Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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OS DESAFIOS QUE PERMEIAM A PRÁTICA DOCENTE EM ENFERMAGEM
Edlamar Kátia Adamy, Carine Vendruscolo, Jean Wilian Bender, Josiane Rodrigues França, Karine Pereira Ribeiro, André Lucas Maffissoni, Iselda Pereira, Alcione Pozzebon

Última alteração: 2016-04-05

Resumo


Introdução: O enfermeiro docente tende a deparar-se com inúmeros desafios no processo de ensino de graduação superior, pois sua formação é mais voltada para a assistência do que para a atuação na docência. Freire (2005) afirma que os homens são seres inacabados, porém, também são seres históricos e, como tal, têm a consciência de tal inconclusão. Nessa perspectiva, considera-se que o docente enfermeiro deve estar sempre em busca do novo, para auxiliar os acadêmicos no processo de construção do conhecimento. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) enfatizam características consideradas essenciais para o perfil do egresso/profissional enfermeiro, dentre as quais a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para o exercício da enfermagem, com base em um rigor científico e intelectual, sempre pautado em princípios éticos (BRASIL, 2001). Isso reforça a responsabilidade dos enfermeiros docentes que devem estar preparados para encarar a sociedade globalizada, em constante avanço tecnológico, com vistas ao fomento do pensar crítico, ancorado em competências éticas e de cidadania, autonomia e capacidade para resolver problemas. Assim, o docente deve saber que seu papel não é o de transmitir conhecimento, mas de envolver-se em um universo no qual o cuidar significa aprender e ensinar, estando em constante reflexão sobre seus saberes e modos de ser enfermeiro docente (SEBOLD; CARRARO, 2013). Freire (2009) também problematiza o processo de ensinar como uma prática que não se resume em transferir conhecimento, mas pressupõe reflexão crítica, exige pesquisa, conhecimento, respeito, autonomia, bom senso, curiosidade, generosidade, humildade, entre outras competências. Objetivo: Identificar desafios que permeiam as práticas do docente/enfermeiro em duas Universidades Públicas do Oeste de Santa Catarina, com cursos de graduação em Enfermagem. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, exploratório e com abordagem qualitativa. Para a realização da pesquisa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os participantes, sendo quatro docentes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e seis docentes da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), os quais atenderam critérios de inclusão e exclusão sendo estes: atuarem há mais de dois anos nas instituições envolvidas, ter experiência em docência na enfermagem há mais de cinco anos, além de mostrarem interesse para participar da entrevista. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, e analisadas a partir do método proposto por Minayo (201). O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da UDESC, sendo aprovado sob parecer nº 953.083.  Resultados: Observou-se que os principais desafios que permeiam a atividade como professor enfermeiro tem a ver com o exercício da docência e sua relação direta com a formação pedagógica deficitária dos enfermeiros, sobretudo quanto ao desconhecimento de abordagens metodológicas mais ativas, a serem aplicadas no processo de ensino-aprendizagem. Contudo, nota-se que os professores conhecem a importância da formação pedagógica para exercer essa função, além de considerarem a necessidade de estar em permanente processo de construção do saber, para propiciar ao acadêmico uma formação mais ampla e qualificada. Nesse sentido, a Educação Permanente em Saúde (EPS) foi identificada como elemento de instrumentalização do docente enfermeiro, num processo de aprimoramento contínuo, pautado nas dificuldades encontradas no dia a dia, tanto nas atividades em sala de aula, quanto nas práticas em diferentes cenários que fazem parte da formação em enfermagem. Para Waterkemper e Prado (2011), as metodologias ativas favorecem o processo de educação, auxiliam no processo onde o acadêmico cria sua própria opinião, contribuindo assim, para a construção do ensino livre de opressão e o desenvolvimento de um ser mais crítico e reflexivo. Nessa direção, auxiliam o professor, pois o mesmo passa a ser protagonista do ensino, intermediando e norteando o aprender do acadêmico. Emerge a necessidade de mudança e transformação no contexto educacional, na perspectiva de que a educação permanente dos docentes proporciona a compreensão para planejar, analisar, implementar e avaliar a prática centrada na compreensão dos estudantes, organizando currículos que estimulem a exploração e investigação das ideias centrais da disciplina, permitindo que os alunos ampliem e apliquem o que sabem (GEMIGNANI, 2012). Freire (2011) pondera que o desenvolvimento da atitude crítica, consciência que faz com que o sujeito transforme a realidade, permite que esses temporalizem espaços geográficos e construam a história pela sua própria atividade criadora. Nesse sentido, elementos fundamentais a atividade docente são a comunicação e o diálogo, como fontes de saber e de ensinar. Ainda, para Freire (2005), ensinar pressupõe a reflexão crítica sobre a prática, o que configura a “práxis” (ação-reflexão-ação) como possibilidade transformadora da realidade, como fonte de conhecimento reflexivo e de criação que os seres humanos realizam de forma dialógica entre si, e midiatizados pelo mundo. É nessa direção que o docente, para o alcance da prática reflexiva, deve ser capaz de organizar uma pedagogia construtivista, criar situações de aprendizagem, corrigir por intermédio do diálogo estabelecido com a realidade, levando o futuro profissional ao desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia (FARIA, CASAGRANDE, 2004).  Considerações finais: O papel do docente enfermeiro na formação dos futuros profissionais de enfermagem vai além do conhecimento técnico-científico, perpassando por uma postura ética e humanitária, que sirva de exemplo aos educandos, além de habilidades metodológicas que facilitem a construção e apropriação do saber. Isso será possível quando o professor reconhecer a incompletude do saber profissional, o que exige uma atitude humilde, pautada na dialogicidade e na liberdade de expressão, a partir da compreensão do educando como ser único. Cumpre destacar a relevância desses achados para a reflexão sobre a importância de processos educativos orientados por uma pedagogia crítica e libertadora, no âmbito da enfermagem em Santa Catarina, além de trazer à tona o importante debate sobre os desafios que permeiam a prática do enfermeiro docente. Neste contexto, destaca-se a necessidade do envolvimento institucional no planejamento e oferta de programas de desenvolvimento docente que desperte o desejo da mudança e que os ajude a caminhar no planejamento e aplicação de novos arranjos metodológicos. O processo de capacitação de docentes universitários de forma participativa e dialógica, mostra-se eficaz visando a (trans)formação de suas práticas de ensinagem (MENDONÇA et al., 2015). No entanto, na busca de seu constante aperfeiçoamento, o professor enfermeiro precisa preocupar-se com a própria formação de maneira continua, para que possa contribuir com os educandos – futuros profissionais enfermeiros – na descoberta de conhecimentos que os habilitem a serem cidadãos autônomos, críticos e reflexivos.