Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família e sua Contribuição com a Clínica Ampliada na Psicologia
Flávio Aparecido Zanaldi, Conrado Neves Sathler, Catia Paranhos Martins

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Este trabalho faz parte do projeto de extensão Acompanhamento e apoio técnico ao Programa Nacional de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) que está sendo realizado pelos alunos do último ano do curso da psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no estágio Supervisionado em Psicologia Social e Comunitária. De acordo com SILVA e YAMAMOTO (2013), ao longo da história, o psicólogo seguia um modelo clinico, com uma clientela elitizada e com um ideal individualista que sustentava essa prática, já atualmente, uma nova configuração está se formando, havendo novos locais de atuação e uma ampliação teórica. Entre esses novos locais de atuação se encontra o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), que constitui uma forma de apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família (ESF), ampliando sua abrangência e sua resolutividade. O NASF é composto por equipes multiprofissionais que trabalham de forma integrada com as equipes de ESF, compartilhando seus saberes e construindo um sistema de saúde mais forte, integrado e seguindo diversas diretrizes. De acordo com o Ministério da Saúde (2013), a integralidade pode ser considerada a principal diretriz a ser praticada pelos NASF, sendo compreendida em três sentidos, o primeiro se refere a abordagem integral do indivíduo, levando em consideração os contextos sociais, familiares e culturais, o segundo sentido teria as práticas de saúde organizadas a partir da integração das ações de promoção, prevenção reabilitação e cura,  e em terceiro a organização do sistema de saúde de forma a garantir o acesso às redes e em conformidade à necessidades da população. Além da integralidade, outros princípios e diretrizes são importantes para orientar as ações do NASF, como: território, educação popular em saúde, interdisciplinaridade, participação social, intersetorialidade, educação permanente em saúde, humanização e promoção da saúde. A Psicologia, neste contexto, tem a oportunidade de praticar a clínica ampliada que, de acordo com o Ministério da Saúde (2004), é um compromisso radical com o sujeito doente visto de modo singular, assumindo a responsabilidade sobre os usuários de serviços de saúde, buscando ajuda em outros setores, reconhecendo os limites do conhecimento dos profissionais e suas tecnologias e, por fim, assumir um compromisso ético. Percebe-se a importância desse programa e, principalmente, sua efetividade quando se observam suas ações, um exemplo é a ação antitabagismo do NASF quanto ao, na qual está sendo realizado na sede da ESF. “O tratamento das pessoas tabagistas deve ser realizado prioritariamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), devido ao seu alto grau de descentralização e capilaridade” (MINISTÉRIO DA SÁUDE 2010). De acordo com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (2014), o tabagismo é, reconhecido como uma doença crônica resultante da dependência à nicotina e um fator de risco para mais de 50 doenças, podendo resultar em vários tipos de câncer , asma, infecções respiratórias e doenças cardiovasculares. Sua prevalência vem reduzindo progressivamente, entretanto, ainda mostra-se expressiva em certas regiões e grupos populacionais mais vulneráveis. O tratamento do tabagismo inclui uma avaliação clínica, com uma abordagem em grupo e, quando necessário, uma terapia medicamentosa. No caso a terapia de reposição de nicotina, ocorre por meio do adesivo transdérmico 7mg, 14mg e 21 mg., goma de mascar 2mg, pastilhas 2mg e cloridrato de bupropiona 150 mg.. O grupo antitabagismo estava programado para durar três meses, as reuniões ocorreram em uma sala na UBS, sendo dirigidas por uma equipe multiprofissional, entretanto na maioria das reuniões foi dirigida por uma psicóloga do NASF, mas, ela contava com o apoio da nutricionista, da fisioterapeuta e do médico da UBS. A metodologia utilizada foi a observação participante, que adota uma abordagem qualitativa consistindo na inserção do pesquisador no grupo observado, tornando-se parte dele e interagindo com os sujeitos. De acordo com Marconi e Lakatos (2003) a observação participante consiste na participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste.  A observação participante é uma tentativa de colocar o observador e o observado do mesmo lado, tomando-se o observador um membro do grupo fazendo-o a vivenciar o que eles vivenciam. O grupo Anti-Tabaco, teve duração de três meses, as reuniões ocorriam em uma sala na UBS, haviam alguns obstáculos principalmente quanto a infraestrutura , como a falta de cadeiras, pouca circulação de ar , balança quebrada, outro problema era  a dificuldade em encontrar os prontuários, o que gerava uma certa frustração tanto na equipe quanto aos usuários. O que se percebeu nesses três meses com o grupo Anti-Tabaco foi a interação da psicologia com os demais profissionais da saúde, uma desconstrução do antiquado método de se fazer clínica, que se baseava em uma experiência individual e atendia apenas uma classe elitista da sociedade; com o NASF, a psicologia ganha a oportunidade de mudar sua forma de trabalho e atuar por meio de uma clínica ampliada, nesse sentido, conhecendo e se fazendo conhecer como algo aberto a todos os públicos e não apenas aqueles que tem condições financeiras maiores. Os integrantes do grupo relataram o quanto aquela oportunidade era valiosa para enfrentar a dificuldade de ser um tabagista, interessante também ressaltar que em nenhum momento o grupo foi pressionado a ter uma postura de abstinência total, respeitando assim a singularidade de cada indivíduo, além disso, o assunto de cada encontro não se pautava no cigarro em si, mas em outros pontos, como a ansiedade, dia a dia dos usuários, seus desejos, suas alegrias, tristezas, hábitos alimentares entre outros assuntos que possibilitavam uma maior reflexão quanto ao cigarro, e não apenas um discurso de saúde e doença. Portanto, a inserção da psicologia em um programa como o NASF, torna possível abranger um maior número de pessoas, não limitando seu campo de conhecimento e além disso, pode contribuir para uma construção de um Sistema Único de Saúde que garanta a população igualdade de acesso, universalidade e integralidade, possibilitando um maior desenvolvimento da atenção primária, melhorando a qualidade da saúde nas comunidades que possuem as UBS.

Palavras-chave


Psicologia da Saúde, Atenção Básica à Saúde, Integralidade, SUS.

Referências


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