Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
ATUAÇÃO DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PMAQ-AB – UM TRABALHO DE EQUIPE
Ana Carolina Oliveira Peres, Maria Eduarda Pereira Caminha, Rafael Sebold, Ana Izabel Jatobá de Souza, Ana Lúcia Schaeffer Ferreira de Mello

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Apresentação: Diante do desafio de planejar a gestão municipal de saúde, o governo normatiza os compromissos entre os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) em torno de prioridades que são relevantes para saúde pública brasileira. A partir de tal normatização surge o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), considerado uma estratégia do Ministério da Saúde (MS) para qualificar a Atenção Básica (AB) por meio de incentivos financeiros às equipes de saúde mediante pactuação de metas de qualidade. O principal objetivo do PMAQ é induzir e ampliar o acesso de forma a contribuir para melhoria da qualidade da AB, com garantia de um padrão de qualidade comparável nacional, regional e localmente, de maneira a permitir maior transparência e efetividade das ações governamentais, além de instituir a cultura da avaliação e do monitoramento em saúde. Um dos mecanismos que viabiliza esta pactuação é o Plano de Saúde, que apresenta uma análise detalhada dos indicadores de saúde do município. O PMAQ iniciou em Florianópolis - SC no ano de 2012 e o Programa se mostrou potente estratégia de formação e fortalecimento do trabalho em equipe do Curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF) realizado em parceria entre Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Universidade Federal de Santa Catarina. Para propor ações de acordo com os indicadores que precisavam de melhorias, as equipes realizavam uma autoavalição que as permitia elaborar uma matriz de intervenção e assim, definir os papeis de cada membro no desenvolvimento das ações para cada meta pactuada. Dessa forma, profissionais e residentes participaram de todas as etapas do PMAQ: avalição interna da equipe, planejamento coletivo das ações e realização das ações. O presente estudo teve como objetivo analisar as ações que foram adotadas pelas Equipes de Saúde da Família (EqSF), com o apoio da REMULTISF para alcançar as metas pactuadas no Pacto Municipal de Saúde e na melhoria dos padrões avaliados insatisfatoriamente na AMAQ, após a implementação do PMAQ-AB em 2012, em um Centro de Saúde no município de Florianópolis. Desenvolvimento do Trabalho: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritiva e analítica, com referencial teórico metodológico no Estudo de Caso. Utilizou-se dados secundários e análise de documentos disponibilizados pelo município, tais como as atas de reuniões de equipes e de planejamento geral da Unidade Básica de Saúde (UBS), os relatórios de produção do Sistema de Informação Municipal (INFOSaúde), as planilhas de planejamento da AMAQ e a matriz de intervenção do PMAQ proposta para a UBS eleita para o caso. A análise incluiu duas dimensões: as estratégias adotadas pelas equipes da UBS, e a participação dos residentes nas ações desenvolvidas pelas equipes no âmbito da Odontologia e Enfermagem para os indicadores selecionados. Resultados: O Pacto Municipal de Saúde é o instrumento de planejamento da SMS no qual consta estratégias, diretrizes, objetivos e indicadores para o desenvolvimento da saúde no município. A partir de indicadores de pactos anteriores, um plano de monitoramento para as mudanças foi elaborado, agregando diretrizes provenientes de oficinas municipais e dimensões de acesso, baseadas em revisões de literatura. A escolha dos indicadores ficou limitada àqueles que podiam ser monitorados e avaliados por meio do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), por este ser o único instrumento disponível para alimentação e acompanhamento das EqSF de maneira individualizada. Dentre os 47 indicadores selecionados do Pacto Municipal, a UBS do estudo avaliou insatisfatoriamente e priorizou 7 padrões que interferem diretamente nos indicadores relacionados à saúde bucal, saúde da mulher e saúde da criança, propondo para eles ações de intervenção. A partir da priorização, as EqSF adotaram estratégias em busca da melhoria do acesso pela população aos serviços e também para alcançar as metas pactuadas. Foram adotadas 5 (cinco) estratégias: 1 – Reestruturação do Grupo de Gestantes; 2 – Reorganização das atividades do Programa Saúde na Escola; 3 – Ampliação do acesso para prevenção do câncer de colo de útero; 4 – Promoção do aleitamento materno exclusivo; 5 – Ampliação do acesso à 1ª consulta odontológica programática; Em todas as estratégias adotadas, as residentes de odontologia e enfermagem atuaram de maneira ativa desde o planejamento até a realização das ações. O quadro abaixo sintetiza as estratégias planejadas e as ações geradas.   ESTRATÉGIA-AÇÃO GERADA: Reestruturação do Grupo de Gestantes Realização do Grupo de Gestantes no território Integração profissional-residentes-usuários no ambiente de trabalho (CS); Promoção da autoavaliação e monitoramento das ações da equipe; Reorganização das atividades do Programa Saúde na Escola (PSE)   Integração intersetorial; Criação e Realização do Grupo de Escuta para o PSE; Ampliação do acesso para prevenção do câncer de colo de útero Manutenção da oferta do nº de consultas de enfermagem para realização do preventivo; Promoção do aleitamento materno exclusivo Fortalecimento do trabalho multiprofissional na realização do Grupo de Bebês Ampliação do acesso à 1ª consulta odontológica programática Avaliação clínica em saúde bucal no território; Aumento da oferta de vagas para 1º consulta odontológica programática; Aumento das ações coletivas de escovação bucal supervisionada;   Porém, a realização dessas ações foram expressivas e efetivas apenas para os atores envolvidos ativamente nesse processo: Funcionários da UBS, residentes e comunidade. Para a gestão, as equipes não conseguiram atingir as metas pactuadas para os indicadores, pois a produtividade numérica do residente não é computada para os profissionais das equipes as quais os residentes estão inseridos, apesar da pró-atividade, da atuação de forma crítico-reflexiva, pautado no trabalho em equipe e na construção coletiva junto da coordenação, funcionários e junto aos usuários da UBS, sendo capaz de contribuir na dinâmica do território, promovendo saúde e prevenindo agravos. Considerações Finais: Com a realização desse estudo, foi possível identificar a partir das ações, as fortalezas e fragilidades presentes nas relações de trabalho e como estas se modificam em prol de metas, de melhorias de acesso aos usuários, e no desenvolvimento do trabalho em equipe. O maior desafio encontrado foi conferir maior visibilidade ao trabalho realizado pelo residente, uma vez que, quando este assume a liderança e execução da ação, sua produção não pode ainda ser contabilizada para a EqSF, impossibilitando o registro pelo PMAQ. A participação dos residentes no processo de implantação do PMAQ, oportunizou à REMULTISF, o aprendizado para a gestão articulando conhecimento e prática multiprofissional na atenção básica.

Palavras-chave


Avaliação em saúde. Atenção Primária à Saúde. Qualidade, Acesso e Avaliação da Assistência à Saúde. Melhoria de Qualidade.

Referências


BONITA, R.; BEAGLEHOLE, T.; KJELLSTRÖM. Epidemiologia Básica. Editora Santos. 2ª Edição, São Paulo, Santos. 2010.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012a.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ): manual instrutivo/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012b.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica. Coordenação geral de saúde bucal. Ass. Indicador de escovação bucal supervisionada. Nota técnica 2012c.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações Acerca dos Indicadores de Monitoramento Avaliação do Pacto pela Saúde, nos Componentes pela Vida e de Gestão para o Biênio 2010 – 2011. Brasília. 2009a. Disponível em: <http://www.saude.rs.gov.br/dados/1305295553733Instrutivo_ms_2010_2011.pdf>

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde na Escola. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009b.

 

BRASIL. Ministério da Saúde; Ministério da Educação. Programa Saúde na Escola. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.

 

BRASIL.Presidência da República. Decreto nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007. Institui o Programa Saúde na Escola - PSE, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 dez 2007.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes da política nacional de saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

CORRÊA, B. F. Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica: Conhecer para desenvolver [Trabalho de conclusão de curso]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Especialização em Gestão em Saúde, 2012.

 

FLICK, U. Desenho da Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

 

GODOI, D. F.; SILVEIRA, E. R.; ZEPEDA, J. E. S.; GARCIA, L. P.; CALDERON, D. B. L.; ANDRADE, M. P. O processo de implantação do PMAQ em Florianópolis: alinhando o programa à identidade institucional. Aprovado para Mostra Nacional da Atenção Básica. Brasília, 2014. Disponível em: < http://atencaobasica.org.br/relato/2576>.

 

LOPES, E. A. A. O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica e seu potencial de gerar mudanças no trabalho dos profissionais [dissertação]. Brasília: Universidade de Brasília, Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 2013.

 

NORMAN, A. H. Qualidade em Saúde. Revista Brasileira Medicina de Família e Comunidade. Florianópolis, 2012, Abr.-Jun; 7(23).

 

PORTUGAL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Saúde Escolar. Despacho nº 12.045 de 7 de junho de 2006. Diário da República, [S.l.], n. 110, 7 jun. 2006.

 

Prefeitura Municipal de Florianópolis – SC. Plano Municipal de Saúde de Florianópolis, 2007-2010. Aprovado pela Resolução no 48/CMS/2007. Florianópolis, 2007. Disponível em: <https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxwbGFuZWphbWVudG9lbXNhdWRlcG1mfGd4OjJiNWZlM2Q2N2Q1YjYwMDE>.

 

Prefeitura Municipal de Florianópolis – SC. Plano Municipal de Saúde de Florianópolis, 2011-2014. Florianópolis/SC, 2010. Disponível em: <https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxwbGFuZWphbWVudG9lbXNhdWRlcG1mfGd4OjNkODNiMjQ5MDIzODZkNGI>.

 

SILVA, S. F. A análise dos indicadores do Pacto pela Saúde como ferramenta do planejamento de gestão [trabalho de conclusão de curso]. São Lourenço do Sul/RS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Especialização em Gestão em Saúde pela Escola de Administração, 2012.

 

ZAMPIERI, M. F. M.; GREGÓRIO, V. R. P.; CUSTÓDIO, Z. A. O.; REGIS, M. I.; BRASIL, C. Processo educativo com gestantes e casais grávidos: possibilidade para transformação e reflexão da realidade. Revista Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, 2010 Out-Dez; 19(4): 719-27.