Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O Painel de Bordo como ferramenta de gestão na Atenção Primária à Saúde no município de Fortaleza
Carine de Oliveira Franco Morais, Selma Antunes Nunes Diniz, Fabio Renan de Lucia, Lucia Carvalho Cidrao

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Com o advento do processo de estruturação das Redes de Atenção à Saúde no município de Fortaleza, em 2013, que teve por objetivo reorganizar e integrar os serviços de saúde, observou-se a necessidade de mensurar em dados quantitativos a aplicabilidade do Mapa Estratégico (ME) da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, que pontua as áreas prioritárias de ação. Dessa forma, lançou-se mão de uma ferramenta chamada Painel de Bordo para o monitoramento das ações desenvolvidas nas áreas prioritárias de atuação definidas previamente na construção da missão, visão, valores e objetivos da instituição. O Painel de Bordo é uma ferramenta disponível aos gestores locais das Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) que possibilita a medição de desempenho cotidiano das equipes, a partir das metas, com capacidade de programar ações de prevenção ou correção, permitindo a extração de relatórios para tomada de decisão, buscando a melhoria contínua dos resultados em saúde. É um método de coleta de dados quantitativos e de análise qualitativa destes, que tem seu fundamento teórico no Balanced Scorecard, que é um modelo de gestão criado por David P. Norton, do Instituto Nolan, Norton e Company, e por Robert S. Kaplan, da Harvard Business Scholl. Tal método tem como cerne a estratégia organizacional voltada para o desenvolvimento de objetivos de ações consideradas essenciais para a existência e atuação da organização. É a definição dos objetivos de uma instituição que possibilita o delineamento do ME, e este serve como instrumento norteador dos planos operacionais, portanto, o ME é a representação gráfica das conexões entre as ações traçadas no ambiente organizacional. (KAPLAN & amp; NORTON, 2004). No contexto de ação da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, a construção do ME firmou o compromisso com a sociedade de reduzir a mortalidade materna e infantil, reduzir a mortalidade prematura por doenças cardiovasculares, reduzir a mortalidade por causas externas, reduzir a mortalidade por câncer (mama e colo uterino) e reduzir a mortalidade por dengue. Com fins didáticos e estratégicos, o Painel de Bordo está contemplando inicialmente, 3 dos 5 objetivos estratégicos referidos: redução da mortalidade materna e infantil, redução da mortalidade prematura por doenças cardiovasculares e redução da mortalidade por câncer (mama e colo uterino), totalizando em 13 indicadores. A coleta de dados se dá por meio dos relatórios de atendimentos gerados pelo prontuário eletrônico, cujo acesso é facultado ao gestor local das UAPS. Com o advento das novas tecnologias e com a agilidade com que as informações transitam hoje através da Internet o prontuário de papel ficou obsoleto. Tudo isso fez surgir a necessidade de consolidar as informações adquiridas acerca de determinado indivíduo no momento das consultas por parte de profissionais da saúde em uma ferramenta digital, então foi criado o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP). Considerando a definição do Institute of Medicine (apud MARIN & amp; NETO, 2003), o PEP é um registro eletrônico que reside em um sistema especificamente projetado para apoiar os usuários fornecendo acesso a um conjunto de dados corretos, alertas, sistemas de apoio à decisão e outros recursos, como links para bases de conhecimento médico. Em Fortaleza, o modelo de prontuário utilizado nas UAPS é o desenvolvido pela empresa FastMedic. A base de informações no PEP é o cadastro do paciente. O cadastro na Atenção Primária tem como objetivo, além de fornecer informações atualizadas sobre o indivíduo, fazer a correlação deste com o seu domicílio, uma vez que a atuação da Equipe de Saúde da Família (ESF) fundamenta-se na territorialização que divide a área de abrangência de uma unidade de saúde em microáreas que ficam sob a responsabilidade direta de um Agente Comunitário de Saúde (ACS), que obedece ao critério de ser responsável por um número de pessoas preconizado pelo Ministério da Saúde, máximo de 750 pessoas por ACS e 4.000 por Equipe de Saúde da Família (DAB/MS).  Desse modo, em cada atendimento realizado a um usuário em uma UAPS, o PEP é alimentado pelo profissional que está prestando a assistência. Os dados informados geram um relatório, que está sendo utilizado pelo gestor da UAPS para alimentar os dados solicitados na planilha do Painel de Bordo. O Painel de Bordo elenca, para cada objetivo estratégico, uma série de dados a serem coletados no PEP dentre eles: número de pessoas cadastradas, número de consultas agendadas e realizadas, número de pessoas acompanhadas por cada programa estratégico (Programa de Saúde Integral da Mulher, Programa de Saúde da Criança, Programa de Saúde do Hipertenso/Diabético) e número de coletas de exames citopatológicos. Para definir os objetivos estratégicos a serem utilizados na construção do Painel de Bordo, bem como os indicadores relevantes que a planilha deveria contemplar, foram realizadas oficinas, reuniões e pactuações entre as áreas técnicas envolvidas, o núcleo gestor da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza e os técnicos regionais responsáveis pela aplicação e monitoramento do Painel de Bordo. O processo iniciou-se em abril de 2014 e, em maio de 2015, o Painel de Bordo começou a ser aplicado aos gestores locais das UAPS. Foram realizadas orientações sobre o levantamento dos dados disponíveis no PEP FastMedic, as necessárias para alimentar a planilha eletrônica e atualizada mensalmente de forma online e em tempo real. Os dados são consolidados em planilhas locais, regionais e municipal. O monitoramento é mensal e a cada três meses o gestor realiza avaliação das informações consolidadas. Os indicadores são identificados em três cores: verde, amarelo e vermelho, que são vinculadas às metas pactuadas conforme série histórica de cada equipe, da seguinte forma: o indicador ficará verde quando o resultado alcançado for  = a 95% do que foi pactuado, amarelo, de 75% a 94,9% e, vermelho, < que 75%, permitindo ao gestor uma avaliação capaz de subsidiar as tomadas de decisões. Atualmente, já temos cinco meses de preenchimento de Painel de Bordo e é possível observar um maior envolvimento dos gestores com o PEP. Haja vista que o PEP é uma ferramenta nova, que ainda gera muitas dúvidas e receios por parte dos profissionais da Atenção Primária à Saúde do município de Fortaleza, o Painel de Bordo veio auxiliar o gestor local na apropriação do conhecimento acerca das funcionalidades do sistema. Um gestor empoderado, reflete em uma equipe comprometida. O conhecimento do gestor de que as corretas informações no PEP geram um impacto positivo no preenchimento do Painel de Bordo e estimula a equipe a ter acuro no momento de inserir novas informações, afinal, o que mais importa é a condição de saúde do cidadão e a saúde é construída também nesse processo de análise de dados e de informações. Portanto, é possível considerar que, assim como em outras organizações, dentro da Secretaria Municipal de Saúde, a importância de podermos visualizar de forma balanceada os resultados atingidos é mais que uma medida tática ou operacional. É reflexo da importância que a gestão está dando para a necessidade de termos uma gerência estratégica fundamentada no equilíbrio. Equilíbrio entre medidas financeiras e não financeiras, permitindo o envolvimento de todos os níveis gerenciais, garantindo o foco e possibilitando o alinhamento gerencial e conceitual das ações desenvolvidas na atenção primária à Saúde no município de Fortaleza.

Palavras-chave


Mapa Estratégico; Balanced Scorecard; Painel de Bordo

Referências


KAPLAN, R. S. & NORTON, D. P. Mapas estratégicos: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

MARIN, H.F. & NETO, R.S. O prontuário eletrônico do paciente na assistência, informação e conhecimento médico. São Paulo: H. de F. Marin, 2003.

MENDES, E.V. & SHIMAZAKI, M.E. Oficina: Painel de Bordo do Mapa Estratégico. Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza. Fortaleza, 2014.

PENHA, R.S.B.; COSTA, J.A.F.; JÚNIOR, L.L.S.; OLIVEIRA, A.A.; LIMA, J.E.D.R – Gestão Estratégica: Formulação de um mapa estratégico para um hospital com uso do Balanced Scorecard. XXXVIII ENEGEP. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STP_075_530_11821.pdf. Acesso em: 05 de setembro de 2015.