Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FORMAÇÃO EM METODOLOGIAS ATIVAS DOS TRABALHADORES DE SAÚDE DA ATENÇÃO BÁSICA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE
Maria de Fátima Francelino, Pollyanna Martins, Maria Lucila Magalhães Rodrigues, Silvinha de Sousa Costa, Liliana de Queiroz Martiniano Lopes, Dean Carlos Nascimento de Moura, Rafael dos Santos da Silva, Sueli Fátima Sampaio

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: No contexto da formação dos trabalhadores de saúde da Atenção Básica (AB), torna-se essencial pensar em uma metodologia que dialogue com os saberes construídos na prática comunitária, a fim de formar profissionais ativos e com competências éticas, políticas e técnicas. Para intervirem em contextos de incertezas e complexidades os trabalhadores da saúde devem ser capacitadas para desenvolver conhecimento, raciocínio crítico, responsabilidade e sensibilidade para as questões da vida e da sociedade¹. Nesta perspectiva, utilizar as Metodologias Ativas (MA) de ensino aprendizagem, como estratégia para fomentar a autonomia dos profissionais e ressignificar sua práxis para promoção da saúde, consistiu no objetivo de implantação do Projeto TENDAS (Tecnologias Educacionais no Desenvolvimento das Ações em Saúde). O projeto TENDAS é uma iniciativa da câmara técnica de educação permanente da Coordenadoria Regional de Saúde da 11ª Região de Saúde do Ceará, com sede em Sobral, para implementar a educação permanente para trabalhadores de saúde e qualificar as ações de promoção da saúde desenvolvidas na AB dos 24 municípios que compõem a região. Desenvolvimento do trabalho A experiência relatada ocorreu entre abril a agosto de 2015 e teve como cenário de prática a 11ª Região de Saúde de Sobral que é composta por 24 municípios e abrange uma população de 634.088². A região possui 216 equipes saúde da Família o que garante uma cobertura de 96,31% da população residente. Além disso, encontram-se implantadas na região 211 equipes de saúde bucal,  26 equipes de Núcleo Apoio à Saúde da Família (NASF) e 4 Academias da Saúde³. Para implementação do TENDAS foram realizadas reuniões com a câmara técnica da 11ª Coordenadoria Regional de Saúde do Ceará para a construção e elaboração do projeto que foi apresentado para apreciação e aprovação dos 24 secretários de saúde da região. Foram realizadas oficinas, facilitadas pelo corpo técnico da 11ª CRES, em 21 municípios da Região (Alcântaras, Cariré, Catunda, Coreaú, Forquilha, Frecheirinha, Graça, Groaíras, Hidrolândia, Irauçuba, Ipú, Massapê, Meruoca, Moraújo, Mucambo, Pacujá, Pires Ferreira, Reriutaba, Senador Sá, Uruoca e Varjota). Os sujeitos escolhidos para participar do processo de formação foram os trabalhadores da AB, trabalhadores vinculados a Academia da Saúde, trabalhadores do NASF, coordenadores do NASF e coordenadores de AB. Foram selecionados 12 profissionais para cada turma de formação por município. As oficinas foram estruturadas em quatro encontros de oito horas e foi reservado oito horas para estudo individual dos participantes e construção do portfólio. Optou-se pela problematização como estratégia de ensino-aprendizagem, com o objetivo de motivar o profissional de saúde a refletir sobre sua práxis, e buscar soluções para a realidade em que vive a fim de transformá-las pela sua própria ação, ao mesmo tempo em que se transforma. Os encontros foram divididos em quatro unidades educacionais (UE) que tiveram o objetivo de capacitar os profissionais de saúde para utilização das MA nos seus cenários de prática para fortalecimento das ações de promoção da saúde. As formações também intentaram formar facilitadores em cada município para que pudessem capacitar outros profissionais do serviço. As UE contemplavam dinâmicas de integração e acolhimento para fortalecimento do vínculo e afetividade entre os participantes e assim propiciar a criação da identidade de grupo em cada município. Nas UE os participantes vivenciaram as estratégias pedagógicas das MA, entre elas:  situações-problema, cine viagem, rodas de conversa, oficinas de trabalho, narrativas, técnicas de diagnóstico situacional participativas, construção da árvore de problemas, ferramentas para planejamento em saúde participativas. As estratégias pedagógicas, a partir de uma abordagem construtivista, incluíram temas como os fundamentos das MA, o papel do facilitador nas MA e promoção da saúde que foram aprofundados em textos de referência produzidos pela equipe técnica. O processo de formação foi avaliado no final de cada UE através de autoavaliação e de uma síntese reflexiva sobre as aprendizagens significativas construídas pelos participantes nas formações e apresentadas no portfólio. Um questionário foi elaborado para avaliação das formações, do desempenho dos facilitadores e da infraestrutura dos locais onde ocorreram os encontros. Os secretários de saúde foram convidados para relatarem as impressões percebidas sobre as formações e também para firmarem o compromisso de dar seguimento às oficinas de formação para todos os profissionais de saúde da AB de seus municípios. Os impactos da intervenção serão analisados após a conclusão das formações em todos os municípios da região. A equipe de facilitadores da CRES se reúne, semanalmente, para educação permanente onde ocorre a socialização das experiências nos municípios, planejamento e ajustes nas UE e capacitações para os técnicos. RESULTADOS ESPERADOS/OU IMPACTOS: Espera-se que as formações fortaleçam as ações de promoção da saúde na AB a partir da ressignificação das práticas dos trabalhadores de saúde. Para tanto, a leitura e análise das aprendizagens significativas relatadas pelos trabalhadores de saúde será essencial para compreensão dos impactos da formação nos seus processos de trabalho. Entre os indicadores quantitativos selecionados para monitoramento e avaliação do impacto do projeto destacam-se: 60% dos trabalhadores formados utilizarem estratégias de MA no seu processo de trabalho, 50% dos municípios realizem oficinas com todos os profissionais da rede básica de saúde, 50% dos municípios implantarem a educação permanente para os profissionais de saúde, 50% dos municípios realizem planejamento das ações de promoção da saúde. Apresenta-se abaixo alguns resultados preliminares das sínteses reflexivas sobre aprendizagens significativas no processo de formação: O desenvolvimento profissional nunca ocorre de forma perfeita, pois trata-se de um caminho cheio de obstáculos e desafiador, sempre reacendendo a necessidade de que cada indivíduo busque a superação de seus próprios limites e com isso crescendo em conhecimento[...] (R.M.M.M p.09) Foi extremamente válido acrescentar em meus conhecimentos que formar profissionais é trabalhar em uma situação em que o conhecimento tem que ser constantemente redimensionado, reelaborado e principalmente inovado […] (L.A.O. p.04) Durante encontros realizado pela 11ªCRES/Sobral, pude perceber o quanto a rotina e o trabalho as vezes mecanizado não nos permiti inovar, reciclar, e aplicar novos métodos para um trabalho que proporcione a reciclagem dos profissionais que trabalham na saúde pública […] CONSIDERAÇÕES FINAIS: A complexificação do processo de trabalho em saúde e dos cenários onde o trabalhador de saúde exerce sua prática exige que o profissional tenha autonomia para construir seu próprio conhecimento, ampliando seu campo de aprendizagem para desenvolver competências na busca de novas ferramentas para aumentar a resolutividade da Atenção Básica. A vivência dos trabalhadores de saúde na formação sobre MA permitiu a primeira aproximação para construção da autonomia na implementação das ações de promoção da saúde.  Ao mesmo tempo, a problematização de temas como metodologias ativas, promoção da saúde e planejamento gerou reflexões sobre os processos de trabalho que estavam sendo desenvolvidos nos municípios. Sendo este o primeiro passo para mudança e construção de uma prática reflexiva. A ousadia deste projeto consiste em transformar os processos de trabalho no âmbito da Atenção Básica a partir do uso das MA nas ações de promoção da saúde e planejamento. E o desafio é avaliar o impacto do uso destas metodologias, seus limites e potencialidades, na transformação das práticas em saúde.

Palavras-chave


Atenção Primária à Saúde;Capacitação de Recursos Humanos em Saúde;Trabalhadores da Saúde.

Referências


  1. Mitre Sandra Minardi, Siqueira-Batista Rodrigo, Girardi-de-Mendonça José Márcio, Morais-Pinto Neila Maria de, Meirelles Cynthia de Almeida Brandão, Pinto-Porto Cláudia et al . Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. Dez, 2008. 13( Suppl 2 ): 2133-2144.
  2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estimativas da população residente nos municípios brasileiros. 2014.
  3. Ministério da Saúde. Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil – CNES. Mês de referência: agosto de 2015.