Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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DA SENDIBILIZAÇÃO A REFLEXÃO: A IMPORTÂNCIA DA TANATOLOGIA NOS CURRICULOS EM ENFERMAGEM
Layla Oliveira Campos Leite Machado, Márcia Maria de Medeiros, Marcia Regina Martins Alvarenga

Última alteração: 2016-03-03

Resumo


INTRODUÇÃO: Pode-se afirmar que a forma de morrer contemporaneamente é diferente da experimentada em tempos passados, não morremos mais em casa, rodeados por familiares ou amigos, geralmente as mortes são constatadas em um ambiente hospitalar, onde não há espaço para cerimônias ou rituais subjetivos (MEDEIROS, 2008). O número de tarefas dos profissionais de enfermagem e alto fluxo de rotatividade dos leitos hospitalares cercam a morte de eventos mecanicistas, que causam embaraço e desconforto para esta categoria profissional. A relação que cada sujeito tem com a morte é única, não tendo o mesmo significado para todos, o inquietante sentido que este fenômeno possui é visível. O pavor, o luto coletivo, os tabus, e até mesmo considerá-la um assunto interdito, são reações comuns quando esta temática se aproxima da realidade das pessoas. As subjetividades criam diferentes formas para lidar com a finitude o que implica diretamente na atuação dos profissionais de saúde que tem em seu cotidiano profissional um compromisso com a vida de seus pacientes, e lidar com o risco de morte pode tornar-se um momento difícil e delicado, originando um presságio de culpa, medo e até mesmo conturbação. No contexto da Tanatologia, o ser humano frente ao processo morte/morrer não deve estar relacionado com uma traqueostomia a ser aspirada, um acesso a ser puncionado, ou uma sonda a ser inserida (SANTOS, 2014). Dessa forma, esta afirmativa torna perceptível a carência de conhecimentos a respeito do processo morte/morrer por parte dos profissionais de enfermagem, tornando a assistência de enfermagem limitada (SHIMIZU, 2007). OBJETIVO: Evidenciar a importância da Tanatologia para os currículos em enfermagem. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de característica descritiva, exploratório, iniciado por meio de pesquisa bibliográfica. Realizou-se busca da literatura nas bases de dados SciELO, Medline, Lilacs, em bancos de teses e dissertações e em livros, que tratassem sobre os temas: Tanatologia, estudantes de enfermagem, educação em enfermagem. Os artigos utilizados foram publicados no período de 2001 a 2015. RESULTADOS: O episódio decisivo na relação com a morte não é o processo biológico existente, mas sim, a reflexão de que somos finitos e que ela chegará a todos. Os cursos da área da saúde, principalmente os de Enfermagem, tem se apropriado de um perfil mais humanista, exigência proposta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, porém, algumas brechas ainda dão margem para que essa teoria humanista não seja exercida em seu êxito. Neste sentido temos o vislumbre das aulas de Anatomia, que ocorre logo ao primeiro ano da grade curricular do curso de Enfermagem, onde neste primeiro encontro com o universo do profissional enfermeiro, um cadáver, ou uma peça anatômica, caracterizado pela retirada de identidade humana, quando posicionado frente ao aprendiz. Este momento é de grande anseio e conflitos de emoções, inúmeros pensamentos são alavancados pelos acadêmicos de enfermagem, porém quase nenhum sentimento é discutido neste momento, já que a finalidade das aulas de anatomia são totalmente direcionadas a um espaço baseado no processo de ensino aprendizagem. Este é um de seus primeiros contatos com a vida profissional, o que pode gerar uma reprodução em múltiplos âmbitos, causando conflitos e desconforto pessoal. A fragmentação do ensino em disciplinas que acabam por transpor o corpo (o futuro paciente) em células, tecidos e sistemas, contribui para um fator de risco eminente, a dessensibilização dos futuros profissionais em relação à questão do processo morte e morrer. Outro fator que é considerável neste contexto, refere-se à formação dos profissionais de saúde, que fortalecem a ideia da realização de um trabalho visando à promoção, recuperação e a preservação da vida, destituindo-os da competência para lidar com a morte e com o morrer de forma mais reflexiva. Ainda existem muitas questões sobre o processo de morte e morrer e sua relação direta com o processo de formação dos acadêmicos de enfermagem, observando que a abordagem dessa temática é rápida e superficial na graduação. A forma com que as Instituições de Ensino Superior deveriam aprofundar as competências e habilidades desenvolvidas pelos graduandos sobre o processo de morte/morrer tem sido amena, se não diminuta (OLIVEIRA, 2007). Norbert Elias (2001) preconiza que a morte não é terrível, passa-se ao sono e o mundo se finda, afirmando que o homem é o único ser vivo que tem certeza que morrerá. Em outra circunstância, também discorre que há uma tendência ao crédito da imortalidade, apartando-se da ideologia da morte, justificado pelo evento tecnológico avançado no tratamento e prevenção de doenças. Podemos dizer que esse quadro sofreu uma alteração quando do surgimento da Tanatologia, criada pela psiquiatra norte-americana Elisabeth Kubler-Ross. A Tanatologia nasceu na década de 60 e trouxe grande mudança na área interdisciplinar, propondo o alavancar e o conscientizar sobre o tema morte junto ao público mundial (KOVACS, 2008). Esta área do conhecimento tem como objetivo humanizar as relações no momento da morte. Fica claro que a morte não tem o mesmo significado para todos, e as tensões provocadas no momento que ela ocorre podem ser divergentes, caminhando desde a raiva, a tristeza, a barganha, a negação, entre outros (SANTOS, 2009). O preparo dos acadêmicos de enfermagem para lidá-lo com a morte é imprescindível, no entanto, salienta-se que somente a criação de disciplinas remetidas ao processo de morte ou ao morrer, como a Tanatologia, não seria totalmente resolutivo, sem que haja o comprometimento do trabalho interdisciplinar, envolvendo todos os docentes de enfermagem, já que a maioria assume a docência em campo prático com os discentes. A morte é fato no cotidiano profissional da saúde, porém vários estudos realizados com docentes de enfermagem demonstram a fragilidade quanto ao enfrentamento da morte por parte dos enfermeiros. Tal fato foi observado em outra pesquisa com enfermeiros docentes da UTI, que atestou que a morte de pacientes durante o estágio supervisionado, provoca bloqueios quanto ao ocorrido, gerando sentimento de responsabilidade e insegurança do educando frente ao fenômeno da finitude humana (GUEDES, OHARA e SILVA, 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Assim sendo, podemos refletir que na graduação de enfermagem se tem efetivo preparo curricular para meios tecnológicos e tipos de assistências para cura ou tratamentos de enfermidades, voltada à defesa da vida, mas não para lidar com os cuidados relativos à morte. Neste cenário compete ao educador uma abordagem multifatorial, educando para a descoberta de valores morais e éticos diante do cenário do processo morte/morrer. Assim, a Tanatologia, quando apresentada aos acadêmicos de enfermagem de forma prenunciada contribuirá positivamente para melhor prestação de cuidados ao paciente no processo de morte/morrer. Dessa forma, espera-se que ocorra junto aos acadêmicos de enfermagem maior sensibilização em relação ao fenômeno da morte e consequente humanização da sua prática no trato com pacientes que estejam fora das possibilidades de cura terapêutica, sendo possível formar profissionais que sejam capazes de assistir tanto a vida quanto a morte. É indispensável contribuir para o crescimento do conhecimento através da aprendizagem significativa sobre o tema Tanatologia, positivando a consciência acadêmica sobre o processo tanatológico.    

Palavras-chave


Tanatologia; Acadêmicos de enfermagem; Currículo

Referências


ELIAS, N. A solidão dos moribundos seguido de Envelhecer e Morrer. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

GUEDES, G.F, OHARA C.V.S, SILVA G.T.R. Processo de ensinar e aprender em UTI: um estudo fenomenológico. Revista Brasileira de Enfermagem. 2008;61(6): 828-34.

KOVACS, N. J. Desenvolvimento da tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer. São Paulo: Comenirus, 2008.

MEDEIROS, M. M. Concepções Historiográficas sobre a Morte e o Morrer. In: Outros Tempos. Vol 15, n 6, dezembro de 2008.

OLIVEIRA, J. R. A morte e o morrer segundo representações de estudantes de enfermagem.16 Revista Escola de Enfermagem da USP, 2007, p.386-94. SANTOS, F. S. Cuidados paliativos: discutindo a vida, a morte e o morrer. 1.ed. São Paulo: Atheneu, 2009.

SANTOS, F. S., SCHLIEMANN, A. N., SOLANO, J. P. C. Tratado Brasileiro sobre Perdas e Luto. São Paulo: Atheneu, 2014.

SHIMIZU, H. E. Como os trabalhadores de enfermagem enfrentam o processo de morrer. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2007, v. 60, n.3.