Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES E A CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVIDADE DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA SERFIS
Christianne Fernandes Garcia, Lúcia da Rocha Uchôa Figueiredo

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


O trabalho ocupa lugar na vida das pessoas e pode-se pensar que seria este um fator relevante na construção de subjetividade e de produção de auto-interrogação no plano individual e coletivo. Essa situação demonstra a necessidade de se buscar novas formas de relacionar-se e um dos caminhos possíveis é trabalhar em equipe multiprofissional pautada na interdisciplinaridade como uma contribuição qualitativa das especialidades. A partir da hipótese de que revisitar e problematizar a própria trajetória profissional poderia interferir no reconhecimento da necessidade do trabalho interdisciplinar nas práticas em saúde, um dos objetivos desta pesquisa é conhecer a trajetória profissional da equipe da SERFIS – Seção de Reabilitação e Fisioterapia de Santos, bem como identificar se estes profissionais trabalham ou reconhecem a importância de um trabalho interdisciplinar. A pesquisa é qualitativa numa perspectiva sócia histórica, de caráter transversal descritivo e prospectivo. Está aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, atendendo ao estabelecido na Resolução nº 466/12 sob o número 1.094.179. Os participantes são a equipe multiprofissional da SERFIS considerando-se dois profissionais de cada segmento que compõe a equipe: Psicólogo, Assistente Social, Médico, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Enfermeira e Fonoaudiólogo. A coleta dos dados está acontecendo em duas etapas: questionário individual para caracterização dos profissionais, já realizado e num segundo momento, quatro encontros de Grupos Focais (GF), sendo dois com a equipe da manhã e dois com a equipe da tarde com duração de 1 hora e 30 min. a 2 horas cada encontro. Entende-se que esta técnica possibilita reunir pessoas com alguma característica ou experiência comum para discussão e reflexão e também observar e registrar diferentes opiniões, atitudes, sentimentos e pensamentos expressos verbalmente ou não. Os dois primeiros grupos já aconteceram e foram realizados com a equipe da tarde com cinco profissionais. A escolha se fez mediante o aceite dos primeiros profissionais que fizeram parte dos critérios de inclusão. As reuniões aconteceram nos mês de Agosto de 2015 em dia e hora combinados com a equipe, na própria unidade em sala privada e preparada antecipadamente para os encontros. O registro aconteceu por meio de gravações e de anotações de um observador. Foi utilizado o vídeo “O último tricô”, como disparador para os diálogos com o objetivo de favorecer a reflexão sobre a importância da subjetividade e interdisciplinaridade no âmbito do trabalho bem como uma revisita e consequentemente um repensar sobre a própria história. As questões disparadoras sobre a trajetória profissional auxiliaram este processo: Como chegou a Serfis? Onde sua história começa? Conte um pouco de sua formação e inserção neste serviço, como foi?  Conte sobre sua formação: do sonho da formação ao cotidiano do trabalho hoje. A equipe, após relatos individuais, criou um desenho coletivo sobre a questão da interdisciplinaridade a partir de suas marcas profissionais e pessoais, como um meio de criar articulação com o próximo encontro. No segundo encontro, resgatou-se o desenho como objeto disparador e também as seguintes questões: Quais as três palavras que surgem ao pensar em interdisciplinaridade? Falava-se em interdisciplinaridade quando você se formou? De que maneira? Você consegue observar uma prática interdisciplinar no seu cotidiano em serviço? Como? Relate um momento, uma cena do trabalho que você considerou que foi um atendimento interdisciplinar. Pensando sobre a produção e reconhecimento da existência de subjetividade vem sendo observado nestes encontros: como eles percebem a interdisciplinaridade instalada ou não na sua práxis e no cotidiano da unidade, quais foram os caminhos escolhidos até o momento presente, relatos sobre a formação, a continuidade da formação, os rompimentos, evoluções e outros conteúdos. Os Procedimentos para análise dos dados se fará de forma qualitativa, pois sua utilização é indispensável quando os temas pesquisados demandam um estudo fundamentalmente interpretativo. Considerações: As gravações ainda estão sendo transcritas e outros dois grupos com a equipe da manhã irão ocorrer. No primeiro encontro realizado, apenas o Psicólogo afirmou ter uma formação interdisciplinar e embora todos tenham dito que na dinâmica do serviço a interdisciplinaridade ocorra cotidianamente, pode-se observar certa incoerência deste fato a partir de uma primeira escuta das gravações e do olhar do observador externo, considerando-se os relatos durante o grupo, a postura corporal e a dinâmica que se estabeleceu durante o processo do GF.  No entanto, no segundo encontro aprofundou-se a temática da interdisciplinaridade a partir do desenho coletivo que haviam realizado na anterior e também a partir das questões disparadoras e neste encontro observou-se que um dos profissionais reconhece que na dinâmica do trabalho muitas vezes, a questão da interdisciplinaridade fica esquecida, devido à exigência de produtividade em atendimento ou mesmo por certo abandono desta questão. Sugere o resgate das reuniões da equipe para discussões de caso, mas também como forma de partilha de angústias, experiências e conhecimento, o que é prontamente acolhido por todos. Estando a coleta ainda em andamento não é possível ter-se uma representação significativa para uma interpretação que permita compreender se os objetivos propostos foram contemplados. Acredita-se, porém, que a possibilidade de revisitar e problematizar a própria trajetória profissional pode interferir positiva e diretamente no reconhecimento da ampliação da percepção dos profissionais da Serfis e que este feito poderá contribuir para a compreensão de como as identidades sociais e profissionais foram e são construídas, trazendo, portanto sentido no fazer cotidiano e nas relações. Um trabalho que reconheça o ser humano como um indivíduo integral e pertencente a um contexto sócio histórico tem proposta de resgatar conceitos éticos e valores humanos que possibilitem a transformação pessoal e consequentemente a transformação do coletivo por meio das percepções-ações daqueles que já reconheceram a necessidade da mudança. Espera-se, que a partir desta pesquisa, seja reconhecida e efetivada a criação de espaços e tempos de reflexões a respeito do cotidiano dos trabalhos e das relações interpessoais que nele se estabelecem. Baseada em experiências anteriores desta pesquisadora como psicóloga e educadora preocupada com o desenvolvimento do ser, observa-se a necessidade urgente de se realizar encontros e diálogos pautados em valores fundamentais, éticos, transcendentes e cooperativos, destacando a dimensão saudável dos trabalhadores e suas potencialidades. Como iniciativa pretende-se a partir da escuta e da acolhida dos trabalhadores da Serfis, apresentar a Secretaria de Saúde de Santos um projeto de caráter interdisciplinar que terá como objetivo principal criar espaços de diálogos no referido equipamento promovendo um tempo educacional pautado na criatividade, na troca de saberes e partilha, bem como na promoção de saúde dos trabalhadores.

Palavras-chave


Subjetividade; Saúde do trabalhador; Educação em Saúde; Trajetória Profissional; Interdisciplinaridade.