Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Formação Profissional do Assistente Social na Saúde: uma proposta pedagógica
Lêda Maria Leal de Oliveira, Marina Monteiro de Castro, Sabrina Alves Ribeiro Barra

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: Trata-se do relato de uma experiência realizada na Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG no período de março a julho de 2015. Nossa proposta foi contribuir com o processo de formação profissional do assistente social na saúde na perspectiva da integralidade tendo a metodologia da problematização (MP) como principal referencia pedagógica. A estratégia empregada foi reformular uma disciplina - Laboratório em Áreas de Intervenção I -, já existente na matriz curricular do curso de Serviço Social da UFJF, utilizando a MP. Descrição da Experiência: Como mencionado propusemos reformular a disciplina "Laboratório em Áreas de Intervenção I". A disciplina tem como ementa: a conjuntura atual e o trabalho em saúde no SUS; a prática profissional do assistente social na área da saúde: integralidade trabalho em equipe, educação em saúde. O trabalho do assistente social na atenção básica, de média e alta complexidade. Entendemos que esta ementa abria a possibilidade de pensar, junto com os alunos, aspectos da ação profissional do assistente social fundamentais para uma intervenção responsável, crítica e comprometida com o direito à saúde. Nossa proposta foi rever não o conteúdo, mas o processo de ensino-aprendizagem, tendo por base a MP. Definimos que a reflexão em torno da integralidade seria a base que guiaria nossa proposta. Dentro da perspectiva da integralidade elegemos três grande temas: um debate mais amplo sobre a política de saúde e o trabalho do assistente social, o trabalho em equipe e a educação em saúde. Iniciamos então a disciplina com o debate em torno da política de saúde e o trabalho do assistente social e sobre a integralidade em saúde. A discussão destas temáticas ocorreram entre os meses de março e abril e, diferente das demais, foi toda construída no espaço da sala de aula, através da reflexão conjunta entre professores e alunos. Os alunos receberam com antecedência a referência bibliográfica norteadora de cada aula e o debate foi estimulado através de dinâmicas como: chuva de idéias; construção de uma cápsula do tempo; proposição de questões para o debate; apresentação de casos. Em abril iniciamos o segundo módulo que teve, como mencionado anteriormente, o propósito de trazer a tona o debate em torno do trabalho em equipe. A dinâmica proposta foi trabalhar em dois momentos: o primeiro de dispersão, quando os alunos foram orientados a pesquisar sobre a temática do módulo e, o segundo de concentração quando o grupo, junto com os professores responsáveis, fizeram uma síntese reflexiva sobre as principais questões que emergiram do contato com o tema. Para o primeiro momento os alunos se organizaram em pequenos grupos e buscaram livremente referências teóricas sobre a temática em foco. Na concentração, momento de troca análise e síntese das reflexões utilizamos as dinâmicas: ligue os pontos – trabalho em equipe; leitura e debate da fábula do Porco Espinho; construção coletiva de roteiro de visita institucional. O terceiro módulo aconteceu no mês de junho. Assim como o segundo foi realizado em momentos de dispersão e concentração. Na dispersão os alunos foram orientados a pesquisar sobre a temática e elaborar uma síntese sobre o material encontrado. No momento de concentração, espaço para discussão conjunta, utilizamos as dinâmicas: “Recordando a vivência na Escola, nos espaços educativos e coletivos”; entrevista em sala de aula com assistentes sociais; leitura e debate do texto "O Menininho" de Helen E. Bukley. Também neste módulo os alunos fizeram uma avaliação através da palavra livre e preenchimento de roteiro avaliativo. Finalizamos a disciplina com um módulo avaliativo. Iniciamos com a dinâmica da Palma,  seguida da palavra livre e, por fim, o preenchimento do roteiro avaliativo. De uma forma geral os alunos apontaram como pontos positivos: metodologia da disciplina: dinâmicas, avaliações, aprendizado de forma leve, diálogo com alunos, visitas às instituições, entrevista com profissionais. Por outro lado, identificaram lacunas como: pouco tempo para discussão; o não envolvimento de todos nas discussões e tarefas; sobrecarga de alguns membros do grupo; cronograma apertado; a metodologia é utilizada apenas em Laboratório. Como sugestões apontaram:  ter com mais frequência dinâmicas como as utilizadas na aula; promover mais visitas de profissionais ou visitas nas instituições; utilizar o formato dos trabalhos em outras disciplinas. Dentre as sugestões apresentadas uma nos chamou a atenção e deve ser considerada quando nos propomos a repensar a formação dos profissionais de saúde e o nosso papel enquanto docentes neste processo. A sugestão foi enunciada nos seguintes termos: "ampliar a forma de ensino e tornar mais real o aprendizado. Se os professores não realizam o que ensinam com os alunos, como acreditar que é possível fazer com os futuros usuários?" A sugestão é provocadora e nos faz pensar na forma como abordamos nosso aluno, como respeitamos ou não seus "saberes", que tipo de relação mantemos com eles, se conseguimos ou não nos aproximar da realidade e produzir o conhecimento a partir dela, se buscamos ou não metodologias que estimulem a participação, o debate crítico e reflexivo. Fica aí um desafio para todos nós docentes, sujeitos fundamentais no processo de ensino/aprendizagem. Impactos Destacamos a importância das dinâmicas utilizadas que desencadearam processos de interação, conhecimento e debate coletivo que contribuíram qualitativamente para reconstrução, tanto do processo de ensino-aprendizagem, como do conhecimento a respeito da política pública de saúde e do trabalho do assistente social. O conjunto de estratégias utilizadas também teve impactos no processo de trabalho docente e de preceptoria, uma vez que a construção de um processo educativo a partir das metodologias problematizadoras e críticas possibilitaram maior interação com os discentes, o trato das discussões próximas da realidade social e o reforço da interlocução da prática profissional no processo de formação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Avaliamos que nossos objetivos foram atingidos, uma vez que no processo avaliativo dos estudantes ficou expresso a compreensão da importância de uma análise crítica da política de saúde, a necessidade de reforçar os princípios e diretrizes do SUS no cotidiano de trabalho nos serviços de saúde, além do entendimento de que o profissional deve contribuir para que os usuários tenham acesso as políticas públicas e recursos da comunidade, contribuindo para que seja sujeito de seu processo saúde-doença. Esperamos que a metodologia proposta pudesse se constituir como algo que faça parte da rotina do curso de Serviço Social, estendendo-se, inclusive a outras disciplinas. Em relação ao Laboratório de Saúde, objetivamos manter para os próximos semestres a metodologia proposta, buscando avançar ainda mais na utilização das estratégias pedagógicas e na articulação com os serviços da rede. Esperamos ainda que o conteúdo abordado na disciplina e a metodologia empregada tenham contribuído efetivamente para despertar nos estudantes a importância da democratização dos espaços de trabalho, o desenvolvimento da capacidade de aprender e de ensinar, a busca de soluções criativas para os problemas encontrados, o desenvolvimento do trabalho em equipe grupal e matricial, a melhoria permanente da qualidade do cuidado à saúde e da humanização do atendimento.

Palavras-chave


formação profissional; serviço social; metodologia da problematização