Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A roda da afetAÇÃO: A Educação Permanente em Saúde entra na Tenda de Afeto Popular
Michele Neves Meneses, Liamara Denise Ubessi, Marcos Aurélio Lemões, Roberta Antunes Machado, Neidi Regina Friedrich, Vanda Maria da Rosa Jardim, Cristianne Maria Famer Rocha

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


Esse texto objetiva relatar a experiência das Tendas de Afeto Popular como espaço potente do exercício da Educação Permanente em Saúde, ocorrida na região do extremo Sul do Brasil, agenciada pelo Coletivo Povaréu Sul[1]. O Coletivo se articula pela via da Educação Popular na construção e defesa do SUS e trabalha com as estratégias do disparo, apoio e sustentação de processos para a constituição de ações em rede, na qual vários movimentos possam dialogar, a fim de buscar o sentido de um projeto coletivo popular de saúde. A Tenda do Afeto, como é popularmente conhecida, é uma Tenda de Educação Popular, uma das propostas da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS – PNEPS SUS. A Tenda atua como dispositivo de agenciamento de movimentos com o trabalho na saúde e que viabiliza o acontecimento, em ato, de Educação Permanente em Saúde. Em 2014, as Tendas abriram as ‘portas’ como um espaço de cuidado e problematização do trabalho junto a profissionais da saúde das Unidades de Estratégia de Saúde da Família e da Vigilância em Saúde do Município do Rio Grande. Também, via dispositivo da Tenda, em 2015 aquece-se a Luta Antimanicomial em Rio Grande populariza-se a discussão com a comunidade sobre a loucura e se constroem arranjos para a abertura das portas do manicômio- e, por consequência, seu fechamento - e a ampliação da rede de atenção psicossocial no município. As realizações das Tendas em vários locais e com a participação de diversos segmentos (profissionais de saúde, usuários e controle social) operam a partir dos princípios da amorosidade, do diálogo, da problematização; da construção compartilhada do conhecimento, da emancipação e do compromisso com a construção do projeto democrático e popular que estão inseridos na PNPES-SUS. Em outras palavras, é onde os conceitos se encontram na práxis, onde se entrecruzam e produzem saúde, que não ocorre sem a produção de sujeitos e subjetividades, pois para mudar as coisas, primeiro, muitas vezes requer mudar a si, mudar o ‘si’. E os encontros são potentes, neste sentido, pois nos deslocam de nossas certezas cristalizadas para incertezas profundas e nos ajudam a construir outras “certezas” a favor da produção da vida e da defesa permanente do direito à saúde. Entende-se as Tendas como dispositivos, ou seja, espaços de agenciamento, de encontro, de produção e disparos, ativação de outras conexões e feições. Espaço educativo, coletivo, com foco nas trocas de experiências entre diferentes atores e iniciativas das mais diversas áreas. São também uma oportunidade para que profissionais, estudantes, professores, técnicos, representantes dos movimentos sociais e populares deem visibilidade as suas ações e socializem as práticas de educação popular. Assim, esta experimentação de tendas não demarca uma área específica, mas um referencial teórico e metodológico que conduz essas práticas, promovendo o diálogo entre trabalhadores, professores e estudantes, como sujeitos em movimentos, por meio de práticas populares. Também é um espaço ampliador, que facilita a constituição de diálogos entre o espaço governamental e os movimentos sociais na formulação e implementação de políticas públicas, como é o caso da Educação Permanente e da Educação Popular em Saúde. Nas Tendas, há circulação ampla de pessoas, ideias, experiências, que possibilitam construir caminhos e trilhas que desencadeiam processos de reconhecimento e constituição de sujeitos, mobilizando entidades, movimentos e práticas de educação em saúde. Desse modo, as Tendas são dispositivos que possibilitam construir histórias, partilhar experiências e caminhar na busca por alternativas educativas, dialógicas e libertárias de práticas de saúde, de cidadania e de participação social. Assim, tem-se a Tenda de Afeto que se constitui através de espaços dialógicos, em que opera a Educação Popular. Para, além disso, são espaços de cuidado e conversação. São realizadas como possibilidade de cuidado diferenciado e compartilhado, com a problematização de temas das políticas de saúde e lutas sociais na concretização dos direitos humanos. As mesmas são produtoras de vida, por conversas e escutas e pela utilização de práticas populares de cuidado. Busca-se de fato neste espaço, efeitos e sentidos constituídos com base na amorosidade, respeito e construção compartilhada do conhecimento e do aprimoramento do SUS. As tendas são por fim, um dispositivo de acionar a sensibilidade das pessoas que se deixam compartilhar nestas teias de afeto. Dentro da organiz(ação) da Tenda vimos que os trabalhadores não são sujeitos passivos, não serão mero “recebedores” de conhecimento, pois todos terão que participar do processo de construção desses saberes e reflexões, bem como dos cuidados compartilhados. Portanto, todos trabalhadores serão também autores e produtores do conhecimento na medida em que se deparam com a realidade e esta os desafiam a produzir respostas, soluções a problemas do cotidiano do trabalho. Dessa forma, a Tenda que aqui apresentamos se articula e se (re)produz, pelo anseio na amorosidade entre as pessoas que a disparam no território Sul. Logo, busca articular o conhecimento e os processos educativos. As atuais formulações sobre os círculos são vivenciados na saúde ‘indescolada’ da educação, como possibilidade de releitura da ação no cotidiano dos trabalhadores da saúde e outros atores que se achegam a este, por meio de experimentações e feituras. Também, como o alternativo ou o ‘caminho’ para a produção de novas subjetividades, conectadas com o (re)pensar das atuações diárias dos profissionais da saúde, faz com que se busque o anseio de experienciar na prática novas formas de contato fora “muros” institucionais, de comprometimento com a construção de saúde a partir da subjetividade e das trocas de afeto. Ainda, instiga-se que a Tenda seja esse disparador de atividades com reflexão baseadas nos afetos e nas trocas de experiências, pois a potência de se trabalhar com a EPS está em se refletir diariamente o processo de trabalho em conjunto com as equipes institucionais e outros atores sociais, pois é ali que se dão os “nós[2]” individuais e coletivos. Portanto, é no cotidiano do trabalho em saúde que o saber técnico e já estruturado é (re)elaborado, a partir de um saber experiencial dos profissionais, que é produzido em ato, a partir da relação com o usuário e/ou com outros profissionais de saúde, que se populariza e ganha espaço o popular. Assim, é nesta perspectiva que a Educação Popular conversa com a EPS e reflete um posicionamento frente a diferentes correntes de pensamento sobre a saúde e permeiam o debate e a prática sobre a formação de recursos humanos. A EPS se apresenta como uma nova perspectiva para o redimensionamento das práticas em saúde, buscando promover a interação entre os atores envolvidos nessa construção e, a partir daí faz com que sejam incorporados novas atitudes, como o pensar, o saber, o fazer, o refletir, a interação, a integração e a (re)construção com os outros, o que por sua vez, também compreende a educação popular. [1] Coletivo de educadores populares do extremo sul do Rio Grande do Sul (Pelotas e Rio Grande). [2]“Nós” – nesse texto, refere-se aos problemas vivenciados  no campo do trabalho, das instituições e da sociedade.

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; Educação Popular; Profissionais de Saúde