Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PET-VIGILÂNCIA EM SAÚDE - ODONTOLOGIA E PACIENTES DIABÉTICOS
ANA ELISA RIBEIRO, MÁRCIA HELENA BALDANI, ROSILÉA CLARA WERNER, DAYANE BOBATO

Última alteração: 2016-01-26

Resumo


A Diabetes foi considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1097, um problema de saúde pública. A classificação atualmente está dividia em quatro classes clinicas segundo a OMS, a Associação Americana de Diabetes e SBD, estando presente a DM tipo 1, DM tipo 2, outros tipos específicos de DM e a DM gestacional. Estabelecendo a DM como um problema de saúde público e segundo a Lei N 11.347, de 27 de Setembro de 2006, fica sob responsabilidade do Sistema Único de Saúde fornecer o amparo legal ao paciente portador da DM, estando o mesmo no direito de receber diagnóstico e tratamento do diabetes nas unidades de saúde, além de medicação e acompanhamento rotineiro do usuário. Além de ser um assunto de interesse público, cabe também ao programa PET-Vigilância, o qual está inserido no estudo das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), dentre as quais a DM, fazer uso de suas atribuições e buscar melhorias para o percurso da doença. Unindo o diabetes mellitus ao programa PET, nasceu a ideia de investigar o perfil de pacientes portadores da mesma, usuários do SUS e residentes no bairro Jardim Paraíso, na cidade de Ponta Grossa e atendido pela Unidade de Saúde Cleon de Macedo, na qual um grupo PET está inserido e foi o responsável pelo desenvolvimento um projeto de pesquisa visando identificar os pacientes que necessitam do uso de insulina diariamente. Estabelecendo uma ligação com a Odontologia, percebe-se que o DM exige conhecimento especifico dos profissionais, sendo necessário saber diagnosticas, orientar e acompanhar os pacientes diabéticos e buscando obter dados concretos, questões norteadoras foram direcionadas aos pacientes, em relação à presença de xerostomia, uso de próteses, higienização, entre outros dados que serão discutidos posteriormente. Aprovado em 2013, o PET-VS se configura como um espaço multiprofissional e integra estudantes de Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Medicina, Educação Física e Serviço Social. Foi desenvolvido um estudo do perfil destes indivíduos, através de visitas domiciliares para aplicação de um questionário pré-testado (parecer COEP 172.965), as quais eram acompanhadas por Agentes Comunitários de Saúde. A equipe fez um levantamento do número de pacientes portadores de DM, que fazem o uso continuo de insulina e outro passo do projeto foi a criação de um ficha de visita domiciliar, a qual contém dados abrangentes das diversas áreas envolvidas no estudo. As visitas domiciliares foram realizadas uma vez por semana conforme disponibilidade das alunas e das ACS, avisando previamente os pacientes e solicitando a participação dos mesmos no presente estudo. A entrevista ocorreu em forma de diálogo, tendo como devolutiva aos pacientes, esclarecimentos de dúvidas, informações sobre a doença, métodos de prevenção de agravamentos, dicas de como melhorar a condição atual, entre outros pontos abordados. Após coleta dos dados, as alunas retornavam à unidade de saúde e em conjunto preenchiam a ficha do paciente descrevendo toda visita domiciliar e as informações coletadas na mesma, objetivando repassar as mesmas para os profissionais da unidade, solicitando se necessário auxilio da equipe em prol dos pacientes visitados.A equipe conseguiu efetuar as 30 visitas domiciliares (das 31 visitas programas), sendo o questionário preenchido conforme a condição de cada paciente permitiu. Quando questionados sobre a xerostomia, em linguagem coloquial “boca seca”, quatorze pacientes relataram portar este sintoma, dois não responderam e outros 14 disseram não notar a alteração a qual é um dos sintomas mais comuns em portadores de DM, também incluindo polidpsia, poliúria-nictúria, polifagia, emagrecimento rápido, dentre outros. Segundo YAMASHITA et al. (2013), a diminuição do fluxo salivar e o nível de glicose alterado pode facilitar a instalação de infecções fúngicas e o desenvolvimento de doença periodontal, entrando em cena neste momento, a participação do cirurgião dentista, que é o profissional habilitado para identificar e instruir o paciente a respeito desta alteração. VARGAS, A.C. (2012) relata que a diminuição da produção de saliva é referida por 10 a 30% dos pacientes diabéticos, e como consequência pode causar ulceras, queilites, língua fissurada e dificuldade de fixação de próteses dentaria. Como devolutiva aos pacientes que responderam positivamente à presença de xerostomia, os mesmos foram orientados a fazer ingestão constante de água, uso de enxaguantes bucais, controle glicêmico, utilização de ferramentas que estimulem a produção de saliva (gomas de mascar sem açúcar) e se necessário recorrer ao uso de saliva artificial. Os pacientes visitados também foram questionados quanto ao uso de prótese, 19 são portadores e 11 não. Resultado que condiz também com o estudo de TRUNKL, M.M et al. (2012), no qual 64% dos pacientes referiram usar algum tipo de prótese. O dado coletado caracteriza um índice de perda dentaria elevada, estabelecendo assim uma relação entre a doença periodontal e a diabetes, uma vez que, àquela quando não tratada pode acarretar em perdas dentarias. Entretanto o uso disseminado de prótese entre os pacientes avaliados não está relacionado somente à presença da DM, outros fatores podem culminar no edentulismo e consequentemente no uso de próteses, dentre os quais pode-se citar a doença cárie, traumatismo dentários, atitudes do profissionais de Odontologia e da população, acessibilidade e utilização dos serviços odontológicos, motivos de ordem econômica, entre outros, contudo a DM descontrolada ou a falta de correta atenção ao paciente portador, pode ocasionar o desenvolvimento de outras patologias que culminam na perda de dentes. Após os paciente serem questionados sobre o uso de prótese, a pergunta seguinte foi relacionada ao uso das mesmas no período noturno, dentre os 19 usuários que responderam positivamente ao uso, 13 relataram manter as próteses na cavidade oral durante a noite enquanto 6 afirmaram retirar para dormir. O resultado obtido vai de encontro com um estudo realizado por BOMFIN I.P.R., et al. (2008), realizado na cidade de João Pessoa/PB, no qual 71,2% dos 94 pacientes abordados pela pesquisa, relatam dormir com a prótese, fato que pode desencadear a presença de lesões bucais, principalmente em associação com outros fatores como a má higienização, mal adaptação das peças e tempo de uso. Os pacientes que afirmaram dormir com a prótese foram orientados a remover a mesma durante o período de repouso, sendo informados sobre os riscos que poderiam estar submetidos caso continuassem com o hábito atual. Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Ribeirão Preto, por PINTO, C.C.M, et al. (1999), dentre lesões mais comuns de serem encontradas em relação ao uso de prótese, pode-se citar a candidíase, hiperplasia fibrosa, queilite angular e ulcera traumática, notando-se a importância de se estabelecer um diagnóstico precoce, iniciar o tratamento e garantir prognósticos favoráveis, visando melhorar a qualidade de vida do portador da prótese, sendo o cirurgião dentista uma importante ferramenta para se obter este resultado, estando o mesmo, preferencialmente, inserido dentro de uma equipe multiprofissional, cuja  capacidade de fornecer um suporte integral para o paciente. Além do atendimento propriamente dito, a prevenção e promoção de saúde oral também têm papeis decisivos na cultura de uma condição bucal adequada, pois uma escovação realizada de forma correta, com escova macia e dentifrício especifico, reduz consideravelmente os níveis de biofilme e colabora para uma adequada saúde oral. Desta forma, um paciente diabético deve ser tratado normalmente, principalmente se houver um diálogo entre a odontologia e a outras áreas envolvidas.  

Referências


YAMASHITA, J.M., et al. Oral manifestations in patients with Diabetes Mellitus: a systematic review. Rev. odontol. UNESP, v.42, n.3, Araraquara May-June 2013.

VARGAS, A.C. Interrrelação diabetes mellitus e saúde bucal: construindo um protocolo de atendimento. Trabalho de conclusão de Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Uberada, MG. 2012.

TRUNKL, M.M, et al. Evaluation of oral hygiene habits of diabetic patients. Braz J Periodontol, v. 22, issue 02, June 2012.

PINTO, C.M, SILVA,S.Y.T.C, DARÉ A.M.Z. Avaliação preliminar das lesões da mucosa bucal associadas ao uso de prótese removível. Rev Odontol UNAERP, v.3, n.1, p. 3-9. 1999.

BOMFIM et al. - Prevalência de Lesões de Mucosa Bucal. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, v. 8, n.1, p. 117-121, Jan- Abr. 2008