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PLANIFICAÇÃO E GESTÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE REFERÊNCIA
Última alteração: 2015-10-30
Resumo
O trabalho gerencial de Enfermagem consiste em um processo por meio do qual um grupo cooperativo de pessoas dirige suas ações e recursos buscando atingir metas e objetivos comuns visando solucionar problemas da instituição e garantir a manutenção de um atendimento de saúde com qualidade. Este estudo trata-se de um relato de experiência vivenciado por graduandos do 6° semestre do curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia, através do componente curricular Planificação e Gestão em Unidade Hospitalar, e teve como objetivo discernir de forma prática as atribuições do enfermeiro mediante os aspectos gerenciais dentro do serviço e seus impactos para uma prestação de assistência direta à saúde com qualidade. A prática foi realizada em um hospital público de grande porte no município de Salvador, uma instituição referência para a assistência de alta complexidade nas áreas cardiovascular e renal no período de 10 dias por dois grupos distintos de discentes divididos entre as unidades de Clínica Cirúrgica de Cardiologia e Nefrologia. À priori acompanhamos o fluxo de ambas as unidades tanto nos aspectos gerenciais quanto assistenciais fazendo um diagnóstico situacional que contemplou um protocolo de avaliação minucioso voltado para a estrutura organizacional e física da unidade, bem como recursos materiais e humanos disponíveis, a sistematização da assistência, normatizações, o perfil da clínica e a classificação de pacientes, o que nos possibilitou reconhecer as falhas e problemas mais relevantes de cada unidade e dessa forma propor estratégias de melhoria. As atividades realizadas contemplaram desde atividades de cunho gerencial como a participação da passagem de plantão, organização e controle de materiais, escala de pessoal, admissão e alta de pacientes, visita de enfermagem, dimensionamento de pessoal, perfil da clínica, checagem do carro de parada, bem como atividades assistenciais como evolução de enfermagem, realização de curativos, coleta de Swab para cultura de pacientes em precaução, retirada de pontos, exame físico, entre outras atividades. Como fruto da observação do grupo atuante da unidade de Nefrologia, constatou-se que o perfil da clínica mais prevalente era de pacientes internados com Insuficiência Renal Crônica (IRC) dialítica, Pós Operatório Tardio de Transplantados Renais e pacientes submetidos à Pulsoterapia, sendo que grande parte desses pacientes eram portadores de HAS e DM e alguns com doenças imunossupressoras que evoluíram com problemas renais devido ao diagnóstico tardio. Com base nesse perfil observamos dois procedimentos que requeriam atenção especial dos profissionais e que até o momento não possuíam uma padronização regulamentada quanto à forma de atuação diante de tais práticas. Uma delas foi com relação à Pulsoterapia, procedimento este que pode ocasionar diversos distúrbios metabólicos e, portanto requer um profissional treinado e habilitado para lidar com qualquer reação que o paciente venha a ter. Diante disso, foi construído um Procedimento Operacional Padrão-POP visando orientar os profissionais e evitar a ocorrência de eventos adversos durante o procedimento. Outra prática comum realizada na unidade era a administração de Glunonato de Calcio em pacientes portadores de IRC que realizaram Paratireoidectomia, procedimento este com alto risco de extravasamento e necrose local observado em dois pacientes, além de relato de casos prévios ocorridos. Como forma de contribuir para melhoria da assistência, foi elaborado um segundo POP voltado também para essa prática visando diminuir as complicações decorrentes de sua administração. Um terceiro POP foi elaborado para orientar ações que reduzissem o risco de aquisição de infecção primária da corrente sanguínea em pacientes com acesso vascular para hemodiálise, possibilitando melhor qualidade do serviço. Outra atividade realizada na unidade de Nefrologia foi à classificação de pacientes com base no Escore de Schein/RenisLikert. Essa avaliação foi realizada beira leito com cada um dos 23 pacientes internados da unidade, o que nos possibilitou realizar ainda a classificação de risco de cada paciente e dessa forma direcionar os cuidados com vistas a evitar tais complicações. Outra atividade de responsabilidade da enfermeira gerente, mas com impacto significativo na assistência direta ao paciente é a checagem do carrinho de parada na qual encontramos algumas irregularidades posteriormente solucionadas com relação à quantidade de material necessário para suprir as demandas da unidade. Já no grupo atuante na Unidade de Clínica Cirúrgica de Cardiologia foi observado que o perfil da clínica era prevalentemente de pacientes portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Doença Arterial Coronariana (DAC), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Diabetes Mellitus (DM), Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), e pacientes submetidos a Cateterismo (CATE). Diante disso, o grupo ficou responsável por elaborar os Diagnósticos de Enfermagem, as Intervenções de Enfermagem e o Plano de Cuidados para cada um dos perfis mais prevalentes observados na unidade pautados nos diagnósticos de enfermagem da NANDA. Essa proposta teve como objetivo orientar os profissionais quanto às necessidades de cada paciente, bem como instruir medidas para melhoria da assistência prestada àquele paciente de forma especifica e direcionada, baseando-se nas necessidades individuais de cada um. Em ambas as unidades as demais atividades relacionadas à gerência de enfermagem, como dimensionamento de pessoal, classificação de pacientes, controle de materiais e escala de pessoal foram realizadas durante o período dos 10 dias de prática. Na unidade de Nefrologia diante do que foi observado nos dias de prática foi possível constatar que apesar dos desafios por se tratar de uma instituição pública a organização do serviço se mostrou eficiente e eficaz tanto nos aspectos gerenciais quanto nos assistenciais. As principais observações estão relacionadas com os materiais necessários que estavam sempre disponíveis e em quantidade adequada em relação à demanda da unidade, a passagem de plantão era realizada de forma bastante efetiva, além de ter a presença também da enfermeira gerente da unidade que ouvia as demandas de serviços gerencias pendentes e prontamente buscava resolução. Na unidade de Cardiologia dois pontos que mereciam atenção especial foram com relação à passagem de plantão e a evolução de Enfermagem que apresentavam algumas inconformidades posteriormente sinalizadas. Por fim, todo o trabalho produzido pelos dois grupos, bem como os problemas observados com as respectivas sugestões de melhoria foram entregues à coordenação de Enfermagem de cada unidade como forma de aperfeiçoar o cuidado e orientar quanto aos pontos que devem ser observados e melhorados para garantir um atendimento mais qualificado. Através das aulas práticas conseguimos entender a importância do gerenciamento para uma prestação de assistência em saúde com maior qualidade, e que o casamento entre uma equipe assistencial e gerencial capacitada pode impactar de forma significativa e positiva na qualidade dos serviços prestados. Percebemos o quanto o conhecimento com relação aos aspectos gerenciais é importante para nossa formação, e que a atuação na rede SUS proporciona o fortalecimento dos seus princípios e das relações entre o ensino e o serviço propiciando o crescimento e amadurecimento prático enquanto alunos e futuros profissionais de saúde. Compreendemos que saúde não se faz apenas com procedimentos assistenciais, e que o processo de trabalho gerencial é um instrumento mediador para uma prática assistencial de qualidade, demonstrando que quando os dois são realizados de forma efetiva todo o serviço flui de forma dinâmica e com mais facilidade e qualidade, se tornando, portanto, impossível dissociar ambas as práticas que representam o elo fundamental para um atendimento integral de qualidade.
Palavras-chave
Gestão; Gerenciamento; Enfermagem
Referências
- FRACOLLI, L. A.; MAEDA, S. T. A Gerência nos serviços públicos de saúde: um relato de experiência. Rev.Esc.Enf.USP, v. 34, n. 2, p. 213-7, jun. 2000.