Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Relato de uma experiência entre ensino e serviço: assistência integral em prol do paciente diabético
Daniela Nunes Shinzato Batista, Karla Marques de Mello Rodrigues, Mayara Magalhães Morello, Lucas de Castro Catelluccio, Ana Rita Barbieri

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: uma verdadeira epidemia de diabetes mellitus (DM) está em curso. Considerado um problema de saúde pública em nível mundial, estima-se que, atualmente, a população mundial com DM é da ordem de 382 milhões de pessoas e em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da maior urbanização, da crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como da maior sobrevida de pacientes com DM, este número tente a recrudescer. Situação similar pôde ser vivenciada em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família (UESF) em Campo Grande, cuja população adscrita de uma equipe conta com 121 indivíduos diabéticos. Conhecer a prevalência de DM do território e estimar o número de pessoas com diabetes no futuro permite planejar, alocar recursos de forma racional e evitar ou retardar os danos provocados pelo agravo. Diante do cenário epidemiológico da doença, acadêmicas do quinto ano do curso de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul realizaram uma intervenção, em parceria com a equipe de saúde da unidade, com o objetivo de conhecer a ocorrência da doença na população do território, analisar o seguimento clínico realizado e sua conformidade com os protocolos do Ministério da Saúde, além de incentivar o autocuidado. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: foi estabelecida uma ação visando uma avaliação integral ao paciente, com foco principalmente nas principais complicações da doença. Para isso foi necessário inicialmente: (1) cadastramento ou sua atualização no Hiperdia durante as visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS); (2) entrega de convites aos pacientes durante a visita domiciliar de cadastramento; (3) contato telefônico com os pacientes não visitados, chamando-os para o dia da avaliação integral. Foram convidados 90 pacientes para a atividade que foi realizada em 25 de junho de 2015 na UESF. Os exames mais atuais de cada paciente foram conferidos previamente através do sistema informatizado "Hygia" da Secretaria de Saúde de Campo Grande (SESAU), disponível em todas as unidades. No dia da ação, optou-se por utilizar a ficha de acompanhamento do Hiperdia para examinar os pacientes. Durante cada consulta, foram coletados os dados clínicos do paciente, como pressão arterial, circunferência abdominal, peso e altura. Interrogou-se a respeito de fatores de risco e comorbidades, presença de complicações devido ao DM e quais os tratamentos medicamentosos aos quais os pacientes está sendo submetido. Além disso, foram solicitados todos os exames laboratoriais necessários para a avaliação pormenorizada do paciente e que não haviam sido solicitados recentemente. Foram encaminhados ao oftalmologista todos os pacientes que estavam há um ou mais anos sem exame oftalmológico e, para completar a assistência integral ao diabético, foi realizada a avaliação dos pés de cada paciente através do formulário de avaliação dos pés, disponibilizada pela SESAU. Para acurar o diagnóstico de perda da sensibilidade protetora (PSP) dos pés, conforme o Grupo de Trabalho Internacional Sobre Pé Diabético, adicionou-se ao teste de monofilamento 10 gramas e o exame do reflexo aquileu. Ao final, conforme orienta o rastreamento das diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, cada paciente foi estratificado de acordo com seu risco de desenvolver futuras lesões através da classificação proposta pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). Motivação quanto à mudança de hábitos equivocados e melhoria da qualidade de vida, além do reforço quanto à importância da adesão ao tratamento medicamentoso, foram aspectos centrais da consulta, com o intuito de reforçar o autocuidado. Resultados e/ou impactos: dos 36 pacientes consultados no dia da ação, 34 eram portadores de DM tipo 2 e apenas 2 de DM tipo 1, sendo que a prevalência da doença se mostrou maior na faixa etária entre os 60 a 79 anos. Com relação à diferença de gêneros, 61,1% dos indivíduos eram do sexo feminino e 38,9% do sexo masculino. Todos os pacientes consultados apresentavam ao menos um fator de risco, chamando atenção para a frequente associação entre hipertensão arterial e DM (67% dos pacientes a apresentavam), condizente com os dados observados tanto do estado de Mato Grosso do Sul quanto nacionais. Vinte e nove pacientes já haviam apresentado alguma complicação micro ou macrovascular da doença, 13 estavam em insulinoterapia e 28 utilizavam pelo menos um antidiabético oral. Em frequência de uso, o anti-hipertensivo hidroclorotiazida ficou atrás apenas dos antidiabéticos orais e da insulina. Os índices de excesso de peso constataram que apenas 16,7% da população estudada encontravam-se no índice de massa corporal (IMC) adequado para a idade. Por dificuldades da UESF em disponibilizar o exame de glicemia capilar durante as consultas, glicemia de jejum e hemoglobina glicosada foram solicitados para 24 pacientes que não possuíam estes exames recentes. Para estes mesmos 24 pacientes foram solicitados o perfil lipídico. A maioria dos pacientes não estava tendo seus pés examinados anualmente e não havia realizado, ao menos uma vez, exames que devem ser solicitados anualmente, a exemplo do exame de microalbuminúrica que foi solicitado para 29 pacientes no dia da ação, pois apenas 7 pacientes estavam realizando o exame anualmente, conforme orientado pelas diretrizes. Em linhas gerais, a população examinada mantém seus pés higienizados, porém, com pele fina, seca e brilhante. Na inspeção, foram diagnosticados 7 casos de micose interdigital, 4 pacientes com rachaduras, 6 com formação de calosidades e apenas 1 com ferimento com abertura da pele. Encontrou-se apenas 1 paciente com hálux valgo no quesito deformidade. Apenas 4 pacientes possuíam história de algum tipo de ulceração nos pés e somente 2 haviam amputado algum membro. Nove pacientes queixaram-se de dor em membros inferiores ao caminhar e 15 tinham queixas de formigamento. Não se observou irregularidade nos pulsos periféricos durante a avaliação vascular. Na avaliação neurológica, aproximadamente 36% da população examinada possui perda da sensibilidade protetora. Após o exame dos pés, cada paciente foi classificado pelo Sistema de Classificação de Risco e Encaminhamento da SBACV, sendo que 23 foram classificados como grau 0, 11 pacientes como grau 1, 1 paciente classificou-se como grau 2, e 1 como grau 3B e encaminhado para o CEM para atendimento especializado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: durante o planejamento e a execução da atividade, contatou-se a importância da atenção básica no diagnóstico do DM, no acompanhamento e tratamento, além do rastreamento de suas complicações micro e macrovasculares e a importância do trabalho multidisciplinar em equipe. Também foi possível constatar a dificuldade no manejo clínico de pacientes com o perfil dos diabéticos da unidade – idosos com comorbidades, com uso de polifármacos, cuja adesão ao tratamento, tanto medicamentoso quanto não medicamentoso, não atende as expectativas da equipe assistente. Destaca-se a importância e a necessidade do seguimento multidisciplinar e da integralidade do atendimento à saúde do paciente diabético, pois a grande maioria dos 90 pacientes diabéticos identificados não tem seus pés examinados e não realizam os exames previstos nas diretrizes anualmente. Desenvolver esta ação foi, com certeza, uma experiência marcante na vivência da Atenção Básica, cujo conhecimento e prática jamais serão esquecidos.

Palavras-chave


Assistência Integral à Saúde; Estratégia Saúde da Família; Diabetes Mellitus

Referências


SÃO PAULO. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2014-2015. São Paulo, 2015.

 

DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Grupo de Trabalho Internacional Sobre Pé Diabético. Consenso Internacional Sobre Pé Diabético. Distrito Federal, 2001.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação nacional de hipertensão e diabetes. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.sbn.org.br/pdf/vigitel.pdf.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. VIGITEL: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília, 2014. Disponível em: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/72/553a243c4b9f3.pdf.