Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A CRIANÇA E AO ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
ROSANA ALVES DE MELO, SINARA DE LIMA SOUZA, Ana Kariny Costa Araújo
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: A violência é considerada um fenômeno complexo, que se manifesta de diversas formas, em diferentes contextos, e tem o potencial de causar dano capaz de afetar a saúde individual e coletiva dos envolvidos. Nesse contexto, quando analisamos os eventos violentos, vemos que os mesmos provocam diversas consequências, sendo essas capazes de devastar, em maior ou menor grau, a vida de quem a sofre. Assim, levando em consideração as múltiplas facetas da violência, podemos afirmam que, devido a diversos aspectos, as crianças e os adolescentes estão incluídos entre os grupos humanos mais vulneráveis aos eventos violentos e muitas vezes estes ocorrem no contexto familiar, caracterizando-se como um problema de grande relevância social e científica. Essa particularidade se dá devido ao fato desses grupos encontrarem-se em um processo de crescimento e desenvolvimento mais intenso, e com características peculiares. A violência que ocorre em casa é denominada de violência doméstica, e a mesma tem sido objeto de reflexões e pesquisas na área da saúde, por hoje em dia, serem os profissionais dessa área os primeiros a terem contato, na maioria das vezes, com as vítimas diante das sequelas visíveis, e às vezes invisíveis, e por se constituir em um fenômeno que necessita de prevenção, detecção, intervenção e tratamento, de acordo com cada situação. Esse fenômeno é considerado uma problemática cultural, pois está fortemente presente nas relações familiares desde a antiguidade, apesar de toda difusão da informação a respeito desse fenômeno, e ocorre em qualquer contexto, independente do nível socioeconômico, e quando praticada contra crianças e adolescentes é conhecida como vitimização ou síndrome dos maus tratos infantis, e pode ser classificada como física, sexual, psicológica e negligência. Nesse sentido, todos profissionais envolvidos com a assistência em qualquer nível, devem tomar rapidamente as providências necessárias diante de casos suspeitos ou confirmados de violência, para impedir que o problema se agrave, a ponto de causar a morte da vítima ou do agressor. O enfrentamento da violência requer estratégias bem definidas e que tenham participação da sociedade, dos profissionais e dos gestores públicos, principalmente quando envolve crianças e adolescentes. Nesta perspectiva, levando em consideração os aspectos que envolvem crianças e adolescentes em situação de violência doméstica, bem como a importância de um atendimento de enfermagem que contemple as necessidades sociais e de saúde desses indivíduos, esse estudo objetivou analisar a produção científica nacional e internacional, acerca dos aspectos que envolvem a assistência de enfermagem a crianças e adolescentes em situação de violência doméstica. Dessa forma, foi elaborada a seguinte questão norteadora: quais informações podem ser encontradas nas publicações cientificas nacionais e internacionais acerca da assistência de enfermagem a criança e adolescente em situação de violência doméstica? MÉTODO: Revisão Sistemática da Literatura, com coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, por meio de levantamento bibliográfico no período de 2008 a 2014. Realizou-se uma busca através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e a Base de Dados em Enfermagem (BDENF). A coleta de dados ocorreu em janeiro de 2015, onde foi empregado os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) Violência Doméstica; Criança; Adolescentes; Enfermagem, resultando, inicialmente em um total de 74 artigos originais. Foram estabelecidos como critérios de inclusão: I - artigos originais (pesquisa ou revisão); II - artigos publicados em português, inglês ou espanhol; III - resumos com objetivos, métodos, e resultados claramente definidos no texto; IV – artigos cujos resultados abordassem os aspectos que envolvem a assistência de enfermagem a crianças e adolescentes em situação de violência doméstica. Ao ser estabelecidos os critérios de inclusão, foi realizada uma filtragem das 74 publicações encontradas inicialmente, resultando em 29 artigos para a revisão, tomando como base os resumos. Após a leitura dos resumos foram excluídos 17 artigos que não preencheram os critérios de inclusão. Dessa maneira, restaram 12 artigos incluídos nessa revisão, analisados na íntegra, contemplados nessa Revisão Integrativa da Literatura. Foi feita a leitura exploratória seletiva, analítica e interpretativa desses artigos, para que fosse iniciada a discussão dos dados encontrados. A base de dados que continha o maior número de publicações e que foram selecionados foi a LILACS (08), seguida pela BDENF (03) e a MEDLINE (01). RESULTADOS: É sabido que o enfermeiro, enquanto integrante da equipe de saúde, tem atribuições importantes na prevenção e combate das diversas formas de violência contra crianças e adolescentes, que vai desde a identificação e diagnóstico do problema, passando pelo planejamento e implementação de medidas e chegando a assistência de enfermagem que consiga satisfazer às expectativas e necessidades dos indivíduos e que mostre resultados satisfatórios no manejo do problema. Foi observado que mesmo tendo um papel importante na equipe de saúde, o enfermeiro ainda não consegue conceituar os aspectos da violência doméstica contra crianças e adolescentes, e a partir daí, não se reconhece como protagonista no enfrentamento desse problema. Na maioria das vezes isso se deve ao fato de esse profissional não possui conhecimento técnico-científico que possa embasar suas ações diante dos casos, decorrente de uma formação acadêmica deficiente e falta de capacitações nos serviços. Pudemos perceber que a dificuldade enfrentada pelos enfermeiros para acolher e atender crianças vítimas de violência doméstica nos diversos contextos decorre não apenas da má formação profissional, mas também da vivência da violência doméstica contra crianças e adolescentes no ambiente de trabalho sem apoio de serviços de referências bem estruturados; a falta de organização/protocolos dos serviços de saúde que assistem os indivíduos; e também a desarticulação entre os próprios membros da equipe de saúde que compõem o serviço. Constatou-se também a pouca atuação multiprofissional nas escolas infanto-juvenis, no manejo das diversas formas de violência possíveis de ocorrer nesses ambientes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Torna-se fundamental que as instituições formadoras e os serviços se preocupem em incluir, no processo de formação e capacitação desses profissionais, conteúdos que lhes permitam mais assertividade diante do problema da violência doméstica, no sentido de proporcionar uma reorganização das práticas assistencialistas que devem ser focadas nas necessidades dos indivíduos e de suas famílias, visando à prevenção e combate da violência. As escolas, enquanto instituições formadoras, devem oferecer estratégias de prevenção, reconhecimento e combate da violência entre os estudantes, como forma de quebrar esse ciclo. Para que haja um atendimento eficiente e eficaz por parte dos profissionais envolvidos na atenção da criança/adolescente em situação de violência doméstica que adentrem os serviços de saúde, faz-se necessário um compromisso das instituições da rede e que haja a implementação de protocolos de atendimento que definam claramente o papel de cada membro, instituição, órgão, setores da sociedade e profissionais no atendimento e prevenção da violência, para que assim se construa uma rede hierarquizada, articulada e contínua de ações. Dessa forma, os profissionais terão respaldo para uma abordagem ampla e integralizada no enfrentamento da violência doméstica contra crianças e adolescentes, favorecendo uma mudança na forma de conduzirem os indivíduos e suas famílias dentro desse ciclo, o que resultará na implementação de medidas resolutivas que favoreçam a resiliência dos mesmos.
Palavras-chave
Violência doméstica; Criança; Adolescente; Enfermagem.
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