Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Segurança Alimentar e Nutricional de comunidades como estratégia para o planejamento de ações de Promoção e Assistência à Saúde
Lí­dia Viegas Tenório da Silva, Larissa de Azevedo Cáceres, Giovana Eliza Pegolo

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Identificar a situação nutricional da população possibilita a implementação de ações e programas específicos visando a Promoção e a Assistência à Saúde a partir da realidade vivenciada. Neste contexto tem-se a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), definida pela Lei nº 11.346/2006 como “a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”. O consumo alimentar saudável, entre outras características, pode ser compreendido como a ingestão alimentar diária equilibrada, composta por cereais, leguminosas, carnes, laticínios, frutas, verduras e legumes. Em um dos extremos, a ingestão alimentar excessiva, caracterizada por alimentos com conteúdo de energia elevado, principalmente decorrente de gordura e açúcar simples, e reduzido nos demais nutrientes (vitaminas, minerais e fibras), contribui para alterações desfavoráveis do estado nutricional, sendo o sobrepeso e a obesidade as condições mais prevalentes, estabelecendo assim um risco maior também para o desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias. Outro fator determinante do consumo alimentar, em quantidade e qualidade dos alimentos, é a renda familiar. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi identificar a situação de (In) Segurança Alimentar e caracterizar a amostra em relação aos hábitos alimentares, indicadores antropométricos e econômicos. DESENVOLVIMENTO: Este estudo foi realizado com mães de crianças matriculadas em um Centro de Educação Infantil localizado em Campo Grande (Mato Grosso do Sul). As mães, por assumirem a responsabilidade pela alimentação da família, foram escolhidas como público-alvo da pesquisa. Foram convidadas a integrarem o estudo todas as mães com idade a partir de 18 anos que não estivessem gestantes. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética para Pesquisas em Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. As variáveis investigadas foram: SAN, por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA); hábitos alimentares, a partir de questões adaptadas da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2013), contendo 18 questões; indicadores do estado nutricional (Índice de Massa Corporal e Circunferência da Cintura) e classificação econômica (Critério Brasil, Associação Brasileira de Estudos Populacionais – ABEP, 2014). RESULTADOS: A amostra final foi constituída por 61 mulheres (41,8% da população de estudo), com idade média de 30,1 anos. Os resultados preliminares deste estudo possibilitam a caracterização do grupo estudado em relação às principais variáveis investigadas. Desta forma, em relação a SAN, 47,5% dos domicílios estavam em SAN, 41% em Insegurança Alimentar Leve, 9,8% em Insegurança Alimentar Moderada e 1,6% em Insegurança Alimentar Grave. Considerando a Insegurança Alimentar Leve um dos maiores percentuais de respostas na EBIA, 36,1%, foi obtido para a questão que avalia a diminuição dos recursos financeiros para uma alimentação saudável e variada. As principais constatações a partir das questões relacionadas aos hábitos alimentares foram: o consumo de feijão com frequência de 5 a 6 dias na semana foi observado na maioria das residências (50,9%); a maior frequência de respostas para o consumo de legume ou verdura cru foi na periodicidade de 3 a 4 dias da semana (32,8%), sendo que apenas 13,1% afirmaram a ingestão diária; a ingestão de frutas para 39,4% das entrevistadas apresentou consumo de 1 a 2 dias na semana, e somente 8,2% consomem diariamente alimentos deste grupo e 46% das mães afirmaram a ingestão diária de carne vermelha. O consumo de refrigerantes e sucos artificiais com frequência de 5 a 6 dias na semana foi registrado em 24,6% das respostas. Quanto ao consumo de leite, 16,4% respondeu que nunca toma leite e apenas 14,8% das mulheres relataram ingestão diária. O uso de produtos com elevado teor de açúcar também foi avaliado e 26,2% das mães afirmaram a ingestão de doces em 3 a 4 dias na semana. A investigação do estado nutricional das mães apontou 44,3% em eutrofia, 31,1% com sobrepeso e 19,7% com obesidade. A análise da circunferência da cintura indicou que 44,3% das mulheres foram classificadas como adequadas. Porém, 26,2% apresentavam risco elevado e 29,5%, muito elevado, tendo em vista sua relação com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Em relação à classe econômica, as maiores frequências foram para as classes C1 e C2, sendo 47,5% e 22,9%, respectivamente, cujos valores da renda média bruta familiar equivaliam a 1865 e 1277 reais por mês. Para a escolaridade, 21,3% relataram ensino médio incompleto e, 32,7%, ensino médio completo. O estudo também analisou a responsabilidade pelas escolhas alimentares da família. A maioria das mães (81,7%) consideram-se responsáveis pelas opções alimentares das crianças e dos demais familiares do domicílio, ressaltando seu papel relevante no cuidado referente à alimentação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste estudo, embora quase a metade da amostra tenha sido classificada em SAN, ainda existem situações de Insegurança Alimentar, o que denota preocupação e/ou vulnerabilidade concernente à alimentação, em quantidade e qualidade adequada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2013, revelou que 22,5% dos domicílios brasileiros tinham algum grau de Insegurança Alimentar. Na região Centro-Oeste foi constatado 18,2% de domicílios nesta condição. Neste estudo, 52,4% apresentaram algum grau de Insegurança Alimentar. A Pesquisa investigou também as atitudes das famílias com Insegurança Alimentar em situações de falta de alimento, dentre as respostas citadas, estava o menor consumo de frutas e verduras. A análise do consumo alimentar salientou, principalmente, a inadequação destes alimentos. Resultado preocupante, pois a Organização Mundial da Saúde recomenda a ingestão diária mínima de quatrocentos gramas (cinco porções) de vegetais. Esta prática alimentar, conforme estimativas da OMS, pode contribuir para a diminuição de cerca de 2,7 milhões de mortes no mundo todos os anos. A Agência Nacional de Pesquisa sobre o Câncer, desde meados da década passada, já afirmava que 20 a 30% dos cânceres do trato gastrointestinal e até 12% dos outros tipos de câncer poderiam ser evitados com o consumo adequado de vegetais. O conjunto de hábitos alimentares inadequados pode relacionar-se ao desenvolvimento de doenças que apresentam o excesso de gordura corporal como fator desencadeador, condição já constatada neste estudo por meio da frequência de mulheres com excesso de peso e circunferência da cintura elevada. Considerando as demais variáveis deste estudo, especula-se o quanto a renda mensal pode estar associada às inadequações alimentares da família, sendo que poder aquisitivo menor poderia ser determinante nas condutas alimentares inapropriadas. Contudo, sugere-se que estratégias de Educação Alimentar e Nutricional poderiam integrar políticas públicas direcionadas à Promoção e Assistência à Saúde de maneira sistemática, contínua e adaptada a cada realidade. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura afirma que um dos maiores desafios do setor é a conscientização das pessoas sobre os benefícios do consumo de frutas e verduras. A estreita relação da mãe/mulher com as escolhas alimentares da família pode representar uma possibilidade de cuidado com a saúde com repercussões importantes, especialmente ao considerarmos que hábitos alimentares adquiridos na infância podem perdurar ao longo da vida e ainda com mudanças positivas para toda a família. Independente da condição de SAN ou não, estratégias de Educação em Saúde e Nutricional poderão contribuir positivamente para o estado nutricional e para um padrão alimentar pautado por escolhas alimentares adequadas.

Palavras-chave


Segurança Alimentar e Nutricional; Promoção e Assistência à Saúde; Hábitos Alimentares

Referências


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA – ABEP. Critério de Classificação Econômica Brasil. 2014.

BRASIL. Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA: análise psicométrica de uma dimensão da Segurança Alimentar e Nutricional. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Estudo Técnico 01, 2014.

BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Poder Executivo, Brasília, DF, 15 de set., 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – VIGITEL, 2013.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. OMS e FAO anunciam estratégia integrada para promover. Disponível em: <http://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/realese/pr84/en/>. Acesso em: 15 set., 2015.

 

WORLD HEALTH ORGANIZATION. OMS e FAO anunciam estratégia integrada para promover. 2002. Disponível em: <http://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/releases/pr84/en/>. Acesso em: 15 set./ 2015.