Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Vivências e aprendizados de uma enfermeira residente no politrauma de um hospital referência em neurotrauma: Um Relato
Denise do Nascimento Pedrosa, Jacqueline de Almeida Gonçalves Sachett
Última alteração: 2015-10-19
Resumo
O trauma é considerado como um evento devastador da sociedade atual, constituindo-se uma epidemia silenciosa e letal, o que lhe confere o status de problema de saúde pública. Sendo considerada a primeira causa de morte o politraumatismo atingi indivíduos na faixa etária de 20 a 40 anos de idade, ou seja, na fase onde se é mais produtivo, sendo em sua maioria do sexo masculino. Essa prevalência pode ser atribuída ao fato da exposição às atividades e comportamentos de risco por parte da população masculina (1). Há vários tipos de trauma, onde o traumatismo crânio-encefálico (TCE) causa em média 100.000 mortes por ano e 50.000 a 90.000 pessoas apresentam déficits de comportamento e no intelecto. Qualquer agressão ao qual acarreta lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges ou encéfalo, onde se divide conforme-se sua gravidade em grave, moderado e leve é conceituado como TCE (2). No Brasil as principais causas de TCE são os acidentes automobilísticos, agressões físicas, quedas, mergulhos em águas rasas e projéteis de arma de fogo. A gravidade está associada de modo geral com o impacto do trauma, e as alterações neuropsicológicas das vitimas apontam após o trauma, os fatores que determinará o grau de independência funcional, e seu retorno as atividades cotidianas (3). Dentro da emergência as funções do enfermeiro são desde a escuta da historia do paciente, e exame físico, execução de tratamento, orientação aos doentes, até a coordenação da equipe de enfermagem. Aliando assim conhecimento cientifico, liderança, agilidade, raciocínio lógico e controle para manter a tranquilidade (4). OBJETIVOS: Descrever as principais vivências e aprendizados de uma enfermeira residente no politrauma de um hospital referência em neurotrauma. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, a respeito da vivência de uma enfermeira residente em Urgência e Emergência da Universidade do Estado do Amazonas-UEA no politrauma do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio Pereira Machado referência em neurotrauma em Manaus. O relato abordará as primeiras experiências e aprendizados vivenciados em 2 (dois) meses e quais as principais descobertas dessa integração ensino-serviço. RESULTADOS: Durante o período de vivência da residente no Pronto-Socorro, observou-se que há um grande fluxo de pacientes, familiares, acadêmicos, residentes, profissionais da saúde, profissionais terceirizados, entre outros. Isso pode ser reflexo do hospital ser o único e principal hospital da cidade referência em neurotrauma de Manaus. O espaço físico assemelha-se a um grande salão, com leitos dispostos um ao lado do outro, alguns separados por cortinas, sendo que, alguns pacientes são atendidos no corredor, em macas e cadeiras, devido à grande demanda pelo serviço e a indisponibilidade de leitos em outras unidades onde há atendimento de neurocirurgia. Logo pacientes com menor grau de gravidade algumas vezes podem estar perto de paciente graves e por consequência podem presenciar situações delicadas, como a morte, o que gera grande estresse e ansiedade tanto para o internado como também para seu acompanhante. Possui uma rotina de atendimento acelerada, e esbarra nas deficiências de estrutura do sistema de saúde como um todo e as altas demandas tornam-se um ambiente altamente estressante para pacientes e familiares. Por estrutura física limitada, muitos pacientes ficam internados dentro do politrauma, aguardando vaga em unidade de internação, o que gera grande tumulto dentro do setor. Percebeu-se, em algumas situações, por parte das equipes de enfermagem e saúde, uma carência de sensibilidade frente às dúvidas e angústias do paciente/familiar, o que resulta em conflitos entre a equipe e os familiares. Na recepção do paciente vitima de politraumatismo, observou-se a aplicação da regra mnemônica do ABCDE preconizado pelo Advanced Trauma Life Support (ATLS), onde é realizada a busca de lesões que ofereçam risco iminente à vida do indivíduo sendo desenvolvida por meio de exame físico rápido, seguindo-se de tratamento imediato, a fim de restabelecer o padrão hemodinâmico da vítima. Não há no setor a inexistência de um protocolo para atendimento ao politraumatizado o que pode interferir na eficácia da assistência, pois a observação correta da regra se torna essencial e primordial a vitima. Por função da gravidade das vitimas de politraumatismo, o atendimento sempre requer agilidade da equipe, onde as atribuições dos integrantes da equipe de enfermagem torna-se estratégia para um serviço eficaz, essa organização se fez presente em apenas algumas das situações observadas. Em certas situações o enfermeiro estabelece, no momento do atendimento, a atribuição de cada um da equipe. O que foi possível perceber que o enfermeiro, é respeitado pelos demais como gerenciador da assistência a vitima de politraumatismo, pois as atribuições definidas por este profissional são devidamente acatadas. Para que o gerenciamento do serviço e da assistência qualifique o enfermeiro como coordenador se faz necessário o mesmo possuir conhecimentos específicos que possam subsidiar os procedimentos e técnicas necessárias para realizar o atendimento com agilidade. Assim com o desenvolvimento da vivência foi desenvolvidas atividades como internações de pacientes, punções venosas, sondagens (nasoentéricas, nasogástrica, vesicais), avaliação de lesões, curativos, preparo e administração de medicamentos, registro das evoluções dos pacientes, aspiração do tubo oro traqueal, higiene oral, orientação dos pacientes sobre procedimentos e prestação de atendimento de urgência e emergência, cuidados a pacientes críticos, além da observação e da convivência das condições de trabalho, e dos aspectos relacionados à saúde dos trabalhadores de enfermagem do setor. Além da participação da abertura do protocolo de morte encefálica, observação do processo de doação de órgãos e auxilio em duas cirurgias de captação de órgãos. CONCLUSÃO: Há no serviço a necessidade do desenvolvimento e a aplicação de ações protocolares o que minimizam a possibilidade de erros no atendimento à vítima de politraumatismo e, consequentemente, maximizam a qualidade deste atendimento. O integrante chave da equipe, responsável pela assistência a vitima traumatizada é o enfermeiro. Isso requer um aprimoramento contínuo de seus conhecimentos em relação às habilidades de liderança e atualização, para prestar atendimento nesta área. Apesar das dificuldades por falta de estrutura física adequada, material, recursos humanos deficientes, foi possível adquirir habilidades e aprendizados principalmente com pacientes neurocriticos. Além das experiências únicas adquiridas junto com a CIHDOTT, o que fortalece a importância da integração ensino-serviço, pois o residente adquire conhecimento além do se espera, tornando-se gratificante a cada novo campo de estágio.
Palavras-chave
Enfermagem em Emergência ;Educação em enfermagem;Internato não Médico
Referências
1. Silvério LS, Regina MM. Avaliação do indivíduo vítima de politraumatismo pela equipe de enfermagem em um serviço de emergência de Santa Catarina. Rev Bras em Promoção da Saúde. 2012;25(2):182–91.
2. Barbosaa IL, Andrade LM de, Caetano JA, Lima MA de, Vieira LJE de S, Gama SV. Fatores desencadeantes ao trauma crânio-encefálico em um hospital de emergência municipal. Rev Baiana Saúde Pública. 2010;34(2):240–53.
3. Cunha ANC Da, Laiane Mendes Araújo, Vieira MIA da C. Atuação do enfermeiro a vitimas de traumatismo cranioencefalico: uma revisão. REFACER - Rev Eletrônica da Fac Ceres [Internet]. 2015;1(4). Available from: http://ceres.facer.edu.br/revista/index.php/refacer/article/view/75/51
4. Furtado BM a SM, De Araújo Júnior JLC. Percepção de enfermeiros sobre condições de trabalho em setor de emergência de um hospital. ACTA Paul Enferm.2010;23(2):169–74.