Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
SAÚDE MENTAL NO TRABALHO: O GRUPO COMO ALTERNATIVA
Jorge Miguel Soares Rodrigues, Nauristela Ferreira Paniago Damasceno, Cecília Freitas Martins, Cristiane Domingos, Adriana Rochas de Carvalho Fruguli Moreira

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Apresentação: As mudanças nas formas de produção desenvolvem-se com implicações sociais relevantes no âmbito das relações do trabalho, gerando aumento das exigências mentais, incluindo os aspectos cognitivos, emocionais e psicossociais, em diversas ocupações (ROCHA, 2013). Segundo Guimarães (2013) essa conjuntura também fez com que a organização do trabalho e os fatores psicossociais do trabalho fossem foco de vários estudos, principalmente após os anos 60, os quais indicam que essas transformações, combinadas aos fatores individuais, podem gerar tensão, fadiga e esgotamento profissional, ou seja, fatores psicossociais implicando situações de sofrimento e adoecimento relacionado ao trabalho. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é relatar o desenvolvimento e os resultados parciais de uma atividade com foco na saúde mental do trabalhador, realizada com grupos de profissionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES). MÉTODO: A atividade aqui relatada foi realizada em IES pública que possui várias Unidades Universitárias (UU), abrangendo 15 municípios do mesmo estado. Nessa estrutura multicampi um dos desafios para a gestão de pessoas é a distância entre as UU e a sede. Atuam na IES, aproximadamente, 1300 trabalhadores entre efetivos, contratados e terceirizados. Considerando a solicitação dos próprios trabalhadores e/ou gestores das UU a atividade em grupo foi planejada, por equipe de profissionais vinculada à gestão de pessoas, com o objetivo de proporcionar a troca de conhecimentos, vivências e sentimentos a respeito do trabalho e suas particularidades, de modo a contribuir com as relações socioprofissionais. O trabalho fundamentou-se nos grupos operativos de reflexão, que trabalham as seguintes funções egóicas: percepção, pensamento, conhecimento e comunicação, conforme proposta de Zimerman (2000). A vivência do coletivo, proporcionada pelos grupos de reflexão com as equipes de trabalho, contribui ainda para o resgate da solidariedade e da cooperação entre os trabalhadores, atualmente fragilizadas pelas formas de gestão, além de oferecer suporte às dificuldades operacionais e/ou subjetivas dos trabalhadores (BIANCHESSI et al, 2014). Os encontros iniciaram-se em julho de 2014 e para sua operacionalização, primeiramente, foi realizada divulgação prévia da data, horário, local e objetivos, com intermédio dos gestores de cada UU. Os encontros foram realizados em espaços da IES, em horário comercial, com duração estimada de 1h e 40min. Foram abertos a todos os profissionais que atuam em cada UU, com participação voluntária. No planejamento do primeiro encontro, foram selecionadas atividades vivenciais e/ou dinâmicas de grupo, como disparadores da discussão. Dessa forma, foi proporcionado um espaço de fala coletiva e escuta sobre o trabalho, suas relações. A observação e a própria discussão dos grupos foi subsidiando o planejamento dos próximos encontros, a partir de temas comuns ao cotidiano das equipes. Além disso, sempre foram inseridos disparadores que promovessem a troca de experiências e conhecimentos entre os trabalhadores. Nas situações em que foi solicitada ou identificada a necessidade de intervenção individual, essa foi realizada em espaço reservado, na própria IES, além de verificada a pertinência de encaminhamento específico - psicoterapia, visita social, etc. Os encontros foram registrados, por escrito, a partir dos principais itens abordados pelos grupos, como objetivo de levantar as facilidades/dificuldades indicadas pelos participantes, em relação ao trabalho, possibilitando subsídios para outras intervenções ou encaminhamentos.   Resultados e Discussões De julho a dezembro de 2014 foram realizados 6 encontros mensais dos quais participaram, em média, 45 trabalhadores de 4 UU. Em algumas unidades a participação dos trabalhadores foi mais expressiva e em todas elas observou-se maior frequência de trabalhadores da área administrativa do que docentes. Além disso, os gestores das UU, apesar de apoiarem e solicitarem a atividade, não participaram da maioria dos encontros. Constatou-se que, em determinados casos, a própria organização do trabalho dificulta a participação de alguns trabalhadores; ainda assim, considera-se que é relevante encontrar formas para promover a integração de outros membros aos grupos, no próximo ciclo da atividade. Contudo, entre os participantes dos grupos, notou-se uma evolução na abertura dos trabalhadores para a troca de conhecimentos e experiências, estreitando as relações interpessoais no trabalho. Esse processo grupal que privilegia o diálogo e a troca, sem distinções hierárquicas ou de categorias profissionais, também possibilitou uma aproximação entre os participantes e mostrou-se como um relevante meio de aprimorar o contato entre os profissionais, facilitando o reconhecimento das diferenças, semelhanças, pontos fortes e dificuldades individuais e do grupo. As discussões dos grupos também abordaram a importância do autoconhecimento e do potencial de impacto das características individuais no ambiente de trabalho, nas relações com os colegas e com o público externo. Nesse ponto, observou-se a necessidade de investir em aprimoramento dos gestores, visto que situações que implicam no funcionamento da instituição e no clima organizacional – como os processos de comunicação formal interna e externa, a integração de novos servidores, a gestão de pessoas e de conflitos – requerem habilidades e conhecimentos gerenciais que podem ser desenvolvidos ou aprimorados em capacitações específicas. Os trabalhadores também discutiram sobre suas dificuldades em relação às condições de trabalho tanto no que se refere às particularidades da UU como as que consideram decorrentes do distanciamento da sede administrativa da IES. Foram observados conflitos entre as categorias profissionais e também com os gestores, bem como dificuldades quanto à forma como é organizado o trabalho. Além disso, foram discutidas questões relativas à remuneração, benefícios e a necessidade de investimento da IES em atividades pertinentes ao desenvolvimento, à saúde e à qualidade de vida dos trabalhadores. Em dezembro de 2014, foi realizada uma avaliação, por escrito, dos encontros com os trabalhadores, para apontar as percepções dos mesmos acerca das atividades realizadas no semestre. O impacto na reflexão sobre o trabalho foi o ponto mais destacado na avaliação e relacionou-se com a percepção do papel de cada um na instituição e na melhoria das relações no trabalho, com vistas ao bem-estar dos trabalhadores, à qualidade do serviço oferecido à comunidade e à profissionalização do serviço público. Outro aspecto citado nas avaliações foi à necessidade de maior aproximação da sede com as UU, integrando o trabalho de forma a unificar a gestão de pessoas, promovendo a construção da identidade dos trabalhadores. Dessa forma, os trabalhadores reconheceram a relevância da atividade e formalizaram o interesse por sua continuidade. Destaque-se que como a atividade foi direcionada aos trabalhadores que atuam fora da sede, ela possibilitou ainda a coleta de elementos singulares de cada UU que podem subsidiar futuras intervenções relacionadas à gestão de pessoas e à saúde do trabalhador, com foco nas demandas identificadas no processo dialógico dos grupos e na observação.   Considerações Finais A realização dos encontros coletivos possibilitou discussões sobre a forma como se organiza o trabalho, sobre o sentido do trabalho e sobre como se constroem as relações entre os trabalhadores (entre si, com os gestores e entre as categorias profissionais) e suas atividades, mobilizando a percepção dos participantes sobre seu papel no mundo do trabalho, promovendo a responsabilização e a autonomia. Dessa forma, os grupos de reflexão mostraram-se como uma alternativa viável para a promoção de saúde mental dos trabalhadores, principalmente, no que se refere às relações de trabalho, uma vez que fomentam a empatia, a cooperação e a compreensão de atitudes e sentimentos que afloram no cotidiano profissional. Por conseguinte, espera-se que essa atividade possa ser ampliada a outras UU.

Palavras-chave


Saúde mental; Saúde do trabalhador; Grupo

Referências


BIANCHESSI, D. L. C. et al. Sobre uma construção em atenção em saúde mental e trabalho na empresa. In: CRESPO, A. R.; BOTTEGA, C. G.; PERES, K. V. (org.). Atenção à saúde mental do trabalhador: sofrimento e transtornos psíquicos relacionados ao trabalho. Porto Alegre: Evangraf, 2014.

 

GUIMARÃES, L. A. M. Fatores psicossociais de risco no trabalho. In FERREIRA, J. J. (coord. Geral). Saúde Mental no Trabalho: Coletânea do Fórum de Saúde e Segurança no Trabalho do Estado de Goiás. Goiânia: Cir Gráfica, 2013. p. 273-282.

 

ROCHA, L. E. Saúde mental no trabalho: desafios e soluções. In FERREIRA, Januário Justino (coord. geral). Saúde Mental no Trabalho: Coletânea do Fórum de Saúde e Segurança no Trabalho do Estado de Goiás. Goiânia: Cir. Gráfica, 2013. p. 107-126.

 

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. 2.ed. – Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.