Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Encontro Paulista do VER-SUS: propondo reflexões e ações no campo da formação em saúde
Allan Gomes de Lorena, Beatriz Cabral de Vasconcellos Vinhas, Emelyn Hernandes Rosa, Pedro Henrique Faria de Carvalho

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


As vivências e estágios na realidade do SUS (VER-SUS) de São Paulo, desde a sua primeira edição em julho de 2014 na cidade de São Bernardo do Campo, e nos municípios de Mauá, Guarulhos, Santos e Brasilândia/FÓ no verão de 2015, vem se solidificando no campo da integração ensino-serviço com a gestão municipal de diversas secretarias de saúde, o que permite estimular uma aproximação dos estudantes de graduação com os territórios e o fortalecimento dos diálogos entre gestão e serviços de saúde. Possibilita, também, encontros fundamentais dos profissionais de saúde com as pessoas que utilizam o SUS, sempre próximo do afeto e do cuidado com o outro. Assim, surge a necessidade do VER-SUS/São Paulo (re) pensar suas práticas, suas vivências, seus objetivos e compromissos com o Projeto VER-SUS/Brasil. O Encontro Paulista do VER-SUS (ou EP-VERSUS para os íntimos) teve como mote o tema “propondo reflexões e ações no campo da formação em saúde” no intuito de fomentar o debate do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir das vivências e estágios na realidade do SUS (VER-SUS) nos municípios paulistas. O referido evento contou com a participação de diversos movimentos e coletivos como: Faculdade de Saúde Pública da USP, instituição importante sobre o debate da saúde e SUS; Associação Paulista de Saúde Pública (APSP), entidade histórica do movimento da reforma sanitária em São Paulo e anterior a efetivação do SUS; VER-SUS/São Paulo, coletivo de estudantes e mobilizadores dos estágios e vivências em São Paulo e os Centros Acadêmicos de Farmácia e Obstetrícia da USP, estes, protagonistas estudantis em articular o movimento estudantil de seus cursos com a pauta da saúde tendo como objetivo contribuir para o amadurecimento e fortalecimento da Comissão de Organização do VER-SUS/São Paulo. Tratou-se de um encontro com metodologias participativas com o propósito de dar movimento ao diálogo interdisciplinar e/ou transdisciplinar entre as áreas de conhecimento. Buscando participação ou cooperação entre as instituições e coletivos proponentes visando a transformação da realidade social, compartilhando conhecimentos e experiências para suscitar reflexões no campo da saúde com estudantes de saúde pública, terapia ocupacional, obstetrícia, farmácia e bioquímica, nutrição, pedagogia, biomedicina, psicologia, estudantes imigrantes, estudantes formados, estudantes de pós-graduação, integrantes de movimentos sociais, gestores do SUS e docentes de universidades públicas e privadas. Nesse sentido, o Encontro Paulista (EP) não se trata apenas da junção de uma vogal com uma consoante, não se trata de uma sigla inocente, mas, de um conceito-força dos “inconscientes que protestam”. (Merhy, 2002). O EP inspirado sob a ótica da Educação Permanente em Saúde (EPS) teve a intenção segundo Feuerwerker, (2014) de olhar para o dia a dia, no mundo do trabalho, e poder ver os modos como se produzem sentidos, se engravidam palavras com os atos produtivos, tornando esse processo objeto da própria curiosidade, vendo-se como seus fabricantes e podendo dialogar no próprio espaço do trabalho, com todos os outros que ali estão, não é só um desafio, mas uma necessidade para tornar o espaço da gestão do trabalho, do sentido do seu fazer, um ato coletivo e implicado, a serviço da produção de mais vida individual e coletiva. Foi produzido durante os dias do Encontro Paulista novos significados para dar continuidade às vivências e estágios nos serviços de saúde em São Paulo, além de debates acerca da gestão, atenção, formação e participação cidadã, bem como, a produção de sentidos, saberes, políticas e práticas (...) O tema [propondo reflexões e ações no campo da formação em saúde] se coloca atual a cada dia e incluir os movimentos sociais e escutar a voz do coletivo continuam sendo as atitudes necessárias para pensarmos, disputarmos e rearranjarmos a vida, como diz Nichiata et al (2015). Para colocar o VER-SUS em “xeque” foi realizado uma roda de discussão para problematizar a pertinência de estágios e vivências no SUS, se este, pode ser um dispositivo de mudança na formação. Para Passos e Carvalho (2015), é necessário reorientar a formação como estratégia de intercessão coletiva pressupõe a produção de alterações nas condições de trabalho a partir da relação entre os sujeitos que participam do processo de produção de saúde (...) [e] pensar a formação em saúde a partir da ideia de intercessão impõe que se utilizem estratégias pedagógicas que superem a mera transmissão de conhecimentos, pois não haveria um modo correto de fazer, senão modos que, orientados por premissas éticas, políticas e clínicas, devem ser recriados considerando as especificidades de cada realidade, instituição e equipe de saúde. As falas que marcavam este e os outros debates, guiado pelo o conceito de Rizoma (Deleuze e Guattari, 1995) dão movimento à produção de novas formas de subjetivação para o cuidado, o trabalho e a formação em saúde com vistas às necessidades sociais em saúde e o trabalho multiprofissional. Notamos, ainda, a multiplicidade de ideias, desejos e angústias que movem os “incontritas” paulistas do VER-SUS. Essa multiplicidade, para Pelbart (2003) pode ser concebida como um corpo biopolítico coletivo, nos seus poderes de constituir para si comunidades múltiplas, desenha assim novas possibilidades de relação com a alteridade. Para dizê-lo em termos mais filosóficos: não mais pensar segundo a dialética do mesmo e do outro, da Identidade e da diferença, mas resgatar a lógica da multiplicidade. O Encontro teve como ponto de partida e ponto de chegada cartografar regiões que ainda estão por vir, no sentido, de inovar e reinventar as próximas vivências. A realização do Encontro Paulista do VER-SUS foi possível porque podemos “parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, (...) cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (BONDIA, 2001). Por fim, lembra Lorena (2014) que o VER-SUS, assim como o SUS são projetos dinâmicos que mudam, faz girar vidas e políticas (...) e o [Encontro Paulista do] VER-SUS traz a proposta de criar uma rede viva entre estudantes, usuários, militantes da saúde, trabalhadores, gestores e quem mais quiser contribuir para a mudança da realidade de saúde que nos envolvem, uma vez que, saúde é um campo social de intensas lutas e batalhas.

Palavras-chave


VER-SUS, formação em saúde, política de saúde

Referências


BONDIA, JL. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Palestra proferida no 13º COLE-Congresso de Leitura do Brasil, realizado na Unicamp, Campinas/SP, no período de 17 a 20 de julho de 2001.

DELEUZE, G. GUATTARI. F. Mil Platôs, Vol 1. Editora 34. 2000.

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PELBART, P. P. VIDA CAPITAL- Ensaios de biopolítica. 1. ed. São Paulo: Iluminuras, 2003.