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Troca de saberes e cuidado em saúde – Uma experiência de extensão popular com plantas medicinais
Última alteração: 2015-10-31
Resumo
APRESENTAÇÃO: O projeto surgiu do desejo de alguns estudantes de construir um projeto de extensão popular inserido na Liga de Saúde da Família da Universidade Federal Fluminense. A ideia das pessoas que compõem o projeto era trabalhar a questão da saúde numa perspectiva popular, com a ideia de contrapor o modelo médico-centrado e medicamentalizante que a academia apresenta. Optou-se por realizar o projeto numa comunidade de periferia de São Gonçalo chamada Cano Furado, onde uma parte da população estava organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, após uma ocupação construída no ano anterior. Nessa comunidade, foi identificado o amplo uso de plantas medicinais para tratar sintomas de saúde frequentes, tais como dores de cabeça, febre, insônia, cólica menstrual, entre outros, tendo em vista o acesso prejudicado aos serviços de saúde. A partir deste tema, nos vimos provocados a realizar intervenções nesse sentido, e vislumbramos a oportunidade de tencionar a formação acadêmica tradicional ao valorizar o saber popular. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Para iniciar o projeto, nos vinculamos a uma militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com vasta experiência no uso de fitoterapia em assentamentos e em atendimentos na pastoral de uma igreja católica em Nova Iguaçu. Posteriormente, promovemos oficinas conduzidas pela militante do MST e uma liderança comunitária local que também tem muitos conhecimentos sobre plantas medicinais. Os objetivos da primeira oficina foram identificar no território as plantas de uso medicinal e apresentar as propriedades medicinais de cada espécie. A partir daí, iniciamos atividades de preparação de medicamentos fitoterápicos. A oficina teve também como desdobramento a visita da liderança comunitária e outros moradores do Cano Furado, acompanhados pelos estudantes, a Nova Iguaçu, a fim de vivenciar a prática de cuidado em saúde da militante do MST. IMPACTOS: A partir desses encontros de saberes populares, os moradores do Cano Furado, em conjunto com os estudantes, organizaram novas oficinas. O objetivo principal era produzir novos medicamentos fitoterápicos em forma de tinturas, sabonetes, xampus, gel anti-inflamatório e pomada cicatrizante. A comunidade já identifica esta prática e os medicamentos produzidos começam a se disseminar. As lideranças comunitárias se destacam como cuidadores e estão potencializando sua capacidade de disseminar seus conhecimentos. O conhecimento adquirido, bem como os insumos produzidos, além de utilizados no Cano Furado foram fundamentais para a construção da frente popular de saúde do MTST na ocupação 06 de abril de 2010, descrita em outro relato enviado a este Congresso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência de extensão no Cano Furado provou-se uma excelente oportunidade para contrapor a medicina universitária tradicional centrada na figura do médico e na medicalização da vida. Embora fosse em parte tensionada pela restrição do acesso a medicina socialmente legitimada, a alternativa das plantas medicinais vivenciada pelos estudantes e moradores possibilitou à construção e sistematização de um novo saber popular, cuja função não se restringe a suavização dos sintomas do corpo, mas também na produção de autonomia e de apropriação da vida.
Palavras-chave
Educação Popular; Extensão Popular; Fitoterapia; Movimentos Sociais; Saúde