Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA E PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS, VIVÊNCIAS E APRENDIZADOS DE UMA ENFERMEIRA RESIDENTE
Denise do Nascimento Pedrosa, Jacqueline de Almeida Gonçalves Sachett

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Atualmente o transplante de órgão é um tratamento opcional para melhora da qualidade de vida de pessoas de várias idades que tenham doenças crônica irreversível ou em estágio final. Desde 1954, quando houve o primeiro transplante realizado com sucesso, têm-se sofrido constates avanços para tratamento de doenças nos rins, pâncreas, fígado, coração, pulmão e intestino (1). Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM) através da resolução n° 1.480/97 define-se como Morte Encefálica (ME) a parada completa e irreversível de todas as funções encefálicas, tanto dos hemisférios quanto do tronco cerebral, o que significa interrupção definitiva de todas as atividades do encéfalo (2). As leis que regulamentam os transplantes são a 9.434 de 1997 e a 10.211 de 2001 as quais dispõem sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Sendo que, deve-se ter o diagnostico de ME, contatado e registrado por dois médicos que não sejam da equipe de transplante, usando critérios clínicos e tecnológicos definidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) (3). A Resolução de Nº 1480/97 do CFM também estabeleceu critérios para diagnóstico de morte encefálica, ao qual a mesma deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida, e será constatada através de realização de exames clínicos e complementares, em intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias (2). Hoje com mais de 95% dos procedimentos no país sendo financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil tornou-se referencia mundial em transplantes. Sendo considerado o maior sistema público de transplantes no mundo. Onde cerca de 56% das famílias entrevistadas em situações de ME aceitam e autorizam a retirada dos órgãos para doação (4). A enfermagem se faz imprescindível na melhoria do cuidado ao paciente com ME, pois presta assistência durante 24 horas ao paciente, logo para que o processo de doação se torne efetivo salienta-se a importância do envolvimento destes profissionais. A obtenção de órgãos e tecidos com segurança e qualidade é resultado do conhecimento do processo e execução adequada e correta de suas etapas, logo quando há falha em alguma fase pode-se motivar os questionamentos ou até recusa por parte dos familiares (5). OBJETIVOS: Descrever as experiências e aprendizados de uma enfermeira residente na abertura do protocolo de morte encefálica e processo de doação de órgãos. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, que se deu a partir das vivências de uma enfermeira residente  Urgência e Emergência da Universidade do Estado do Amazonas-UEA durante atividades da residência  de enfermagem, no Politrauma do Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado. As situações vivenciadas possibilitaram observar atuação do enfermeiro em todo o processo que envolve desde a abertura do protocolo de ME até a doação e captação de órgãos. Dessa forma, ao longo desse período, foi possível atuar nos diferentes serviços, desenvolvendo atividades de competência do enfermeiro da Comissão intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplante (CIHDOTT) e da Organização de Procura de Órgãos (OPO),  junto aos que fazem parte do processo de doação de órgãos. Resultados: A experiência foi vivenciada por uma enfermeira residente dentro do politrauma da referência em neurologia, neurocirurgia e politraumatismo na região, o Hospital e Pronto-Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado, está localizado na zona Leste da cidade de Manaus. O cuidar do paciente em ME, que clinicamente é um paciente considerado morto, porém com característica de uma pessoa com vida, uma vez que é um potencial doador, deve ser conduzido e manuseado com mesmo empenho e dedicação de um paciente de uma unidade de terapia intensiva (UTI). Logo o enfermeiro vivencia a morte e o morrer em seu dia a dia e pode despertar sentimentos em relação a sua finitude. Fazendo-o pensar com maior frequência em sua própria morte ou na do outro. Porém os enfermeiros que trabalham no processo de doação de órgãos consideram a experiência gratificante e enxergam a oportunidade de desenvolvimento profissional e novas experiências. Durante o estágio de dois (2) meses no pronto socorro foi possível observar que a atuação da equipe de enfermagem é de grande importância no processo, já que é a responsável pelos cuidados com o doador, por sua manutenção hemodinâmica, cuidados de higiene e conforto 24 horas por dia.  São os responsáveis por fazer o elo entre os médicos, familiares e outros profissionais, pois o trabalho em equipe é fundamental, onde cada um contribui com seu saber, para que o objetivo final seja alcançado com êxito: a doação de órgãos. Percebe-se que essa a experiência de trabalhar em equipe nos cuidados prestados ao potencial doador fortalece os profissionais, e isso colabora para que a assistências seja realizada o mais adequado possível, acelerando assim o processo de doação, abreviando o sofrimento da família e com grandes chances de aproveitamento dos órgãos. Durante a cirurgia o enfermeiro é de grande valia, pois prepara todo material necessário para receber os órgãos retirados, além do que é responsável por toda parte burocrática durante e após a cirurgia. A integração com o serviço foi de grande valia para participação de todo o processo, pois estando no setor do politrauma, muitas das vezes quando se admiti um paciente após avaliação, é possível verificar os sinais de possível ME, e isso na maioria das vezes é feita pelo enfermeiro plantonista, logo ocorre à comunicação a OPO que inicia os procedimentos para abertura do protocolo. Conclusão: Para a equipe de enfermagem, o resultado do processo de cuidar do paciente em ME pode gerar certa carga de estresse por ser um paciente muito instável e que necessita de monitorização constante. Há um sentimento de grande satisfação em todos da equipe quando tudo dá certo e a doação é concretizada. Durante todo o período que foi acompanhado tanto a abertura do protocolo até o momento da captação foi possível perceber que o enfermeiro atuante nessa área necessita de um amplo conhecimento das repercussões fisiológicas que o doador sofre para poder realizar de forma eficiente a manutenção de seus órgãos, o que propiciará a concretização do transplante. No entanto cuidar deste paciente transcende o saber cientifico, pois o enfermeiro esbarra em muitas questões éticas, morais, espirituais. Ficou evidente que a função e o papel exercido pelos enfermeiros do CIHDOTT e OPO são diferenciados o que demonstra que poucas universidades proporcionam formação nesta área de conhecimento.

Palavras-chave


Transplante de órgãos; Internato não Médico; Morte Encefálica; Enfermagem;

Referências


1.Mendes et al. Transplante de órgãos e tecidos: responsabilidades do Enfermeiro. Texto & Contexto Enfermagem-Florianópolis, 2012 out-dez; 21(4): 945-53.

 

2. Brasil. Resolução CFM nº 1480/97, de 08 de agosto de 1997. Regulamenta o termo de Declaração de Morte Encefálica.

 

3. Guelber et al. Cuidando da pessoa com morte encefálica – experiência da equipe de Enfermagem. JBT- Jornal Brasileiro de Transplante, São Paulo. V.14, n.2, p.1501-1506, abr/jun 2011.

 

4. Brasil. Ministério da Saúde. Sistema Único de Saúde financia 95% dos transplantes no Brasil Portal Saúde. Jan/2015 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2015/ 01/sistema-unico-de-saude-financia-95-dos-transplantes-no-brasil.

5. Lima CSP, Batista ACO, Barbosa SFF.  Percepções da equipe de enfermagem no cuidado ao paciente em morte encefálica. Revista Eletrônica de Enfermagem [Internet]. 2013 jul/set;15(3):780-9. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v15i3.17497.