Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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REDE DE ATENÇÃO AO PACIENTE COM TRAUMA NO ÂMBITO DA ALTA COMPLEXIDADE DO SUS
Ana Alice Brites de BARROS, Allessyane Cleyti da Silva, Natali Calças

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


RESUMO EXPANDIDOO: trauma pode ser definido como uma lesão física causada por ações externas lesivas ou violentas ou pela introdução de substância tóxica no organismo, e também pode acarretar em dano psicológico ou emocional. Além disso, o mesmo é um agravo que pode gerar várias doenças e representa um problema de saúde pública de grande magnitude no Brasil, uma vez que tem provocado forte impacto na morbidade e na mortalidade da população, com profundas repercussões nas estruturas sociais, econômicas e políticas de nossa sociedade. Os cuidados assistências da rede inibem as reinternações precoces. Deste modo, a organização das linhas de cuidado (LC) com o uso de ações gerenciais resolutivas da equipe de saúde é ponto chave na desospitalização segura. O objetivo deste estudo foi identificar o perfil dos usuários residentes no território da Unidade Básica de Saúde Jardim Seminário internados por trauma no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande (MS).  Trata-se de um estudo de caráter descritivo, transversal, conduzido no Hospital Santa Casa de Misericórdia em Campo Grande (MS), onde a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), por meio de seus acadêmicos (petianos) dos cursos de enfermagem, farmácia, fisioterapia, psicologia e nutrição, desenvolveram atividades extracurriculares através do Programa de Educação para o Trabalho: PET SAÚDE REDES/ URGÊNCIA E EMERGÊNCIA. Os critérios de elegibilidade e inclusão para participar da pesquisa foram pacientes internados no hospital por trauma e residentes da região Jardim Seminário, Campo Grande (MS). Os critérios de exclusão foram pacientes menores de 18 anos, indígenas e não residentes na região analisada. O hospital dispunha ao Programa, multiprofissionais da saúde (preceptores) que no primeiro momento indicavam aos petianos a admissão de pacientes traumatizados internados no período de Janeiro à Maio de 2015. Em um segundo momento, os petianos que foram divididos em duplas, acessou o Sistema eletrônico do hospital para pesquisa de identificação dos pacientes e informações da internação; e posteriormente foi aplicado um questionário referente ao perfil sócio demográfico com os mesmos, após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. As informações contidas no questionário foram tabuladas em Microsofit Excel e realizadas porcentagens e médias das variáveis. Foram coletados dados de 100 pacientes, sendo esta amostra composta de 24 (24%) mulheres e 76 (76%) homens. A faixa etária com maior prevalência foi entre 18 a 38 anos responsáveis por 59 (59%) das internações, acompanhada pela idade entre 39 a 59 anos 26 (26%), 60 a 80 anos 13 (13%) e > 81 anos 2 (2%). Em relação ao estado civil, 43 (43%) dos pacientes eram casados, 32 (32%) solteiros, 13 (13%) divorciados, 7 (7%) em união estável e 5 (5%) viúvos. Estes resultados corroboram com os analisados em um hospital de referência ao trauma em Curitiba, que ao avaliarem os pacientes atendidos, observaram a prevalência de internações de pacientes jovens do sexo masculino, em idade produtiva, vítimas de acidentes de trânsito. Este perfil vem de encontro com os dados apresentados pelo Ministério da Saúde em 2008, onde às causas externas foram de maior proporção nas internações da população jovem (15 a 39 anos). Em relação ao mecanismo de trauma do presente estudo, a maior prevalência foi de acidente motociclístico com (48%), seguido de acidente automobilístico (23%), força corporal (9%), queda (5%), atropelamento (5%), ferimento de arma branca (4%), queimadura (3%), ferimento de arma de fogo (2%) e acidente ciclístico (1%). Ainda, nos dados relatados pelo Ministério da Saúde em 2008, as principais causas de trauma foram colisões e atropelamentos provenientes de acidentes de trânsito, sendo os motociclistas responsáveis por 60% (240) das vítimas. O trauma causa importantes consequências sociais e econômicas, pois além das lesões poderem ocasionar óbito ou incapacidade, temporária ou permanente, elevando o custo com a recuperação e a piora da qualidade de vida, fatores que preocupam o Sistema Único de Saúde. Essa epidemiologia tem impelido os serviços de atendimento de emergência no Brasil e em todo mundo a se organizarem para atender às cinco grandes vertentes do controle ao trauma: prevenção, atendimento pré-hospitalar, atendimento intra-hospitalar, reabilitação e plano de atendimento a catástrofes e grandes desastres. A Santa Casa de Campo Grande, conforme aportaria nº 2.809, a Rede de Urgência e Emergência (RUE) vem instituindo este processo de controle ao trauma com serviços executados para melhor atender o usuário, mesmo com as mudanças físicas e tecnológicas da porta de entrada de emergência, adequação da ambiência, com vistas a viabilizar a qualificação da assistência, observando os pressupostos da Política Nacional de Humanização. A organização desses processos de trabalho surge como a principal questão a ser enfrentada para a mudança dos serviços de saúde, no sentido de colocá-lo operando de forma centrada no usuário e suas necessidades.  O usuário deverá ser assistido de forma integrada, sendo possível somente se o serviço estiver organizado em rede. Em relação aos aspectos legais do presente estudo, dentre os traumas encontrados em maiores abrangência destaca-se o acidente automobilístico, sendo que dos 23% identificados, somente 9% usavam cinto de segurança. Considerando os 48% de acidentes motociclísticos, 17% usavam capacete e 31% dos usuários que relataram estar sem o uso do mesmo. Entre os menores índices dos aspectos legais estão o uso de EPIs e uso de substâncias psicoativas com 1% e 8%, respectivamente que afirmaram estar usando equipamentos de proteção ou ter usado, e o restante relata não ter usado ou não se aplica. Dentre as lesões corporais afetadas pelos traumas que apresentaram maior prevalência no presente estudo destacam-se as lesões anatômicas da extremidade inferior, superior e superfície externa. Lesões no crânio apresentaram quinta posição, apesar dos altos índices de ausência do uso do capacete. Tais prevalências também foram detectadas, em um estudo realizado no Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence, em São José dos Campos em 2003, onde nos seis primeiros meses do estudo identificaram que das 976 lesões anatômicas, os membros inferiores obtiveram maior prevalência (258) seguido pelos membros superiores (211) e cabeça (202), sendo que esta última apresentou gasto médio de internação de R$ 684,83. Diante das cirurgias realizadas devido aos traumas descritos nos presente estudo, foram identificados que 17% dos usuários necessitaram de procedimento neurológico, 10% torácico, 5% abdominais, 65% ortopédicos e 3% plástico. Dentre as condições de alta apresentadas aos pacientes do estudo, 61% apresentaram limitações moderadas. Tais limitações demonstram a diminuição da qualidade de vida do paciente traumatizado. Deste modo, torna-se imprescindível a articulação de políticas e programas voltados para o enfrentamento de reestruturação e educação de vítimas de traumas, bem como aprofundar sobre o cuidado que tem sido dispensado aos portadores de traumas nos servicos de saúde, quer sejam públicos, ou privados. Espera-se que a população acometida por agravos decorrentes de traumas seja amparada em qualquer nível de atenção do SUS, de modo que a atenção básica e os serviços especializados estejam preparados para o acolhimento e encaminhamento dos pacientes para os demais níveis do sistema quando este se fizer necessário através de sua evolução dentro de cada serviço oferecido no âmbito assistencial.

Palavras-chave


Trauma, Urgência, Redes de Atenção, SUS

Referências


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