Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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1º VER-SUS PARA RESIDENTES E COM ÊNFASE EM SAÚDE DO CAMPO: RELATO DE VIVÊNCIA
Kesia Valentim do Nascimento

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


O projeto VER-SUS é uma proposta do Ministério da Saúde com parcerias, o qual realiza estágios de vivência para debater acerca dos mais diversos contextos em que o SUS esta inserido. Este relatório tem por finalidade descrever a experiência do primeiro VER-SUS para residentes e com ênfase na saúde do campo. Foram 10 dias de vivências no período de 03 a 12 de Agosto de 2015, no Centro de Formação Paulo Freire localizado em Normandia-Caruaru PE (assentamento dos trabalhadores sem-terra), nos quais 40 residentes de diferentes áreas de concentração, e das cinco regiões do Brasil, auxiliados por sete facilitadores discutiram sobre oito eixos temáticos: Estado, Sociedade e Saúde; Atenção Primária; Território e Promoção à Saúde; Redes de Atenção em Saúde e Integralidade; Trabalho e Saúde; Educação Permanente; Questão Agrária e Papel Social do Residente. Tivemos a participação de convidados que contribuíram ainda mais em todo processo metodológico, assim como foram às vivências externas no território experimentando os serviços de saúde, entre eles: Unidades de Saúde da Família, Hospitais Regionais, Casa de Apoio a Gestante e Maternidade, Equipamentos sociais e também o assentamento Normandia. Percebeu-se durante as vivências que apesar dos grandes avanços, a invisibilidade do campo ainda persiste. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais veem sofrendo um processo de substituição da cultura agrícola pela fabricação têxtil, sendo o pólo de Caruaru e Toritama reconhecidos nacionalmente como um dos maiores fabricantes de jeans, este processo que na região é denominado “Fabrico” nada mais é do que o modelo Fordista de produção onde em uma casa se corta o jeans, em outra se costura os bolsos, em outra se faz os acabamentos. Esta alienação do trabalho, em que não se sabe o quanto realmente se ganha por cada peça produzida e o quanto a jornada do trabalho (até 15 horas quase que ininterruptas) afetam na qualidade de vida das pessoas e influenciam no processo saúde-doença. A falta de saneamento básico e de abastecimento de água ainda são as maiores preocupações no tocante à saúde do campo, presente nos altos índices de tratamento por doenças infecto-parasitárias, no entanto assim como na zona urbana o aumento de acidentes de trânsito é alarmante. Ressalto o quanto a convivência com militantes dos trabalhadores Sem Terra, conhecendo a verdadeira história desse movimento foi fundamental para a desmistificação dos preconceitos formados pela exposição sempre criminalizadora da mídia. As vivências nos proporcionaram mais do que indignação, mas uma oportunidade de enxergarmos mudança, de reflexão sobre nosso próprio processo de trabalho e de nossas atitudes diante do outro. De pensar saúde da população do campo de uma forma que respeite a singularidade do campesinato, mas com a construção de uma visão crítica acerca da história do país na desigualdade da distribuição de terras, a herança escravocrata, dos latifúndios, do patriarcado, refletindo-se hoje em desigualdades e iniquidades. De fato a vivência reforçou minha convicção de que somente, através do engajamento diário pela defesa do SUS ocupando todos os espaços de discussões é que poderemos impedir os ataques para a desarticulação das políticas públicas sociais.

Palavras-chave


VER-SUS; Campo; Saúde