Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Gestão do trabalho e da educação nos hospitais universitários da região Centro-Oeste do Brasil: um panorama acerca dos principais entraves
Dinorah de França Lima, Rafael Rodolfo Tomaz de Lima, Janete Lima de Castro

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: O sistema público e, por conseguinte, o Sistema Único de Saúde (SUS), não vem acompanhando com a mesma rapidez as transformações e inovações que ocorrem no mundo, sobretudo, no que concerne aos investimentos para o desenvolvimento da força de trabalho. O atual modelo de gestão encontrado nas instituições públicas de saúde é baseado no modelo de administração pública implantado em meados do século XIX, cujos princípios norteadores foram o formalismo, a impessoalidade, o controle rígido dos processos de trabalho, dentre outros¹. Ademais, as organizações públicas perderam a noção do seu principal objetivo, que é dar respaldo às necessidades da sociedade. No campo da saúde, isso implica diretamente na qualidade da assistência ofertada à população. Em decorrência disso, criam-se ambientes de trabalho complexos, em que os profissionais tornam-se cada vez mais desvalorizados e desmotivados, desenvolvendo de forma insatisfatória práticas de trabalho e, consecutivamente, de prestação de serviço à saúde. Dentre as instituições públicas de saúde, os hospitais universitários são unidades peculiares que, além de lidarem com a assistência à saúde, lidam também com a formação de recursos humanos e com o desenvolvimento tecnológico. A efetiva prestação de serviços ofertada à população por esses citados estabelecimentos de saúde proporciona o aprimoramento constante do atendimento e a criação de protocolos técnicos para as diversas patologias. A gestão da média e alta complexidade no SUS é temática e largamente discutida pela sua problemática que perpassa qualidade e custo da assistência, capacitação de pessoal, sobreposição de tecnologias e, a partir da Reforma Administrativa do Estado iniciada nos anos de 1990, os modelos de gestão indiretos. A Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no SUS trata das relações de trabalho existentes no sistema de saúde a partir de uma concepção na qual a participação do trabalhador é fundamental para a sua efetividade e eficiência. Sendo assim, o trabalhador é percebido como sujeito e agente transformador de seu ambiente e não apenas um mero recurso humano realizador de tarefas previamente estabelecidas pela administração local.  Isso faz com que a melhoria do padrão de eficiência seja garantida na composição da rede do SUS. Esta pesquisa, integrante do Projeto de Apoio à Estruturação da Rede de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no Brasil, desenvolvido pelo Observatório de Recursos Humanos em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ObservaRH/UFRN), em parceria com o Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde (DEGERTS) do Ministério da Saúde, teve o objetivo de identificar as dificuldades encontradas nos setores de gestão do trabalho e da educação na saúde nos hospitais universitários da região Centro-Oeste do Brasil. Tal identificação permitirá adequar à realidade existente ao que é preconizado pelo SUS em relação às políticas de valorização do trabalhador e do trabalho. Diante disso, a democratização das relações de trabalho no serviço público, por meio do fortalecimento e da ampliação de mecanismos e de espaços de participação e a valorização dos trabalhadores, está no centro do debate que envolve a gestão do trabalho e da educação na saúde.  DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, com uma abordagem qualitativa. A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de questionários contendo perguntas abertas. Esta pesquisa contou com a participação de 18 sujeitos, representando os seguintes hospitais universitários: Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Os referidos sujeitos da pesquisa são trabalhadores dos já mencionados hospitais e alunos do curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, ofertado pela UFRN na modalidade de Educação a Distância (EaD). Esse método de educação se destaca pela característica de democratizar o acesso ao conhecimento, pela ampliação do número de profissionais capacitados e, consequentemente, pela maior abrangência da qualificação dos processos de gestão. O levantamento dos dados ocorreu no período de março a maio de 2015 e, para a análise, foi utilizado o método da Análise de Conteúdo. Ressalta-se que este estudo teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), vinculado à UFRN, respeitando as diretrizes e normas regulamentadoras da Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) para pesquisas envolvendo seres humanos. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: As respostas obtidas apontaram como dificuldades a burocracia, dificultando o uso dos recursos financeiros que são insuficientes; morosidade dos processos administrativos que necessitam de intervenção da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH); permanência da divisão entre a área de administração de pessoal e de capacitação de pessoal; déficit de recursos materiais; relacionamentos interpessoais frágeis; estrutura física precária; falta de integração dos empregados por diferentes vínculos; falta de pessoal para atender às demandas administrativas e de gestão do setor; falha na comunicação e falta de capacitação de pessoal para os funcionários das instituições de saúde investigadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir da realização deste estudo, verificou-se que é necessário reestruturar os setores da gestão do trabalho e da educação na saúde nos hospitais universitários para que estes possam corresponder efetivamente com as exigências do SUS, utilizando-se da sistematização de referenciais teórico-metodológicos, bem como de ferramentas e dispositivos para a gestão de recursos humanos em saúde. Além de propiciar a tomada de decisões baseada em evidências, tal reestruturação permitirá qualificar a assistência através da promoção da educação permanente em saúde, da produção e da disseminação de novas tecnologias em saúde. Assim, por meio de iniciativas educacionais, espera-se transformar as práticas de trabalho para que haja mudanças na realidade, no sentido da melhoria da qualidade e da segurança dos serviços de saúde prestados e, principalmente, na qualidade de vida da população brasileira. Por fim, acreditamos que este estudo poderá contribuir para a qualificação da gestão dos hospitais universitários da região Centro-Oeste do Brasil, a fim de que possam alcançar e cumprir com o seu verdadeiro papel enquanto instituição de ensino e pesquisa na saúde, integrando a rede de serviços do SUS.  Ademais, valorizar a gestão do trabalho e da educação na saúde nos hospitais universitários implica em qualificar o trabalhador que, na maioria das vezes, atua como preceptor. Dessa forma, proporcionar o desenvolvimento dos trabalhadores e preceptores resulta em investir na formação dos alunos e futuros profissionais.  

Palavras-chave


Recursos humanos; Hospitais universitários; Gestão da saúde.

Referências


1. Castro JL, Vilar RLA, Liberalino FN. Gestão do trabalho e da educação na saúde. Natal: EDUFRN; 2012. p. 41-50.