Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O ENFERMEIRO COMO MEDIADOR NA ASSISTÊNCIA INTEGRAL DO PACIENTE DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ronaldo José da Silva, Ednéia Albino Nunes Cerchiari, Antônio Sales

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma área hospitalar que demanda cuidados a pacientes críticos com risco de morte, que são recuperáveis. Todavia, são pacientes altamente complexos, que necessitam de supervisão continua por uma equipe qualificada (GOMES, 1988). As equipes de enfermagem de UTI percebem a unidade como um lugar onde vidas frágeis devem ser vigilantemente monitoradas, cuidadas e preservadas. Já para os pacientes e seus familiares daqueles que estão admitidos na UTI, à unidade, é percebida como um sinal de morte iminente, isso com base em suas experiências pessoais anteriores ou nas experiências dos outros. (MORTON et al., 2007). Dessa forma, faz se necessário um dispositivo mediador de esclarecimento tanto para o paciente, quanto para os seus familiares, objetivando minimizar as tensões e sofrimento enfrentados por estes sujeitos. Segundo Mortonet al. (2007), a enfermagem pode ser ancorada como “ator protagonista” de um ambiente restaurador, oferecendo informações que permitirão estabelecer uma relação de confiança entre os que ali estão o que possibilita que os mesmos expressem seus sentimentos, tirem suas dúvidas e recebam orientações a respeito do ambiente desconhecido que fará parte de suas rotinas durante a internação de seu ente. Logo, o objetivo deste estudo é relatar a experiência do enfermeiro como um prestador de orientações a familiares de pacientes de UTI, atuando como um mediador fundamental na assistência integral do paciente. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Aqui, tem-se o relato da experiência de uma prática de orientação de enfermagem realizada com familiares de paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da Vida (HV) de Dourados/MS. A estratégia de orientações de enfermagem aos familiares de pacientes internados na UTI foi instituída com o intuito de auxiliar esses, em busca de mecanismos mais adequados de enfrentamento a mudança de ambiente no qual seu familiar se encontra, principalmente, na manutenção do equilíbrio e redução dos sentimentos de medo, pânico e crença de que o estar na UTI aproxima-se com o risco de morte. O HV é referência de qualidade na assistência à saúde em média e alta complexidade para situações de urgência e emergência, especialmente condições de traumatologia, abrangendo toda macrorregião da cidade de Dourados com uma cobertura 100% do Sistema Único de Saúde (SUS). Em se tratando da linha de traumatologia, o HV conta com o Pronto Socorro Adulto, Pronto Socorro Pediátrico, Ortopedia, Internação, Centro Cirúrgico, Semi-UTI e UTI. A UTI possui 10 leitos. Esses são destinados a pacientes que necessitam de assistência nos períodos pré e pós-operatório, pacientes da clínica médica e ortopédica, bem como para pacientes que necessitam de isolamento, com predomínio de pacientes em condições de traumatologia. Os familiares não permanecem com seus entes no hospital, a visita é permitida apenas uma vez por dia, entre as 16h00 min e 16h30 min. Sobre a prática de orientações de enfermagem desenvolvida, essa teve início para a UTI do HV no ano de 2009, permanecendo até 2010 – período em que estive vinculado a essa instituição. Ela era realizada pelo enfermeiro responsável da UTI, uma vez ao dia, de segunda a sexta, no período compreendido entre 10h00mim até 10h30min. A atividade contava com no máximo três familiares de cada paciente por dia, era realizada na recepção do hospital em um local aberto, porém restrito. As orientações fornecidas eram sobre a rotina do setor da UTI, condições em que se passavam os entes, horário de visita, dinâmica do trabalho da UTI, possível prognóstico e boletim médico. Impactos: No seu âmbito profissional, a enfermagem tem por essência o cuidado com o ser humano. Para Boff (2005) "cuidar das coisas implica ter intimidade com elas, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhe sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com as coisas. Auscultar-lhe o ritmo e afinar-se com ele. Cuidar é estabelecer comunhão. não é a razão analítica-instrumental que é chamada a funcionar. Mas a razão cordial, o esprit de finesse (o espírito de delicadeza), o sentimento profundo. Mais que o logos (razão), é o pathos (sentimento), que ocupa aqui a centralidade" (p.31). Em concordância, Daniel (1981) traz que a atenção de enfermagem não consiste somente em ministrar cuidados ao doente, mas também se estende às pessoas carentes de orientação e de intervenção direta na prevenção de doenças. Portanto, com a realização das orientações, um dos resultados mais evidentes é a diminuição do medo e da ansiedade. Há também a desmistificação que envolve a UTI e a formação de um vínculo especial com pacientes e familiares no desenvolvimento de uma relação de confiança. Desse modo, o enfermeiro, durante as orientações, é o mediador entre a UTI, paciente e familiar. Esse profissional deve ter empatia e esforçar-se para minimizar a ansiedade dos envolvidos. As questões mais frequentes encontradas por esse profissional são: O ente vai morrer ou não? Quanto tempo vai ficar hospitalizado? Vai ter sequela? As limitações serão permanentes ou não? Para a recuperação do paciente, da família pode vir grande contribuição. Mas, para que isso aconteça, ela precisa ser orientada sobre as rotinas da UTI e sobre o que está acontecendo com o seu ente, sendo informada de modo preciso, com prudência e empatia sobre as condições em que se apresentam seus entes. Por isso, é importante criar um ambiente acolhedor, uma estrutura de confiança entre a equipe da UTI, neste caso representada pela pessoa do enfermeiro, o paciente e seus familiares. Então, considera-se necessário e fundamental a ênfase no diálogo - um diálogo coletivo, que envolve não só a equipe e o paciente, mas também seus familiares, de modo a estabelecer uma relação terapêutica entre os pacientes e seus familiares. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com esse relato de experiência, conclui-se que: mais importante do que as informações trocadas durante um processo de orientação, é a condição de confiança que se estabelece entre o enfermeiro e o familiar do paciente de UTI – a construção de uma relação sólida, considerando imprescindível a estruturação de um espaço para que se possa refletir a importância da participação da família no desenvolvimento da terapêutica de seus entes como promotora na recuperação da sua saúde. Essa experiência mostrou que o enfermeiro deve estar atento aos vários fenômenos que ocorrem ao seu redor e que, mesmo inserido em um contexto onde a valorização do tecnológico é muito evidente, a dimensão do relacional não pode ser posta de lado e nem ao menos minimizada, mas elevada ao mesmo patamar das outras tecnologias encontradas em um ambiente como a UTI. O cuidar, portanto, é uma prática complexa e por isso não pode ser considerada como um ato de técnicas, práticas e tecnologias, separadas da intensa problemática de saber lidar com outro ser humano (HORTA, 1979).

Palavras-chave


cuidado intensivo; enfermagem; hospitalização; internação hospitalar

Referências


BARBOSA, S. A.; MARANHÃO. D. G. O cuidado como essência e identidade profissional do enfermeiro. Rev. Enferm. UNISA, v.13, n.4, p. 130-136, 2012.

BOFF, Leonardo. O cuidado essencial: princípio de um novo Ethos. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 1, p. 28-35, out./mar., 2005.

DANIEL, L. F. A enfermagem planejada. 3 ed. São paulo: EPU, 1981.

GOMES, A. M. Enfermagem na iunidade de terapia intensiva. São Paulo: EPU, 1988.

HORTA, W. de A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979.

MORTON, P. G., et al. Cuidados críticos de enfermagem: uma abordagem holística. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.