Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Mulheres num mundo carcerário
Anna Carolina Martins Silva, Ana Cristina Passarella Brêtas

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: “A prisão? É um lugar, vou falar pra você… A prisão, eu sempre falo pra todo mundo, é o lugar pra você refletir tudo que fez na sua vida, de bom e ruim. Até o que você imaginou que não poderia vir na sua memória, volta.” Foi assim que uma mulher da Penitenciária Feminina de Sant'Ana definiu a prisão enquanto conversávamos na coleta de dados deste estudo. Estar na prisão permitiu captar cheiros, formas e cores impregnadas nas paredes e também, nas palavras, silêncios e gestos das mulheres que estavam encarceradas. Essas mulheres, apesar de serem minoria quando comparadas ao total de homens presos, estão em número cada vez maior nas unidades brasileiras. Este é um estudo de natureza qualitativa que utilizou como método a História Oral Temática, com o objetivo de conhecer o cotidiano prisional a partir de histórias contadas por mulheres que cumprem pena em privação de liberdade na Penitenciária Feminina de Sant'Ana, na cidade de São Paulo e assim, compreender as realidades vividas por elas. DESENVOLVIMENTO: Foram feitas entrevistas com oito mulheres que concordaram em participar do estudo, após apresentação do mesmo. Em um espaço da unidade prisional, o registro destes encontros ocorreu a partir da gravação do áudio e de um diário de campo; este material foi transcrito. Posteriormente, houve reordenação das entrevistas adotando o recurso da transcriação. Nesse momento, como propõe Bourdieu (1997), havia a intenção de orientar a atenção do (a) leitor (a) àquilo que se julga pertinente. Os eixos temáticos que surgiram diante do material obtido são: “o eu e a outra”; “mimeografar o passado e imprimir o futuro”; “diariamente”; “disciplina e poder: morto! Vivo! Vivo! Morto! Vivo” e a elaboração dos mesmos foi seguida da análise crítica, relacional, entre os dados empíricos obtidos no trabalho de campo e as categorias analíticas. RESULTADOS: A relação que foi construída com tais mulheres nos fez a todo tempo assumir posições de “eu” e “outra”; sair do ambiente prisional através de memórias e esperanças; se aproximar do cotidiano, apreendido por cada uma delas ao se adaptarem, criando formas de resistência e compreendendo as circunstâncias do encarceramento; notar que por meio do poder disciplinar tão próprio das instituições totais e totalizantes, as vivências estão, sobretudo, controladas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A experiência reinventou pesquisadoras e pesquisadas e ampliou horizontes para a compreensão da vida de mulheres num mundo carcerário. A prisão, instituição total e totalizante, demanda olhar de perto para ouvir e é assim que se torna possível a relação com as mulheres, além de seus delitos. Como enfermeira notamos que essa aproximação considera quem são como vivem e quais são os sentidos que as mulheres encarceradas atribuem as suas vidas e, encontra o que há de essencial ao cuidado, quando pensado em sua dimensão ontológica. 

Palavras-chave


Mulheres; Prisões; Narrativa.

Referências


BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997.