Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Afecções degenerativas na coluna vertebral e possibilidades de relação com o histórico de trabalho infantil
VANESSA MICHELON COCCO, ANA FÁTIMA VIERO BADARÓ
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
O trabalho, enquanto atividade humana ocupa um paradoxo: o de fazer parte da formação ontológica do homem e, o de contribuir para seu adoecimento físico e mental (CEZAR; BROTTO, 2012; FARIA 2010). Dentre as alterações que podem ser geradas nas estruturas corporais, destacam-se as afecções na coluna vertebral, a qual suporta grande parte das cargas impostas ao corpo (CORRIGAN; MAITLAND, 2003). Na infância e adolescência, o trabalho é ilegal antes dos 14 anos de idade, exceto na condição de aprendiz, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, além de ser condição de privações e prejuízos à saúde e às condições dignas de vida (BRASIL, 2005; 1990). Com base nesses pressupostos, o objetivo deste estudo foi investigar o histórico de trabalho infantil (TI) em trabalhadores jovens adultos, com afecções degenerativas na coluna vertebral. De natureza qualitativa, a pesquisa foi realizada por meio de entrevista semiestruturada, com trabalhadores assistidos no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST Região Centro, Santa Maria – RS, Brasil. Para análise dos dados foi aplicado o Discurso do Sujeito Coletivo, técnica que busca reconstruir, com pedaços de discursos individuais, um determinado modo de pensar ou de representar um fenômeno social (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005; 2009). O CEREST Região Centro apresentava 969 cadastros entre os anos 2007-2013, e destes, 93 eram de indivíduos jovens-adultos com doenças degenerativas na coluna. A partir desta amostra (n=93) foram realizadas 17 entrevistas, encerradas por saturação, onde 10 dos entrevistados relataram histórico de trabalho infantil. Da análise destas entrevistas, emergiram quatro ideias-centrais, que expressam as representações do trabalho na vida desses trabalhadores, quando crianças e adolescentes: “Especificidades demográficas, demandas familiares e potencial gerador de riscos: algumas situações que permeiam o trabalho infantil”; “Dilema para o trabalho infantil: necessidade x independência”; “Privações geradas pelo trabalho na infância como preditoras de repercussões no desenvolvimento biopsicossocial”; e “Reprovação do trabalho infantil reforçada pelo seu histórico enquanto vítima”. Apesar das dificuldades em mensurar o nível de influência do TI nas doenças da coluna, percebem-se implicações indiretas na vida destes trabalhadores, enquanto provável fenômeno parece determinante nos projetos de vida, com repercussões biopsicossociais nos períodos da infância e adolescência.
Palavras-chave
Trabalho de menores; Saúde do trabalhador; Doenças da coluna vertebral
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Trabalho infantil: diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes economicamente ativos. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.
BRASIL. Lei nº. 8069 de 13 de Julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 10 Set. 2015.
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