Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Grupo de teatro com adolescentes: uma abordagem sobre a violência e uso de drogas através da arte cênica
Renata Szpak Rodrigues, Maria Urânia Alves, Karla Ferreira Rodrigues, Aline Luisa Mafra, Mariana Campos Martins Machado, Letícia Pereira Zancanaro

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Entre os fatores de risco para o uso de drogas por adolescentes, a literatura científica destaca a baixa condição socioeconômica, a disponibilidade da droga no meio social, taxa de criminalidade elevada, além dos aspectos socioculturais, incluindo campanhas publicitárias e políticas sociais (BROOK et al., 2006). Entre os fatores, também se destaca a baixa adesão às atividades escolares, como atrasos e reprovações (ZWEIG, PHILLIPS e LINDBERG, 2002). Diante da gravidade do uso precoce de drogas ilícitas por adolescentes, e do reconhecimento da saúde no contexto holístico e dos seus determinantes sociais, culturais, políticos e econômicos, o Projeto de extensão “Desatando os Nós da Velha Grande: promovendo cidadania e geração de renda”, do Programa de extensão “Liga de Saúde Coletiva”, realizado com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), propôs o grupo de teatro Vida Real. As atividades estão sendo desenvolvidas com adolescentes de 13 a 16 anos de idade em uma escola municipal localizada no bairro Velha Grande, em Blumenau (SC), território adscrito da Unidade Básica de Saúde Arão Rebelo, onde as atividades do Projeto de Extensão “Desatando os Nós da Velha Grande” são realizadas. No grupo de teatro trabalham-se a temática da violência, do uso e tráfico de drogas, temas escolhidos pelos próprios participantes. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: As dinâmicas de grupo, rodas de conversa e oficinas realizadas no grupo de teatro ocorrem na sala de multimídia da escola, semanalmente, durante o período vespertino. Os participantes do grupo são estudantes da “reinturmação” (repetentes) do período matutino ou vespertino da escola. A proposta de desenvolvimento do trabalho com estes adolescentes partiu do diretor da escola, visto ser constante a presença de comportamentos violentos e indicadores de uso de drogas entre estes adolescentes. Nas atividades trabalha-se com o acolhimento, criando vínculos entre as pessoas da comunidade com idades a partir de 13 anos, promovendo saúde, cidadania e qualidade de vida, possibilitando a percepção holística dos problemas. O foco deste projeto é atender ao objetivo do milênio 2, Educação Básica de Qualidade para Todos, e objetivo 8, Todo Mundo Trabalhando pelo Desenvolvimento (ONU, 2015). Inicialmente, o grupo de teatro foi proposto para a escola e os adolescentes, que aceitaram a proposta. No primeiro encontro, foram realizadas três dinâmicas de grupo de interação, de forma a promover aproximação e confiança entre os adolescentes, e entre os adolescentes e o coordenador. A dinâmica “O espelho” (201 Dinâmicas de grupo...), objetivou despertar para a valorização de si, promovendo a autoestima dos participantes. A dinâmica “Fósforo” (VALLE, 2007), para realizar uma breve apresentação do grupo. Finalmente, realizou-se a dinâmica da “Caixa de pandora”, em que os adolescentes escreveram em pequenos papéis os seus sonhos, o seu projeto de vida. Esta dinâmica objetivou trabalhar elementos de motivação, conforme explicado por Ayres (2004), além de possibilitar maior aproximação com a equipe. No segundo encontro foi houve apresentação de três modalidades de peças teatrais aos adolescentes, de forma que o grupo escolhesse aquela de seu interesse. As modalidades foram: comédia, teatro de sombras e drama. Ainda no segundo encontro foi proposto um acordo de convivência coletiva para o grupo, em que todos deveriam assinar. No compromisso de boa convivência constavam algumas cláusulas, como a proibição de agressão física e/ou verbal, proibição do uso de aparelhos celulares durante as oficinas, responsabilidade com a peça desenvolvida, respeito mútuo entre os participantes, dentre outras. No terceiro encontro, realizou-se roda de conversa, com o objetivo de captar os temas de interesse dos jovens para realização do teatro. Nos três encontros subsequentes, realizaram-se oficinas para elaboração do roteiro da peça teatral. Posteriormente, os adolescentes puderam escolher os personagens que representariam, e foram iniciados os ensaios, que ainda estão em andamento. RESULTADOS E IMPACTOS: Desde o início das atividades, cerca de 15 adolescentes já estiveram presentes em oficinas, sendo que atualmente a peça conta com 8 integrantes assíduos e representantes de personagens. O trabalho propicia o desenvolvimento de pró-atividade, criatividade e autonomia dos adolescentes, fundamental para a formação de cidadãos críticos, participativos e responsabilizados sobre o seu autocuidado em saúde. Inicialmente, os adolescentes manifestaram certa resistência em participar do grupo de teatro, devido ao possível receio da apresentação em público, além de rebeldia própria da idade, falta de interesse pelo projeto e imaturidade e talvez faltasse de compromisso com a realização da peça. Durante as oficinas, buscou-se motivar a comunicação solidária no grupo. No momento, os adolescentes apresentam maior adesão em relação ao projeto, e demonstra entusiasmo, curiosidade e interesse em relação à peça teatral e aos temas abordados. Este projeto busca promover a troca e construção compartilhada de saberes entre a equipe e o grupo de adolescentes envolvidos, melhorando a autoestima integrando ações de Educação Popular em Saúde, no contexto da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (BRASIL, 2014). A peça teatral será apresentada no dia 28/11/2015, em evento promovido pela escola, e os ensaios estão sendo realizados periodicamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este projeto buscou mostrar aos adolescentes possibilidades de escolhas, discutindo abertamente os temas do uso e tráfico de drogas e da violência, favorecendo comunicação solidária e o estabelecimento de diálogo. Ademais, oportuniza o envolvimento em atividades culturais, e promove possibilidade de transformação da realidade, valorizando a saúde e a qualidade de vida.

Palavras-chave


Educação em saúde;adolescente;saúde coletiva;escola;

Referências


Referências Bibliográficas

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Brook, J.S; Brook, D.W; Richter, L; Whiteman, M. Risk and Protective Factors of Adolescent Drug Use: Implications for Prevention Programs. In: Sloboda Z, Bukoski WJ, editors. Handbook of Drug Abuse Prevention. New York: Springer; 2006. p. 265-287.

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VALLE, M. P. Dinâmica de grupo aplicada à psicologia do esporte. Coleção Psicologia do esporte. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. 68p.

Zweig, J.M; Phillips, S.D; Lindberg, L.D. Predicting adolescent profiles of risk: Looking beyond demographics. J Adolesc Health. v. 31, p. 343-53, 2002.

201 Dinâmicas de Grupo. Disponível em: < http://www.profdoni.pro.br/home/images/sampledata/2012/pdf/livros/dinanicas_grupo.pdf