Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A INTERAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ESCOLA NA SAÚDE DO ADOLESCENTE*
Lyvia Maria Torres Moura Donato, Sílvia Helena Mendonça de Moraes, Cristina Brandt Nunes, Maria Auxiliadora de Souza Gerk

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: As questões relacionadas com políticas públicas que levem em conta a saúde do adolescente são relativamente atuais1. No Brasil, após a promulgação da Constituição Federal2 é que foram empregados esforços no sentido de formular e implantar políticas de saúde voltadas aos adolescentes. O Programa de Saúde do Escolar (PSE), implementado em 2009 com a publicação do Caderno de Atenção Básica “Saúde na Escola”, possibilita ao adolescente espaço privilegiado na atenção à saúde, visto que parte dos escolares são adolescentes3, 4. A interação entre adolescentes e profissionais de saúde ainda é limitada, porém o PSE possibilita a criação de vínculo e transformação da informação científica em comportamentos saudáveis5. Pretende-se nesse estudo relatar a experiência de interação entre Estratégia Saúde da Família (ESF) e escola na promoção da saúde e prevenção de agravos à saúde dos adolescentes.  Descrição da Experiência: Trata-se de atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão denominado Atenção à Saúde do Escolar, realizado em concordância com o PSE e vinculado à ESF. Foi executado em 2010 com adolescentes entre 10 e 19 anos de uma escola municipal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS). A equipe participante do projeto foi constituída por docentes enfermeiras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), estudantes do curso de graduação em Enfermagem da UFMS e equipe multiprofissional da ESF. Foram objetivos do projeto: levantar dados com professores, coordenadores, inspetores, diretores, equipe multiprofissional de saúde, adolescentes e familiares sobre situações e problemas que necessitavam de abordagem na área de saúde do escolar; propor ações de saúde (educativas e cuidados) para as situações levantadas de acordo com a permissão dos pais ou responsáveis legais; realizar antropométrica e verificação dos sinais vitais; avaliar o crescimento e o desenvolvimento dos jovens; realizar educação em saúde, consulta de enfermagem com o adolescente, consulta de enfermagem ginecológica e obstétrica à adolescente; acompanhar o esquema vacinal; preencher a caderneta de saúde do adolescente (menina e menino); realizar encaminhamento de situações e problemas levantados para a equipe multiprofissional de saúde e para as redes de apoio. Os acadêmicos, acompanhados pelas docentes responsáveis, realizaram atividades de educação em saúde, verificação de calendário vacinal, avaliação de sinais vitais e dados antropométricos. Impactos: Foram realizadas 22 atividades educativas do primeiro ao nono ano do ensino fundamental, com os seguintes temas: pediculose; bullying; sexualidade e alterações no corpo do adolescente; gravidez na adolescência; drogas e álcool na adolescência; alimentação saudável; atividade física; hipertensão arterial; primeiros socorros. Nas atividades de educação em saúde, os temas eram propostos com base nas necessidades identificadas pelos acadêmicos e/ou funcionários da escola ou por escolha dos escolares, a partir dos temas contidos no Caderno de Atenção Básica Saúde na Escola 4. Foram utilizadas metodologias adequadas à linguagem e realidade dos adolescentes, em busca da coparticipação dos alunos, com execução de palestras, dinâmicas, rodas de conversas, dramatizações, paródias e fantoches. A finalidade dessas atividades foi promover e fortalecer o processo de educação em saúde com base na realidade local, com ideias propostas pelos escolares e desenvolvidas pelos acadêmicos, possibilitando, assim, a criação de vínculo entre escolares e equipe de saúde, que se apresentava como ponto de apoio para as necessidades sociais e de saúde. Na verificação de sinais vitais e dados antropométricos participaram 347 adolescentes, com avaliação de peso, altura, IMC, circunferência abdominal e pressão arterial. Buscou-se detectar precocemente qualquer alteração e intervir imediatamente com métodos não medicamentosos como: orientações quanto à alimentação saudável, prática de atividades físicas, redução/abandono do tabagismo e diminuição do estresse. Quando necessário, os adolescentes eram encaminhados à ESF e se realizava acompanhamento quinzenal pelos acadêmicos, com auxílio da Ficha de Avaliação Individual, construída para tal finalidade com o intuito de monitorar a saúde do adolescente e a avaliar a efetividade das condutas adotadas em cada situação. Dos 347 adolescentes avaliados, 67 (19,3%) apresentaram algum tipo de alteração. Destes, 63 (94%) foram encaminhados para consulta médica e um adolescente para consulta de enfermagem (1,49%). Os alunos que apresentavam alterações foram acompanhados na escola até o final do semestre.  A verificação do calendário vacinal tinha o objetivo de identificar e/ou indicar a atualização vacinal dos adolescentes em atraso. Essa ação encontrou dificuldade pois a maioria dos adolescentes haviam perdido as Cadernetas de Vacinação e não as levavam; quando conseguiam levá-las, a taxa de atraso vacinal era alta. Esta situação pode estar relacionada à diminuição da atenção dos pais e/ou responsáveis e o consequente descuido com a imunização. Os encaminhamentos para a ESF representaram o elo entre a escola e a equipe de saúde. Dessa forma, foram realizadas adequações nos processos de trabalho como: a ESF tornar-se “porta aberta” para atendimento primário de todos os escolares, independente de residirem na área de abrangência e criação de protocolos de verificação de sinais vitais padronizados na ESF e na escola. Considerações Finais: A saúde dos adolescentes tem se tornado prioridade na história atual de saúde em nosso país e no mundo. Porém, há várias dificuldades na atenção à saúde desta clientela, que estão ligadas na forma de como conquistar os adolescentes para que possam construir hábitos saudáveis de vida. Em parte, esse obstáculo é ultrapassado quando se muda o lócus de atendimento para a escola. O PSE mostra ser uma evolução na história de políticas públicas de promoção à saúde de adolescentes ao permitir alcançar os adolescentes que frequentam as escolas e, desse modo, fornecer atenção primária à saúde. O projeto ofereceu subsídios para a integração ensino-serviço; possibilitou cuidados à saúde dos adolescentes com articulação à ESF; facilitou o alcance das metas pactuadas pelo município de Campo Grande/MS com relação à saúde do adolescente; e, viabilizou a execução dos cuidados propostos pelo PSE. A conexão de projetos acadêmicos ao trabalho das equipes de Saúde da Família se mostrou efetiva na promoção da saúde dos adolescentes. A interação entre ESF e escola foi vantajosa para todos, em especial para os adolescentes, que receberam atenção na promoção e prevenção de agravos.* Resumo expandido de artigo6.

Palavras-chave


Estratégia Saúde da Família. Saúde do Adolescente. Promoção da Saúde

Referências


REFERÊNCIAS

1. Correa ACP, Ferriani MGC. A produção científica da enfermagem e as políticas de proteção à adolescência. Revista Brasileira de Enfermagem. 2005; 58 (4): 449-53.

2. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado. 1988.

3. Brasil. Presidência da República. Decreto nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007. Institui o Programa Saúde na Escola – PSE, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Poder Executivo. Brasília, DF; 2007.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de Atenção Básica: Programa Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.

5. Santiago LM, Rodrigues MTP, Oliveira Junior AD, Moreira TMM. Implantação do Programa Saúde na escola em Fortaleza-CE: atuação de equipe da Estratégia Saúde da Família. Revista Brasileira de Enfermagem. 2012;  65(6): 1026-1029.

6. Donato LMTM, Moraes SHM, Nunes CB, GERK MAS. A interação entre ESF e Escola na saúde do adolescente. Cadernos da ABEM Associação Brasileira de Educação Médica. 2012, 8(1): 13-19.