mudanças, não se identificando com o de estabelecimento, ganhando um sentido dinâmico, já que remete a um processo de produção constante de novos modos de existir, de configuração das práticas sociais (Rodrigues, 1993, Barros, 1994). A análise das implicações com as instituições em jogo nas situações não permite a neutralidade do analista/pesquisador, rompendo com as barreiras entre sujeito que conhece e objeto a ser conhecido (AGUIAR, 2003). Este projeto de pesquisa está inserido na linha de pesquisa Cuidado em seu Contexto sociocultural no Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde derivado do projeto cujas áreas de ação são: Saúde Coletiva; Política de Saúde; Formação em Saúde e está vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Gestão e Trabalho em Saúde (NUPGES) financiado pelo CNPq. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética, conforme a portaria 466/12, nº 209.321. Em relação à coleta de dados, realizou-se entrevistas semiestruturadas com a participação de profissionais da rede de saúde de Niterói, inclusive preceptores de PET,  articuladores da rede no território. Para definição dos participantes do estudo foram os seguintes critérios de inclusão: profissionais da rede de atenção à saúde do município o que abrange  articuladores da rede no território, preceptores de PET,  profissionais da atenção básica e atenção psicossocial, bem como alguns com experiência no trabalho em consultórios na rua. Critérios de exclusão:  Graduandos, residentes médicos, estagiários. Resultados: Com a realização das  entrevistas, identificamos que as barreiras de acesso, segundo os participantes da pesquisa, incluem a falta de infraestrutura, a formação deficitária de profissionais na área de saúde mental - que abrange a questão de álcool e drogas - para lidarem com situações concernentes a este processo de trabalho; a cultura familiar que ainda recorre à internação como lugar primordial e mais eficaz para tratamento das questões de álcool e drogas mesmo com a existência já de serviços extra-hospitalares cujo cuidado costuma ser extramuro, ou seja, também ocorre no território; e vínculo trabalhista frágil dos profissionais de saúde. Já a vantagem, é que apesar de toda precariedade, existe um trabalho em rede devido à formação dos profissionais que estavam imersos no movimento de reforma psiquiátrica que valorizava ao extremo o trabalho em rede de saúde e intersetorial, outra vantagem é poder contar com a rede informal. Considerações finais: Desta forma, ao identificarem as fragilidades e também as facilidades no acesso dos usuários aos serviços isto de alguma forma contribui para reflexão crítica dos profissionais no que concerne ao próprio processo de trabalho de forma a viabilizar melhorias seja por meio de articulação com autoridades superiores e mesmo pela rede informal que valoriza o circuito do usuário na rede, incluindo as pessoas que fazem parte deste circuito como agentes de cuidado, não se restringindo apenas aos profissionais de saúde, Entendemos que o cuidado a que nos referimos remete a algo que não se restringe à execução de protocolos  e procedimentos e  abrange o acolhimento, a escuta, a rede de conversações necessárias a um agir em saúde mais eficiente. 

Palavras-chave


Saúde; Assistência; Cuidado

Referências


COSTA, Pedro Henrique Antunes da et al. Desatando a trama das redes assistenciais sobre drogas: uma revisão narrativa da literatura.. Ciência e saúde coletiva , v 20, nº 2, fevereiro, 2015. Rede de cuidados em saúde mental.

ABRAHÃO, Ana Lucia ; SOUZA, Ândrea Cardoso de ; ABUD, S. ; SENNA, Marcos Antônio Albuquerque de ; CAMUZI, R. C. ; FERNANDES, F. L. F. . Redes de atenção articulando ensino e serviço na saúde: estudo descritivo. Online Brazilian Journal of Nursing, v. 12, p. 686-689, 2013.

AGUIAR, Katia Faria de. ROCHA, Marisa Lopes da; Pesquisa-Intervenção e a Produção de Novas Análises. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 23, n. 4 Brasília dez. 2003.