Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Estudo de perfil do gestor municipal de saúde de uma Região de Saúde do estado de Minas Gerais
Liliany Mara Silva Carvalho, Joanito Niquini Rosa Junior, Paulo Henrique da Cruz Ferreira, Alessandra de Campos Fortes Fagundes

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Em 1990, foi aprovada pelo Congresso Nacional, a Lei Orgânica da Saúde, Lei 8.080, que atribui ao município a direção municipal do Sistema Único de Saúde (SUS), e a execução dos serviços, ficando a União e os Estados, responsáveis pela normatização, coordenação, controle, acompanhamento e avaliação. Em complementação a esta no mesmo ano a Lei 8.142 regulamentou a gestão pública do SUS em todos os níveis de governo. Assim, com o advento das referidas leis, tivemos a municipalização da saúde, que é um processo da descentralização da gestão do sistema de serviços até a base político-administrativa do Estado brasileiro, implicando no reordenamento dos papéis que cabem a cada uma das instâncias político administrativas, isto é, ao governo federal e aos governos estaduais e municipais. Municipalizar a saúde significa, portanto, trazer para a gestão municipal a capacidade de definir, junto com os munícipes, o que fazer com a saúde na sua área de abrangência, através da autonomia de gestão e descentralização de recursos financeiros. O município passa a ser um nível de grande importância nos processos de descentralização, por assumir novas funções e ser lócus de mudanças. Neste contexto, as políticas descentralizadoras representam novos desafios para a gestão tanto pela assunção de novas responsabilidades, como para instituição de mudanças. A gestão do sistema pode ser entendida como o conjunto de atividades políticas, técnicas e administrativas desenvolvidas com o propósito de assegurar a condução, o planejamento, a programação, a direção, organização e controle do sistema de serviços de saúde em sua totalidade. A partir das mudanças preconizadas pelo movimento da Reforma Sanitária e que desembocaram na construção do Sistema Único de Saúde (SUS), as transformações reivindicadas enfocavam, dentre outras, na qualidade da gestão dos serviços. A consolidação do SUS está intimamente ligada ao perfil dos atores que assumem e conduzem as diversas instâncias de governo. É neste sentido, por considerar que mais do que um administrador, o gestor do SUS é uma autoridade sanitária em cada esfera de governo, cuja ação política e técnica deve estar pautada pelos princípios da reforma sanitária brasileira e, considerando o significado estratégico da municipalização, é que o presente trabalho tem por objetivo a análise do perfil do gestor municipal de saúde da Região de Saúde de Diamantina. O trabalho foi realizado através de entrevista semiestruturada, com a utilização de técnicas qualitativas de pesquisa tanto para a coleta, quanto para a análise dos dados. O estudo foi desenvolvido na Região de Saúde de Diamantina, que de acordo com o Plano Diretor de Regionalização do Estado de Minas Gerais (PDR) compreende o total de quinze municípios, com extensão territorial de 14.266,1 km² e população estimada em 174.912 habitantes. São eles os seguintes municípios: Alvorada de Minas, Carbonita, Coluna, Congonhas do Norte, Datas, Diamantina, Felício dos Santos, Gouveia, Itamarandiba, Presidente Kubitschek, Santo Antônio do Itambé, São Gonçalo do Rio Preto, Senador Modestino Gonçalves e Serro. Esta pesquisa atendeu aos princípios éticos e à Resolução 446/2012 do Conselho Nacional de Saúde, com Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) de nº 840.133 de 21/10/2014. Todos os gestores municipais de saúde participantes desta pesquisa assinaram previamente a Autorização da Coleta de Dados em que consentiram que o município fosse participante da referida pesquisa. Somente após o consentimento dos 15 municípios o projeto de pesquisa foi aprovado pelo CEP. No momento da entrevista os participantes assinaram ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e ainda o Termo de Autorização de Uso de Imagem e Depoimentos. As entrevistas foram gravadas utilizando gravador digital Samsung Galaxy S4 e, em seguida, transcritas na íntegra no software Microsoft Word 2007 (®Microsoft Corporation), respeitando-se todas as falas. Por questões éticas neste trabalho os gestores, nosso objeto de pesquisa, foram denominados como G, sendo enumerados G1, G2, G3 e assim sucessivamente. Para a numeração dos gestores optamos por critério de sorteio, impedindo que o número fosse associado a ordem alfabética, localização geográfica ou outros. Os resultados deste trabalho mostraram que a maioria dos gestores tinham dificuldades para reservar um tempo para responder aos questionamentos, sendo frequentemente interrompidos e demonstrando que haviam tarefas imediatas e corriqueiras que necessitavam ser cumpridas, evidenciando as dificuldades de planejamento para realizar uma atividade previamente agendada. Além disto no momento das entrevistas ficou evidente a necessidade do gestor em se fazer politicamente presente para o atendimento a determinados usuários do serviço de saúde. Evidencia-se que a maioria dos gestores está situada na faixa etária entre 31 a 40 anos (65%), com média de 33,5 anos. A idade compreendeu entre 27 anos, o mais novo deles, e 64 anos o mais velho. Em relação a distribuição por sexo podemos notar que 34% são do sexo masculino e 66% do sexo feminino, mostrando uma disparidade, confirmando a forte presença feminina na força de trabalho em saúde. Dos 15 entrevistados 67% tem formação em nível superior, sendo que destes 50% formaram-se em algum curso relacionada à área de saúde; 6% tem nível técnico e 27% concluíram apenas o segundo grau. Questionados sobre a participação no curso “De repente... gestor”, curso voltado a formação de gestores municipais de saúde oferecido pelo Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (COSEMS), constamos que a maioria deles, 60%, não efetuaram o curso e uma minoria de 40% foi capacitada. Por fim avaliamos o tempo de gestão, a grade maioria compreendeu entre 1 ano e 1 mês a 2 anos como gestor municipal de saúde, seguidos de 20% que tem mais de 3 anos e 1 mês empatados com os que tem 2 anos e 1 mês a 3 anos, 13% revelou-se com menos de 1 ano. Destacamos aqui os extremos em que encontramos um gestor que tinha apenas 3 meses no cargo em comparação a outro com 24 anos de atuação no cargo. Os resultados demonstraram a importância de formação e capacitação dos gestores municipais de saúde evidenciando a necessidade de proposta de um perfil gerencial, que especifique as atribuições e responsabilidades do gestor municipal de saúde. Além disto, no momento das entrevistas ficou evidente a necessidade do gestor em se fazer politicamente presente para o atendimento a determinados usuários do serviço de saúde.

Palavras-chave


Gestor municipal de saúde; municipalização; estudo de perfil