Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: UM DIÁLOGO COM O PROGRAMA DE VIVENCIAS E ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Carlos Alberto Severo Garcia Junior, Alice Marli Moratelli, Patrick Schneider, Josiane Teresinha Ribeiro de Souza

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: “Mas afinal, por que falar de Educação Popular em Saúde na universidade?” Foi refletindo sob a inquietude da pergunta que nasceu a experiência que buscamos relatar nas linhas que seguem.  O Projeto VER-SUS, uma parceria entre Ministério da Saúde com Rede Unida, União Nacional dos Estudantes e Universidades permite a aproximação dos estudantes com locais de cuidado em saúde. Trata-se de ancorar a formação multidisciplinar por meio de uma proposta de imersão, onde começaram a aflorar diversas inquietações a respeito de temas, os quais se viam como essenciais para uma formação voltada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Afinal, após anos de Educação Freiriana há a necessidade de realizarmos formações para reestabelecer a essência de a Educação Popular no fazer em saúde? Neste sentido, o gênesis da proposta para abordar Educação Popular em Saúde em um espaço de educação permanente veio de encontro a angústias de estudantes dos cursos de graduação de Enfermagem e Psicologia de uma Instituição de Ensino Superior do Litoral Catarinense, a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), que ao vivenciar as práticas supervisionadas, estágios e projetos de extensão da instituição sentiram a ausência e a necessidade de um olhar dialógico, compartilhado e integral. Considera-se os espaços da academia como lugar de encontros e oportunidades para troca de saberes, a imersão do sujeito-estudante com o sujeito-usuário a fim de desconstruir uma perspectiva médico-hegemônico que tradicionalmente imperou as formações em saúde, de forma a apresentar um “que sabe” e outro que “não sabe”. Com a realização durante o período de imersão do projeto supracitado, objetivamos apresentar aos participantes envolvidos com o Projeto VER-SUS temas relacionados à Educação Popular em Saúde como artefato metodológico para uma prática dialógica e promover a participação ativa dos estudantes em seu processo de ensino-aprendizagem. Trata-se de propor uma reflexão crítica, a partir da interferência e trocas realizadas entre estudantes de graduação, sobre modelos de formação para o SUS, isto é, ofertar um espaço de problematização sobre Educação e Saúde em meio à vivência com a interação com trabalhadores, usuários e gestores. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A construção metodológica da formação para os viventes do VER-SUS contou com diversas propostas como, rodas de conversa e dinâmicas norteadoras, vivências e momentos de compartilhamento de experiências, buscando cruzar teoria e prática sempre objetivando ao tema de Educação Popular em Saúde. Em diversos momentos havia a presença de um facilitador para conduzir a discussão ou, em uma perspectiva horizontal, apresentava-se como mediador para ancorar as falas com o objetivo proposto para a roda, respeitando cada colocação. Diante disso, o planejamento para a formação em Educação Popular em Saúde esteve inteiramente voltado à perspectiva do educador brasileiro Paulo Freire, tomando como base o Caderno de Educação Popular do Ministério da Saúde, que destaca a educação em saúde como uma prática na qual há a participação ativa da comunidade, assim como cinco princípios Freirianos, a saber: O saber ouvir, a desconstrução de uma visão mágica por meio do processo ação-reflexão-ação, aprender a estar com o outro, abandonar a criticidade absoluta ao assumir a ingenuidade do educando e, então, viver pacientemente impaciente. A formação se deu na forma de rodas de conversa, onde perguntas geradoras/problematizadoras foram disponibilizadas para auxiliar no processo de construção. Vale salientar que as perguntas geradoras não serviam como modelo engessado a ser seguido, mas sim, contribuíam com uma metodologia em que a construção parte do coletivo através de uma troca de saberes entre os participantes. Buscou-se, com a imersão dos viventes, problematizar qual a diferença ao agregar o termo “popular” na práxis educacional e apontar possíveis caminhos para desvincular a educação de um processo vertical que perpetua na história, em que “eu” fala a “tu”, de forma a gerar um espaço de troca de saberes em que se fala “com” o outro. É importante salientar que além do vivente ter a possibilidade de tomar conhecimento sobre a educação popular em saúde, fez educação popular consigo mesmo, com o outro, no espaço de formação do VER-SUS que pode ser também considerado uma referência de movimento que objetiva orientar as ações de luta no fazer social, no coletivo em busca da cidadania e principalmente na reinvenção da vida. Para além do VER-SUS, fazer educação popular em saúde seria construir práticas juntamente com o os usuários em seu dia a dia. Isto poderia denominar o que Paulo Freire chama de saber mudar, conhecer a realidade, a construção histórica e social da comunidade onde se está inserido, conhecer a si mesmo para conseguir olhar o outro, na integralidade. Paulo Freire salienta que não basta querermos mudar a sociedade ou dialogar sobre ela, mas que se faz necessário ir além, fazer as palavras agirem, tomar impulso de ação através dos diálogos, é necessário saber fazer, como mudar e esta mudança precisa ser pensada e escalada em direção a igualdade e horizontalidade do trabalho integral e coletivo, com instrumentos criados no contato humano, nas diferentes sabedoras – populares e as científicas, pois se assim não for, se o conhecimento e ação não forem na horizontal fica-se aquém do outro e da política que orienta os direitos e deveres da população, para um resultado de empoderamento coletivo, de território, do ser humano. E é este o movimento inspirado pelo VER-SUS, a importância de conhecer as pessoas, o que as movimenta, as suas necessidades de saúde, para olhá-las na sua integralidade, e assim construir a Educação em Saúde. RESULTADOS: Para tanto, vimos que uma formação voltada para a Educação Popular em Saúde pode oferecer frutos em longo prazo, ou seja, proporcionar uma determinada direção de discussões e reflexões partindo da premissa Freiriana. Trata-se de permitir ao ser, neste caso, ao acadêmico de graduação, ter a percepção da realidade, da aplicabilidade e da resolubilidade que tal ato promove, faz com que as atitudes tomadas como profissional sejam analisadas a partir desta perspectiva, que permite ao outro atuar como protagonista de sua própria história. O fato de não elencar um mediador para os grupos de discussões permitiu a horizontalidade e mutualidade nos processos de construção e desconstrução dos saberes. Os efeitos percebidos decorrentes da experiência relevam um desejo em contagiar outros atores com metodologias e perspectivas criativas e inovadoras, capazes de transformar as práticas em saúde e os modos de fazer gestão nos processos de cuidado e tomadas de decisões. Assim, ao apostar na inclusão de outros atores implicados com o SUS, pode-se perceber a reverberação no fortalecimento de um sistema de saúde com qualidade e para todos, por isso, o necessário investimento no protagonismo acadêmico. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O VER-SUS é um importante espaço para a construção da educação popular em saúde, mas há que se ter para além do VER-SUS espaços coletivos que movimentem e integrem os atores sociais para que não nos percamos em uma tentativa de pensar mudança, mas não fazê-la. Para isto Paulo Freire, em seus ensinamentos, nos remete a história pela qual herdamos - a de não fazer parte das escolhas e decisões da sociedade, isto é cultural, é herança histórica. A pluralidade de olhares e as realidades podem ser a chave para compreender a vida, concepções que permitam a passagem para a diferença e a diversidade.   

Palavras-chave


Educação Popular em Saúde; SUS.

Referências


  1. Ministério da Saúde (BR). Caderno de educação popular e saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2007.