Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A influência do processamento do fumo na saúde dos trabalhadores e residentes no bairro Cidade Nova, Lagarto/Sergipe
Márcia Schott, Cibele Macedo Santos, Mateus Santos Jesus, Renata Jardim

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


A produção de fumo é uma atividade agrícola com intenso uso de agrotóxicos e elevada exposição dos fumicultores a grandes concentrações de nicotina, absorvida pela pele através do manuseio das folhas de tabaco que pode levar ao desenvolvimento da Doença da Folha Verde do Tabaco. Não diferente, o processamento industrial do tabaco também implica manuseio do produto pelos trabalhadores em altas temperaturas e forte cheiro exalado pelo tabaco que pode também causar comprometimento do estado de saúde dos indivíduos no entorno das fábricas. O presente trabalho aborda a influência da atividade fumageira na saúde de trabalhadores e/ou moradores do bairro Cidade Nova do município de Lagarto/SE onde estão instaladas duas fábricas que manufaturam o tabaco. O estudo foi motivado a partir da inserção de alunos do primeiro ciclo, de oito cursos da área da saúde, da Universidade Federal de Sergipe no cotidiano da Unidade Básica de Saúde local, como atividade curricular do Módulo Prática de Ensino na Comunidade. O objetivo geral foi identificar a influência do processamento do fumo na saúde dos indivíduos residentes na área em estudo. Na fase inicial foram aplicados questionários a 31 sujeitos residentes de uma microárea de saúde, sendo 21 mulheres e 10 homens. Mais de 40% dos participantes tinham mais de 60 anos de idade. Dentre os entrevistados, 32% eram trabalhadores das fábricas e, para 70% desses, essa era a principal fonte de renda familiar; as famílias dos trabalhadores tinham em média 5 indivíduos, conformando um universo de 49 pessoas, sendo que 33% dessas trabalhavam com fumo. Quanto à autoavaliação da saúde dos 31 participantes, 6% afirmaram que sua saúde era ótima, 55% boa, 16% regular, 19% ruim e 4% não souberam informar. Sobre a morbidade referida, as doenças mais prevalentes foram: hipertensão (29%) e diabetes (16%). O uso dos serviços de saúde foi avaliado pela frequência de consulta médica: 32% afirmaram ir ao médico uma vez ao ano, 16% realizavam duas consultas anuais e 16% faziam três ou mais consultas no ano; 32% não souberam informar. A prevalência do tabagismo foi de 16% entre os participantes e de 20% entre os trabalhadores das fábricas de fumo. Quanto ao odor exalado pelas fábricas no processamento do fumo, 55% relataram não incomodar, 39% referiram incomodar e 6% disseram não saber. Questionados sobre o interesse em mudar de área por causa do cheiro do processamento do fumo, apenas 6% referiram que sim. Destacam-se a prevalência de tabagismo, maior que a média nacional (2013: 14,8%) e bem acima da prevalência da capital do Estado (9,4% em 2011) e a elevada autoavaliação ruim da saúde, importante indicador de bem-estar individual e coletivo. Conclui-se que os impactos da atividade fumageira na saúde dos trabalhadores e residentes do local estudado merecem ser melhor investigados a fim de se minimizar os agravos decorrentes do processamento do fumo. Destaca-se, nesse projeto, a participação precoce dos estudantes nas atividades de pesquisa-extensão vinculadas à atenção primária à saúde e à articulação ensino-serviço.

Palavras-chave


saúde do trabalhador; atenção primária; formação em saúde

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