Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Graduação em Saúde Coletiva no Brasil: onde estão atuando os egressos formados por essa graduação?
Michel Reina Pino, Allan Gomes de Lorena, Marcela Soares Silveira Lima, Marco Akerman, Liliana Santos

Última alteração: 2015-11-03

Resumo


A possibilidade de criação de cursos de graduação na área da Saúde Coletiva vem sendo abordada desde a década de 1980, quando era discutido o ensino de Saúde Coletiva em relação às demais formações e apontada à necessidade de antecipação da formação do sanitarista. Teixeira (2003) descreve o contexto de discussão que apontou a necessidade de criação de uma formação graduada que incorporasse o conjunto de práticas e saberes do sanitarista, ressaltando importantes encontros nos quais essa temática foi abordada. Segundo a autora: [...] em setembro de 2002 foi organizada uma Oficina de Trabalho, reunindo dirigentes da UFBA, representantes de Universidades, Ministério da Saúde, OPAS (Organização Pan-americana de Saúde) e ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), com o objetivo de analisar a pertinência e viabilidade de criação do curso na atual conjuntura, levando-se em conta o desenvolvimento teórico-conceitual da área de Saúde Coletiva e a experiência acumulada no processo de reforma do Sistema de Serviços de Saúde Brasileiro, especialmente as tendências de mudança do modelo de atenção à saúde e as demandas do mercado de trabalho no setor (UFBA/ISC, 2002). Os debates travados durante a Oficina conduziram à conclusão de que é oportuno avançar na elaboração do projeto político-pedagógico do curso, bem como ampliar a reflexão em torno da pertinência de sua implantação, não só na UFBA, mas em outras instituições de ensino superior no país (TEIXEIRA, 2003, p. 163). No decorrer do texto, Teixeira destaca, entre os principais motivos para a criação dos cursos de graduação na área de Saúde Coletiva, a necessidade de encurtar o tempo da formação, evidenciando a importância dos conhecimentos de Saúde Coletiva e contribuindo para a reorientação dos modelos de atenção. Dessa forma, profissionais de Saúde Coletiva estariam inseridos no cotidiano de todos os serviços e não exclusivamente no âmbito da gestão mais central, como ocorre tradicionalmente. Portanto, o objetivo geral desta pesquisa foi de realizar um levantamento nacional dos egressos da graduação em saúde coletiva no Brasil tendo como objetivo específico identificar e analisar as áreas de atuação, atividades desenvolvidas, faixa salarial, vínculo empregatício e outros aspectos relacionados ao mercado de trabalho do Bacharel em Saúde Coletiva, também, identificar e analisar as áreas de atuação nos cursos de pós graduação stricto sensu e/ou lato sensu em Saúde Coletiva. Para identificar e analisar as áreas de atuação, atividades desenvolvidas, faixa salarial, vínculo empregatício e outros aspectos relacionados ao mercado de trabalho do Bacharel em Saúde Coletiva, realizaram uma investigação analítico-descritiva através de estudo longitudinal de seguimento sob o auxílio de coleta de dados feito por meio de entrevistas autopreenchidas em ambiente virtual. O período de investigação corresponde aos anos de 2012 – 2014. Analisamos que 42,4% dos egressos de saúde coletiva estão atuando no mercado de trabalho de acordo com sua área de formação e 57,6% não estão trabalhando. Observamos que a maior dificuldade encontrada pelo os egressos é a falta de abertura do mercado de trabalho, dedicação exclusiva a pós graduação, emprego anterior a graduação. A falta de abertura do mercado de trabalho pode ser uma variável interessante para discutir a permanência dos alunos na graduação em saúde coletiva, visto que, as primeiras turmas que se formam são “responsáveis” em abrir os caminhos para as próximas turmas de formados. E também, procurar analisar quais são os nós críticos que impedem a atuação do sanitarista nas unidades de saúde, quais são os conflitos e interesses da pouca flexibilidade dos serviços de saúde em abarcar um novo profissional de saúde que têm atuação voltada para o SUS e quais caminhos burocráticos, legais e administrativos seguir para criar o cargo de sanitarista em concursos públicos nas esferas municipal, estadual e federal. Quanto ao tipo de vínculo empregatício destes egressos/as, identificamos que os formados em saúde coletiva possuem contrato por tempo determinado ou prestação de serviços, são servidores estatutário ou institucional e estão assumindo cargos comissionados, ou seja, cargos de confiança por indicação política. Ainda possuem vínculo celetista ou trabalhista e estão trabalhando por contrato de experiência. Notamos também que os egressos possuem outro tipo de vínculo empregatício como bolsistas consultoria e vínculo privado. Contudo, 61,1% dos egressos de saúde coletiva estão na pós graduação e 38,6% não fazem nenhum tipo de pós. Muitas vezes, a pós graduação pode ser um dispositivo para que estes mesmos ex-alunos permanecem no campo da saúde público-coletiva, por mais que seja no ambiente acadêmico, já que os/as mesmos/as não encontram abertura do mercado de trabalho. Se a escolha por um curso de graduação pode ser atribuída à “vocação” sentida no momento do vestibular, a opção por um curso de pós-graduação há de estar permeada pelas possibilidades de pesquisa e especialização vislumbradas no decorrer da graduação e, obviamente, pelas alternativas oferecidas nos mercados de trabalho. Gomes e Goldenberg. (2010) Detectamos que 67% dos egressos estão na pós La tu sendo atuando na especialização, aperfeiçoamento e residência. E, 33% dos egressos em saúde coletiva estão no mestrado e doutorado realizando suas pesquisas na pós graduação na área:  1) política, planejamento e gestão; 2) educação e promoção da saúde; 3) epidemiologia, 4) vigilâncias; 5) informação e comunicação em saúde; 7) ciências sociais e humanas em saúde. Quando investigamos os cargos, funções e locais de trabalho que os egressos em saúde coletiva têm ocupado após se formarem.  Identificamos que a atuação do sanitarista de graduação circula em todos os níveis de atenção a saúde e gestão no SUS. Encontramos sanitaristas desta graduação trabalhando em departamentos de atenção de especializada (com foco em HIV/AIDS), atenção básica, vigilância em saúde e atenção hospitalar. Também, ocupando cargos como diretores de unidade de saúde, consultoria técnica, coordenador de vigilância epidemiológica em saúde, coordenador de política de saúde (saúde do idoso) e diretor de hospital. Há também egressos/as atuando como sanitarista em secretarias municipais de saúde na condição de apoio institucional, ocupando espaços na vigilância em saúde como sanitarista e na vigilância sanitária como fiscal sanitarista. A iniciação cientifica levantamento dos egressos de saúde coletiva tratou de cuidar de múltiplos objetivos acerca da graduação em saúde coletiva buscando uma resposta comum: onde estão os sanitaristas formados por essa graduação? Tratou-se de um levantamento simbólico daquilo que acreditamos quando falamos na potencialidade das graduações em saúde coletiva no fortalecimento do SUS enquanto um sistema de saúde ético-estético-político como sugere Armani (2006) em sua tese de doutoramento intitulada formação de sanitaristas: cartografias de uma pedagogia da educação em saúde coletiva, “vejo, sobretudo, uma formação de sanitaristas entremeada por movimento territorial de cruzamentos criativos e inventivos na constituição de indivíduos e de coletivos organizados para a produção em saúde, notadamente, quando: [...] h) produz um trabalhador atuante, de maneira crítica, sensível, afetiva, e inventiva nas práticas em uma equipe de saúde; um trabalhador conhecedor, não só das funções essenciais da saúde pública, mas aberto à emergência de inovações, de um conceito ampliado de saúde e da clínica, capaz de produzir visibilidade as condições subjetivas e experiências da vida dos indivíduos – um sanitarista/generalista no contexto de uma política pública de expressão e afirmação da vida na diversidade.”

Palavras-chave


Levantamento; Graduação; Egressos; Saúde Coletiva

Referências


ARMANI, T.B. Formação de sanitaristas: cartografias de uma pedagogia da Educação em Saúde Coletiva. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006.

 

GOMES, M. H. A; GOLDENBERG, P. Retrato quase sem retoques dos egressos dos programas de pós-graduação em Saúde Coletiva, 1998-2007. Ciência & Saúde Coletiva, 15(4):1989-2005, 2010.

 

TEIXEIRA, C.F. Graduação em Saúde Coletiva: antecipando a formação do Sanitarista. Interface - Comunic, Saúde, Educ, v7, n13, p.163-6, ago 2003.