Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO SOBRE DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE ENSINO APLICADS NA GRADUAÇÃO EM SAÚDE
Daniel Dias Sampaio, Eliana Gusmão Oliveira, Laisla Pires Dutra, Dieslley Amorim de Souza, Ana Cristina Santos Duarte, Rita Narriman Silva de Oliveira Boery

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: O processo ensino-aprendizagem com ampla participação dos alunos não é uma preocupação recente, diante dos avanços da tecnologia de ensino e de competitividade dos meios de informação emerge a preocupação com a interatividade na aprendizagem1. Com isso, a busca por resultados satisfatórios nesse processo demonstra que muitos professores têm se frustrado ao introduzir novas estratégias em sala de aula, pois se deparam com a extensa e peculiar “bagagem conceitual” trazida para sala de aula pelos alunos. As aulas tornam-se então improdutivas, não confrontando a concepção “incorreta”, pelo contrário, reforçando-a2. As estratégias de ensino estão relacionadas com a forma que os docentes articulam os conteúdos, que visa uma melhor adequação para contemplar as especificidades de cada grupo, assim esse conceito ampliado considera os meios utilizados pelo professor para facilitar o processo de aprendizagem3,4. A preocupação em transformar informações em conhecimento é constante aos docentes, assim, a escolha de estratégias para trabalhar determinados conteúdos que dialogue com o contexto em que o discente está inserido é o grande desafio para esses profissionais da educação superior. Diante disso, o estudo teve como objetivo relatar a experiência em mediar uma aula sobre violência contra crianças e adolescentes utilizando das estratégias: tempestade de ideias, aula expositiva dialogada e estudo de caso. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O estudo foi desenvolvido no ambiente de sala de aula, em maio de 2015, com alunos do ensino superior de uma instituição privada, na cidade de Vitória da Conquista no estado da Bahia. Numa turma do quarto semestre do curso de graduação em fisioterapia composta por 29 discentes matriculados no componente curricular. DESENVOLVIMENTO HUMANO. A escolha do tema violência contra criança e adolescente não se deu de forma aleatória. A violência doméstica contra crianças é um fenômeno universal, que ocorre em diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social, atingindo todas as classes sociais, etnias, religiões, raças e culturas5. A aplicação das estratégias foi devidamente planejada, sendo que os registros de expressões e participações dos discentes foram descritos em um diário, por meio de observação passiva sem influência do observador na dinâmica da aula, anotando espontaneamente tudo que lhe foi conveniente. Durante a observação levou-se em consideração, além dos componentes físicos da palavra, também os múltiplos elementos da apresentação pessoal, aspectos do comportamento global e em particular a comunicação (linguagem) não-verbal dos participantes6. A estratégia Tempestade de idéias é conhecida também como Brainstorming no inglês, é definida como uma estratégia vivenciada por um coletivo, com participações individuais, realizada de forma oral ou escrita3. Essa atividade foi utilizada para incentivar a livre promoção de ideias que desenvolve uma atitude interrogativa e reflexiva diante de um dado questionamento7. A aula expositiva dialogada é uma estratégia que permite a participação ativa dos estudantes fomentando um espaço de diálogo sem barreiras na qual o conhecimento prévio dos discentes é valorizado podendo ser esse, utilizado como ponto de partida para demais discussões3. A estratégia Estudo de caso apresenta forte potencial de discussão entre os estudantes, favorecendo o processo de conhecimento. A dinâmica da atividade é realizada por exposição do caso a ser estudado a um determinado grupo, após a análise dos casos o condutor da estratégia retoma pontos principais, analisando coletivamente as soluções propostas3. A avaliação foi procedida pelos mediadores continuamente, observando: a participação dos graduandos durante a atividade, questionamentos, exemplos, vivências, linguagem corporal, concentração, postura, interação, diálogo, a fim de elucidar o tema. Além disso, foi levada em consideração a auto-avaliação do grupo oralmente, pois o processo de ensino e aprendizagem ocorre através da interação entre docente e discente, bem como o processo avaliativo. Efeitos alcançados e recomendações: O primeiro momento foi de apresentação entre os participantes para posterior desenvolvimento da aula. A primeira parte da estratégia foi conceituar violência, dos 20 alunos presentes 12 contribuíram com a estratégia com 23 palavras sugeridas. As sugestões de palavras foram incentivadas de forma exaustiva pelo mediador e as palavras escritas em quadro branco para visualização de todos. As palavras foram: hematoma, roubo, abuso, trauma, maus tratos, dor, tristeza, desrespeito, angústia, raiva, intolerância, drogas, medo, racismo, agressividade, constrangimento, revolta, abatimento, retração, preconceito, rebeldia, violência verbal, violência psicológica. Após a definição de violência, foi aplicada a mesma estratégia para conceituar “violência infantil” que contou com a participação de 11 alunos, com sugestão de 12 palavras: abuso sexual, maus tratos, falta de respeito, agressão, ameaça ignorância, intolerância, mau exemplo, desconstrução de caráter, abandono, trauma, tortura. Após a discussão e a dinâmica, o mediador trouxe os conceitos de violência referenciadas pela literatura a fim de contextualizar o tema. A aplicação da estratégia teve duração aproximada de 30 minutos e os recursos utilizados foram Datashow e quadro branco. Por fim, vivências foram socializadas e discutidas na perspectiva familiar, cultural, social e profissional. Após 20 minutos da primeira estratégia a turma demonstrou cansaço à técnica demonstrando a partir dispersão e conversas paralelas, entretanto verificou-se o aprendizado mediante as falas, a avaliação foi feita qualitativamente, obtendo um resultado satisfatório. A segunda estratégia utilizada teve duração de 28 minutos e foi iniciada dois casos de violência infantil veiculados pela mídia, posteriormente, indagou-se a turma o seguinte questionamento: “O que leva um adulto violentar uma criança?”. Mediante questão norteadora a turma demonstrou interagir, elencando possíveis hipóteses como: nervosismo e injustiça social. Após isso, houve uma breve explanação sobre a violência nos diversos aspectos e cenários, refletindo sobre a proporção dessa problemática. Mediante a discussão fomentada pelos discentes, apresentou-se o estatuto da criança e do adolescente (ECA) através da lei 8069/90, os dados epidemiológicos e imagens representativas dos tipos de violência, sinais e sintomas. Nesse momento, a turma demonstrou redução da atenção, evidenciada por atitudes dispersas, nessa perspectiva, a aplicação da estratégia foi de pouca interação. A terceira e última estratégia utilizada, teve uma duração de aproximadamente 18 minutos, cujos discentes receberam um texto impresso com o estudo de caso escolhido, extraído do Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência8 e foi feita a leitura do caso clínico e discussão. Após as argumentações e síntese final do diagnóstico levantado e confirmado, os mesmos foram desafiados a pergunta: qual a conduta de vocês, em processo de formação profissional da saúde frente ao caso de violência infantil? O processo avaliativo foi feito de forma qualitativa, observando as falas dos discentes a respeito do estudo de caso alcançando o objetivo proposto pela estratégia. Mesmo sendo comprometida pelo tempo, percebeu-se que entre as três estratégias utilizadas, esta foi a de maior satisfação e interação dos alunos, momento em que se identificaram também como protagonista para identificação, notificação e denúncia para o combate da violência. Sendo assim, a partir da vivência, destaca-se a necessidade da publicação das experiências pedagógicas, de modo que tanto docentes quanto discentes conheçam e aperfeiçoem em sua rotina os novos métodos de ensino. Sendo que as práticas em sala de aula devem ser refletidas e revisitadas a fim de que as estratégias permeiem numa nova perspectiva do processo de aprendizagem.

Palavras-chave


Educação; Estratégias de ensino; Violência

Referências


1. WITTER, G. P. Estratégias para aprendizagem interativa. Psico-USF (Impr.) [online]. 2001, vol.6, n.1, pp. 77-78.

2. MARTINS, R. L. C.; VERDEAUX, M. de F. da S.; SOUSA, C. M. S. G. de. A utilização de diagramas conceituais no ensino de física em nível médio: um estudo em conteúdo de ondulatória, acústica e óptica. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 31, n. 3, p. 3401.1-3401.12, Sept. 2009.

3. ANASTASIOU, L. das G. C.; ALVES, L. P. Estratégias de ensinagem. In: ANASTASIOU, L. das G. C.; ALVES, L. P. (Orgs.). Processos de ensinagem na universidade. Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 4. ed. Joinville: Univille, 2005.

4. MASETTO, M. T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.

5. BRASIL. Secretaria da Saúde de São Paulo. Caderno de violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde - CODEPPS. São Paulo: SMS, 2007.

6. LÜDKE, M.; ANDRÉ M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo (SP): EPU; 1986.

7. MINICUCCI, A. Técnicas de trabalho de grupo. São Paulo: Atlas; 1987.

8. WAKSMAN, R. D.; HIRSCHHEIMER, M. R. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência / Núcleo de Estudos da Violência Doméstica contra a Criança e o Adolescente. Coordenação: Renata Dejtiar Waksman, Mário Roberto Hirschheimer − Brasília: CFM, 2011. 172 p.