Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Cuidador informal: a complexa tarefa de cuidar de idosos
Lêda Maria Leal de Oliveira, Bárbara Costa, Lizandra Souza, Rafaela Silva, Thayane Detoni, Maria Regina Netto, Meyriland Friaça

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Introdução O processo de envelhecimento populacional é uma realidade vivenciada mundialmente. Inicialmente este fenômeno esteve mais afeto aos países desenvolvidos, porém, mais recentemente está progredindo de forma acentuada nos países em desenvolvimento, até mesmo nos que apresentam uma grande população jovem. Particularizando o cenário brasileiro observa-se que o processo de envelhecimento da população vem ocorrendo de forma acelerada, devido à expressiva redução da taxa de fecundidade que passou de 6,28 filhos por mulher em 1960 para 1,90 filhos em 2010 e ao aumento da longevidade dos brasileiros. Quanto a este último aspecto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), informa que a expectativa de vida ao nascer, neste mesmo período, aumentou 25 anos, chegando a 73,4 anos em 2010. O dado mais recente do IBGE (2013), revela que em 2013 a expectativa de vida do brasileiro chegou a 74,8 anos. O acelerado processo de envelhecimento da população brasileira gera desafios para o país, sobretudo no que diz respeito à política de seguridade social, mais particularmente no âmbito da saúde. (CARVALHO; GARCIA, 2003). As doenças próprias do envelhecimento assumem particular importância para toda a sociedade. Via de regra são crônicas e múltiplas, persistem por muitos anos e requerem acompanhamento constantes e diários, medicação contínua e exames periódicos. Essas doenças geram diminuição da autonomia e autocontrole, fazendo com que seus portadores necessitem frequentemente de cuidadores (FERREIRA et al., 2012). Os cuidadores de idosos são pessoas que assumem a tarefa de cuidar de um idoso. São considerados formais ou informais. No primeiro caso enquadram-se aqueles que são contratados para exercer a função de cuidador. Normalmente são profissionais capacitados para o cuidado com formação de auxiliar ou técnico de enfermagem. Os cuidadores informais, ao contrário do formal, são aqueles que desempenham cuidado não profissional, sem receber nenhuma remuneração, podendo ser familiares, amigos, vizinhos. São, como afirmam Rocha, Vieira e Sena (2008, p. 802) "voluntários que se dispõem, sem formação profissional específica, a cuidar de idosos, sendo que a disponibilidade e a boa vontade são fatores preponderantes" A OMS (2005) admite que no Brasil e no mundo os cuidadores informais são essenciais para o cuidado com idosos. Contudo, adverte que estes sujeitos necessitam de auxílio na prestação de cuidado aos idosos e ainda consigo mesmo, posto que cuidar do idoso pode acarretar o adoecimento do próprio cuidador. Neste estudo procuramos adensar o debate em torno destes sujeitos - cuidadores informais -,  a partir de um estudo realizado em uma Unidade de Atenção Primária á Saúde (UAPS de Parque Guarani) de Juiz de Fora/MG. O estudo teve como principal propósito refletir sobre a função de cuidador informal de idosos, observando os impactos da atividade em suas vidas. Método: Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa. Iniciamos o estudo com uma ampla Revisão Bibliográfica sobre a temática em foco. Salientamos que esta revisão acompanhou todo o processo de construção da pesquisa, não se constituindo em um momento estanque. O contato com a literatura já produzida foi fundamental para que pudéssemos fazer uma análise crítica sobre a situação dos cuidadores de idosos e, sobretudo, para embasar a discussão dos resultados da pesquisa. A Coleta de Dados foi efetivada através de entrevistas realizadas com 15 cuidadores. Para a seleção dos entrevistados trabalhamos com os critérios: a) ser cuidador informal; b) o idoso, do qual é cuidador, residir na área de abrangência da UAPS de Parque Guarani/Juiz de Fora/MG; c) o idoso, do qual é cuidador, ser acompanhado no domicílio pela equipe de saúde da UAPS; d) o idoso, do qual é cuidador, ter acima de 60 anos. Os entrevistados foram identificados a partir de prontuários de idosos, arquivados na UAPS de Parque Guarani. Para a Análise dos Dados, utilizamos a proposta metodológica defendida por Minayo (2010). Segundo a autora, a análise dos dados "obedece" três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. A pré-análise é a fase de organização e sistematização do material a ser analisado. A exploração do material pressupõe analisar o texto em função das categorias formadas anteriormente para sua compreensão. A interpretação "ocorre a partir de princípios de um tratamento quantitativo. Entretanto, (...) nesta fase devemos tentar desvendar o conteúdo subjacente ao que está sendo manifesto. Sem excluir as informações estatísticas, nossa busca deve se voltar, por exemplo, para ideologias, tendências e outras determinações características dos fenômenos que estamos analisando" (GOMES, 2002, p.76). Resultados Os dados revelaram que os cuidadores são em sua maioria mulheres, relativamente jovens, com idade variando sobretudo no intervalo entre 45 a 50 anos, com ensino fundamental incompleto. Explicitaram que a tarefa de cuidar normalmente é solitária o que gera uma sobrecarga emocional, física e mesmo financeira. Esta sobrecarga traz consequências para a vida dos cuidadores, significando, na maioria das vezes, um isolamento social, renúncia ao trabalho, negligência com a própria saúde, cansaço. É também  prejudicial  para  o idoso, já que pode comprometer todo o processo de cuidar. Em que pese os impactos produzidos na vida e saúde dos cuidadores, o cuidar é associado à ideia de troca e retribuição e, por isso mesmo, aparece carregado de sentimentos de amor, doação, carinho. Este emaranhado de sentimento, associado à sobrecarga, aludida anteriormente, demonstram a natureza complexa do cuidado informal. Como principais obstáculos os entrevistados elencaram: a dificuldade em compartilhar a tarefa com outros; a grande dependência da pessoa cuidada; o acesso aos serviços de saúde pública; a dificuldade em encontrar os remédios necessários para o idoso, sendo, muitas das vezes, necessário entrar com ação judicial; o descaso de hospitais no atendimento; em alguns momentos a  carência de capacitação técnica para cuidar do idoso. Considerando estes "achados" fica evidente a necessidade de criar estratégias de suporte aos cuidadores informais. Este parece ser o grande desafio para os serviços de saúde, sobretudo da atenção primária à saúde. Há que se criar redes de apoio as famílias; há que se proporcionar um suporte psicológico, emocional; há que se capacitar tecnicamente os cuidadores; há, enfim, que se cuidar dos cuidadores.   Considerações Finais Consideramos que trazer à tona esta discussão pode contribuir para uma ação mais efetiva, sobretudo no âmbito da saúde, voltada para os cuidadores informais de idosos. Conhecer estes cuidadores e a situação em que se encontram possibilitará pensar em formas de atenuar o desgaste, prevenir agravos à saúde e contribuir para a qualidade de vida destes sujeitos.

Palavras-chave


cuidador informal; envelhecimento; assistência à saúde

Referências


CARVALHO, J. A. M.; GARCIA, R. A. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. In: Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 3, n. 19, p. 725-733, maio/jun. 2003.

FERREIRA, H. T. et al. O impacto da doença crônica no cuidador. In: Rev. Bras. Clin. Med. São Paulo, v. 10, n. 4, jul./ago. 2012. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=646049&indexSearch=ID>. Acesso em:  26 abr. 2014.

GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social (Org.). Teoria, Método e Criatividade, Petrópolis: Vozes. 2002.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2012. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 15 maio 2015.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2013.  Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 15 maio 2015.

MINAYO, Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2010.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (Brasil). Envelhecimento Ativo: uma Política de saúde. Brasília: OMS, 2005.

ROCHA, M. P. F., VIEIRA, M. A., SENA, R. R. Desvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idosos. Revista Brasileira de Enfermagem Brasília, v. 6, n. 61, p. 801-808, nov./dez. 2008.