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O trabalho da atenção à crise em um CAPS II: o desafio de ser substitutivo
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
A Política Nacional de Saúde Mental (PNSM) em vigor, sintonizada com as formulações da Organização Mundial de Saúde e com os princípios do SUS, caracteriza-se como uma Política territorial, de base comunitária e apoiada na Estratégia da Atenção Psicossocial (Eaps). Com a perspectiva da integralidade e a lógica territorial do SUS, a PNSM busca consolidar o processo de transformação da assistência às pessoas em sofrimento psíquico, de um modelo manicomial-hospitalocêntrico para o modelo territorial-comunitário que, prevendo a construção de um lugar de participação social para o louco, possa substituí-lo. Com essa perspectiva, desenha-se um modelo de cuidado em liberdade. Dentro desse desenho, o CAPS é um equipamento estratégico da Rede de Atenção Psicossocial em sua missão substitutiva. A Atenção à Crise aparece como um eixo fundamental para o êxito do ofício de cuidado substitutivo desse serviço. Ao mesmo tempo, é reconhecida pelo Ministério da Saúde como um dos maiores desafios do campo da Atenção Psicossocial, materializado dentro do trabalho das equipes em seus ofícios de fazer avançar as práticas psicossociais. Atuando como um braço de investimento na direção dos enfrentamentos necessários rumo à consolidação do modelo defendido pela PNSM, a nossa pesquisa teve como objetivo conhecer operacionalização da Atenção à Crise em um CAPS II, bem como avaliá-la, frente aos princípios da Eaps, na perspectiva dos seus trabalhadores. Inspirados na metodologia da Pesquisa-interventiva e no ideário político-social da Análise Institucional, ofertamos através de entrevistas de implicação, um espaço de reflexão e troca aos trabalhadores possibilitando que eles se lançassem em auto avaliações, por meio da construção de compreensões acerca do modo como operam, a finalidade de suas ações, os desdobramentos das ações nos usuários, bem como os seus lugares enquanto atores dessas ações. Resultados indicam dificuldades em “dar conta” da crise. O hospital psiquiátrico aparece como um recurso quando os suportes familiares e dos CAPS III da rede não podem ser acionados. Um aspecto macropolítico apontado como elemento de forte interferência nas dificuldades identificadas no trabalho da atenção à crise foi a falta de suporte de rede, revelando um analisador: o “enfartamento do serviço”. Enfartamento que indica também um enfraquecimento da ação micropolítica dos trabalhadores. Tais resultados sinalizam que o cuidado à crise é desenvolvido sem conexão tenaz com os princípios éticos-políticos da Eaps. Ao mesmo tempo, a construção de ações intersetoriais, os vínculos bem constituídos, a participação do usuário e o apoio matricial indicam uma trilha de cuidado mais potente para fazer frente às demandas complexas das situações de crise.
Palavras-chave
trabalho; atenção à crise; CAPS