Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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REFLEXÕES ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE NA SAÚDE
Edlamar Kátia Adamy, Simone Cristine Nothaft, Iselda Pereira, Carine Vendruscolo

Última alteração: 2016-04-05

Resumo


Introdução: Trata-se da vivência de um grupo de docentes de uma universidade pública do Estado de Santa Catarina e as reflexões acerca da sua prática na área da formação em saúde, durante o Curso de Especialização Lato sensu em Docência na Saúde. A educação apesar de constituir-se na coletividade, é um processo individual e intransferível. Aos atores do processo cabe a percepção inequívoca de que cada qual tem seu papel e sua função específica, cabe a docentes e estudantes construir e aproximar os saberes em tempo integral. Partindo deste pressuposto de que os homens educam-se a partir das experiências vivenciadas no cotidiano acadêmico, é possível uma reflexão distinta sobre a ensinagem: o ensino não deve partir do pressuposto de uma verdade unilateral, ou seja, elaborada pelo educador, trazendo pronto, do seu mundo, o seu saber, o seu modelo de ensino, como saberes absolutos e inquestionáveis. Mas, ao contrário, o ensino deve estar embasado na cultura e valores dos educandos, a partir dos conhecimentos que os alunos trazem consigo, para sua superação e apropriação de novos saberes. Para o autor, o diálogo consiste em uma relação horizontal e não vertical entre as pessoas implicadas no processo. É nessa direção que o docente, na graduação, para o alcance da prática reflexiva, deve ser capaz de organizar uma pedagogia construtivista, criar situações de aprendizagem que considerem o aluno como autor de sua própria história, corrigi-lo por intermédio do diálogo estabelecido com a realidade, levando o futuro profissional ao desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia (FARIA, CASAGRANDE, 2004). Desenvolvimento: Durante a realização das atividades propostas pelo curso de especialização fomos instigadas a refletir acerca da prática docente, movidas por atitudes protagonistas, motivadas pela escuta dos sujeitos, questionando os saberes vigentes e a imersão em práticas que exigem a experimentação e a reflexão. Esse movimento exigiu atitude e responsabilidade para participar e interagir no processo de aprendizagem. Fomos estimuladas a pensar sobre nosso próprio pensamento, revisitando valores e constructos pessoais num processo de reflexão individual e coletivo. Emergiu a necessidade de pensar a docência como um propósito de vida, construído ao longo do tempo. Como dizia Paulo Freire: “Ninguém começa a ser professor numa certa terça-feira às quatro horas da tarde... Ninguém nasce professor ou marcado para ser professor. A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática” (FREIRE, 1991, p.58) Corroborando com essa percepção, considera-se a reflexão sobre a ação docente uma constante construção, nunca se percebendo acabada, mas em permanente mudança, oportunizando um processo pedagógico que articule a teoria e a prática, inovando na maneira como ensinamos e aprendemos. Como protagonistas do processo de ensino, conseguimos identificar dificuldade e potencialidades no percurso do desenvolvimento do projeto, nos permitindo refletir sobre as atividades desenvolvidas no cotidiano: estágios, aulas teóricas, aula práticas, produção científica e intelectual; e até mesmo as atividades da vida pessoal. Para haver competências na prática docente, são fundamentais as capacidades cognitivas e relacionais, pois alicerçam os conhecimentos necessários ao desenvolvimento de uma dada vivência, ação ou exercício profissional específico. Contudo, é difícil identificar, dentre as competências docentes, aquelas que são separáveis de sua pessoa, já que toda a história social do sujeito é formadora (FARIA; CASAGRANDE, 2004). A complexidade das relações e seus reflexos, e a interdependência de todas as esferas sociais das quais o ser humano participa, exige uma postura diferenciada, frente ao paradigma que vivenciamos. Considera-se o ser humano como sujeito de sua própria história, que a constrói de forma coletiva, a partir de suas relações com o meio que contextualiza, determinando e sendo determinado pela sua historicidade. Nesse contexto, faz-se necessário e urgente a ruptura paradigmática estabelecida entre os sujeitos que produzem o conhecimento e que, por vezes, este conhecimento é compreendido como verdade absoluta, e reproduzido de forma inquestionável sem a devida reflexão. Segundo Morin (2002), a missão da ciência não é mais afastar a desordem de suas teorias, mas estudá-la. Não é mais abolir a ideia de organização, mas concebê-la e introduzi-la para englobar disciplinas parciais. Eis porque um novo paradigma esteja nascendo. Reside também nesse contexto, o motivo urgente de constituirmos redes interdependentes e interconexas para a consolidação da formação para o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua missão, como uma possibilidade viável por meio da utilização do quadrilátero para a formação (ensino, gestão, controle social e atenção), considerando o ensino, gestão setorial, práticas de atenção e controle social (CECCIM; FAUERWEKER, 2004). É possível promover uma ruptura de um paradigma estabelecido e tido como verdadeiro, perpassando pelo exercício intenso e profundo de questionar a realidade posta, a necessidade de sua manutenção e os mecanismos de sua prospecção? Cabe, em especial à Equipe Técnica e Docente, que “forma os formadores” e profissionais que atuam junto ao SUS o convite para revisitar conceitos antigo, (re)significar entendimentos, propor novas possibilidades de entendimento e atuação para a experimentação de novos conceitos e concepções de ensino, gestão setorial, práticas de atenção e controle social. Segundo Freire (2005), nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber, ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. No contexto da formação, envolver o corpo docente, técnicos administrativos, educandos e a comunidade, torna-se uma necessidade premente para a promoção da integração entre ensino e serviço, com o desenvolvimento da temática como conteúdo transversal, porém organizado e presente nos planos de desenvolvimento institucional, político-pedagógico, de ensino e, consequentemente, nos planos de aula, com a intencionalidade de reflexão e apropriação do Sistema Único Saúde. A ação docente que parte do pressuposto dos sujeitos como partícipes do processo oportuniza mais dinamismo a construção do conhecimento e permite vivenciar experiências pontuais dos conceitos apreendidos no contexto acadêmico, permitindo a transposição de conhecimentos para outros cenários, similares ou não. Considerações finais: Esse movimento desacomodou e nos fez refletir acerca da aprendizagem significativa despertando-nos para (re)significar nossa práxis pedagógica, nos espaços de aprendizagem que não a sala de aula, bem como, nossa ação nos contextos profissionais com vistas a melhorar nosso desempenho. Neste sentido, tendo em vista as concepções dos usuários, do profissional desejado pelo SUS e dos docentes formadores na saúde, podemos dizer que os profissionais, os usuários e os docentes querem assistência a saúde de qualidade, atendimento às necessidades da população, saúde integral, atendimento com integralidade, condições de trabalho, número suficiente de profissionais para atender a demanda de usuários, participação social efetiva, escuta ativa, formação articulada em rede, políticas de saúde efetivas possíveis de serem implantadas e implementadas, gestão do cuidado. E isso será possível com a atuação da comunidade, do profissional e do docente com comprometimento, participação efetiva de todos os atores, enfrentando as mudanças, mudança de hábitos, entendendo as culturas, trabalhando num sistema de redes, transversalidade na formação, docência comprometida e articulada nesta perspectiva, cuidado integral, diálogo e ética. Consideramos que uma das principais atribuições das instituições que se predispõe a trabalhar com a educação é a transformação própria ser humano, e, enquanto docente, a necessidade de formarmos profissionais pensando em ações que transcendam os modelos tradicionais de educação, preconizando atividades educativas inseridas num contexto social, político, ético que contribua com a construção de sistemas de saúde que atendam os usuários.