Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CONHECIMENTO DO ENFERMEIRO SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
ROSANA ALVES DE MELO, TÂMARA REQUIÃO PERALVA

Última alteração: 2015-11-17

Resumo


APRESENTAÇÃO: A violência é considerada um problema histórico que está presente desde o momento que a vida coletiva se desenvolveu, em que o homem criou formas de controle do meio e dos seus semelhantes, e faz parte de todos os contextos, permeando as relações em todas as classes sociais e étnicas. Dessa forma, é considerado um problema de saúde pública, que também acomete a economia mundial, interferindo nas despesas anuais da saúde, além de provocar a morbimortalidade da população, acarretando em dor, sofrimento e traumas. Dentre os mais diversos tipos de violência existente, a violência doméstica está bastante presente nos lares e tem o potencial de causar um impacto significativo na vida de todos os membros da família, mesmo que não deixe marcas visíveis.  Pode ser definida como aquele tipo de violência que acorre no espaço domiciliar, sendo causada por integrantes da própria família e por aqueles que não tenham um laço consanguíneo. É um tipo de violência que acomete mais crianças, adolescentes, mulheres e idosos, e em menor proporção os homens. É importante destacar que todos os casos suspeitos ou confirmados de violência doméstica devem ser notificados, no intuito de favorecer a proteção dos indivíduos que vivem em situação de violência, bem como de suas famílias. O atendimento no setor de emergência ao indivíduo em situação de violência é o primeiro contato deste com uma unidade hospitalar, onde deverá ocorrer o cuidado inicial e, diante das necessidades do indivíduo, deve haver uma abordagem adequada pela equipe multiprofissional, o que inclui a assistência de enfermagem. Isso possibilita a intervenção precoce e os devidos acompanhamentos necessários e encaminhamentos à rede de proteção. O profissional enfermeiro, como integrante da equipe de saúde, tem a função de auxiliar na assistência dos casos existentes, prestando uma assistência integral e resolutiva, o que poderá favorecer a quebra do ciclo da violência. Sua intervenção envolve o contato imediato, exigindo um atendimento humanizado e imparcial diante dos seus sentimentos, em meio à necessidade de solucionar o problema do indivíduo. O conhecimento e as estratégias adotadas, frente aos casos de violência doméstica, são cruciais para a condução dos casos, e isso envolve a necessidade do profissional enfermeiro ter conhecimento abrangente a respeito da temática, com uma visão assistencial integral, interdisciplinar, holística, humanizada e contextualizada, para que possa acolher, assistir e direcionar as pessoas em situação de violência. OBJETIVO: Assim, levando em consideração as diversas atribuições do enfermeiro nesse contexto, bem como a importância das práticas assistencialistas de sua responsabilidade, o presente estudo objetivou analisar o conhecimento do profissional enfermeiro que atua nos serviços de emergência hospitalar, sobre violência doméstica, bem como os diversos aspectos que a envolve esse fenômeno. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, desenvolvido no setor de atendimento de emergência de três hospitais públicos de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, que incluía atendimento de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Duas delas eram instituições de médio, e uma de grande porte. Os participantes do estudo foram enfermeiros que atuam no serviço de emergência das instituições supracitadas, que foram entrevistados no mês de maio de 2015, tendo como critério de inclusão estar atuando nesse setor há pelo menos seis meses, não necessitando, assim, possuir pós-graduação na área, no momento da entrevista. A coleta de dados se deu através de entrevista semiestruturada, em local reservado e no momento que fosse oportuno para o entrevistado, de forma assegurar sua privacidade e, ao mesmo temo não comprometer o desenvolvimento de suas atividades profissionais. Esta pesquisa foi previamente autorizada pelas instituições envolvidas, através da assinatura da carta de anuência. Posteriormente foi encaminhada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, da Universidade de Pernambuco, com aprovação em março de 2015, através do Parecer Nº 971.832. A análise de dados se deu através da técnica de análise de conteúdo temática, que é um método que prioriza o estudo da frequência das características presentes na mensagem, com extremo rigor científico; e propõe a análise das características ausentes da mensagem. RESULTADOS: De acordo com o resultado dessa pesquisa, pudemos observar que o profissional enfermeiro consegue, em sua maioria, descrever o que é violência doméstica, porém, nem sempre essa percepção resulta no entendimento dos tipos de violência domésticas existentes, assim como no reconhecimento de quem pode ser ou não agredido, acreditando que somente as mulheres são passíveis de sofrer violência nos lares. Também foi referido pela maioria dos entrevistados que os sentimentos de pena, raiva, desprezo e medo, despertados diante dos casos de violência doméstica assistidos, bem como o desconhecimento de como proceder diante desses casos, são fatores que limitam a realização da notificação, e de um atendimento humanizado e efetivo. A maioria associa a falta de conhecimento técnico científico a uma formação acadêmica deficiente nesses aspectos. Os resultados também nos mostrou que os profissionais entrevistados reconhecem a violência doméstica como é um problema expressivo na nossa sociedade, e mesmo existindo uma rede de proteção e diversos direitos a proteção dos indivíduos, é um fenômeno que afeta e deixa muitas sequelas físicas e emocionais, e que está presente dentro e fora dos lares, independente de questões socioeconômicas, culturais e étnicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para que haja um atendimento eficiente e eficaz por parte dos profissionais envolvidos na atenção aos indivíduos em situação de violência doméstica é necessária uma política de responsabilidade institucional, respaldando o profissional para a realização dos diversos protocolos necessários aos encaminhamentos a rede de proteção, o qual defina claramente o papel de cada membro, instituição, órgão governamental, setores da sociedade civil e profissionais no atendimento e prevenção da violência, para que assim se construa uma rede hierarquizada, articulada e contínua de ações, assim como para a notificação dos casos.  O enfermeiro, como integrante da equipe de saúde, necessita estar apto a prestar uma assistência de qualidade, tendo com preparo técnico-científico para atuar tanto no cuidado quanto na prevenção dos casos de violência, devendo estar atento para tais situações e promover a existência e/ou integrar as redes de atendimento locais. Diante disso, se faz necessário a inclusão do tema violência em todas as discussões, desde o momento da graduação, considerando que os profissionais em formação, possam atender e conduzir os casos em suas práticas diárias, sem envolvimento emocional, já que a violência se faz presente em todas as sociedades, nos diversos contextos, e atingindo todos os indivíduos, diretamente ou indiretamente. Esperamos que este estudo contribua para a reflexão sobre a temática da violência doméstica, embora saibamos que esse assunto não se esgota com os resultados dessa pesquisa, pelo contrário, esse foi apenas o recorte possível nesse momento e novos e mais aprofundados estudos precisam ser realizados como subsídio aos profissionais de saúde na prevenção e solução da violência doméstica, que atinge todos os indivíduos.

Palavras-chave


Violência doméstica; Conhecimento; Enfermeiros, Emergência hospitalar.

Referências


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