Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INTRODUÇÃO DOS ESTUDANTES DE MEDICINA AO SUS
Isabella Mendes de Souza Jorge, Dayara Machado Borges, Ananda Marques da Cunha, Gabriel Henrique Ciríaco Ferreira, Luiz César de Camargo Ferro, Beatriz Romualdo e Silva, Ana Flávia Machado Oliveira

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


Introdução: Em geral, estudantes de Medicina já pensam em suas futuras especialidades desde o início do curso e tem um pré-conceito do que é o Sistema Único de Saúde (SUS), muitas vezes deformado e negativo. Em meio a isso, a formação em saúde torna-se especialista, e não generalista. Entretanto, a atenção individualizada e integral não será encontrada se a procura for apenas pelos especialistas. Portanto, essa etapa inicial no curso de Medicina deverá promover ambientes de aprendizagem significativos e que insiram o estudante na posição de construtor do próprio conhecimento. Por isso, novas diretrizes foram propostas para o curso na Universidade Federal de Goiás, como o contato mais próximo à saúde pública desde o início e o conhecimento do que realmente é e como funciona tal saúde. Evidentemente, sem desprezar o conteúdo teórico em sala de aula. Objetivo: Relatar a experiência vivenciada por sete alunos do primeiro ano de medicina da Universidade Federal de Goiás, decorrentes dos encontros proporcionados no primeiro semestre de 2015 em Unidades Básicas de Saúde (UBS's) de Senador Canedo incluídos como parte das aulas da disciplina Saúde Coletiva I, que, inclusive, predominaram sobre aulas teóricas ministradas em sala de aula. Descrição da experiência: A disciplina de Saúde Coletiva foi ministrada para os alunos do primeiro período do curso de Medicina, da Universidade Federal de Goiás, do ano de 2015, em uma dinâmica de aulas teóricas e práticas. Nas aulas teóricas foram abordados temas como: a evolução das políticas públicas de saúde no Brasil, a criação do SUS e as leis que o regulamentam, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde,  o trabalho do médico em um contexto multiprofissional e a abordagem da atenção primária à saúde feita pelo SUS. Já para realização das aulas práticas a própria UFG ofereceu um de seus ônibus para levar os discentes à cidade de Senador Canedo, Goiás, onde os alunos foram divididos em nove grupos fixos e cada um desses grupos foi levado para um Posto de Saúde da Família específico. Durante essas aulas, os acadêmicos acompanharam as equipes de saúde em suas atividades diárias, realizando visitas domiciliares juntamente com os agentes comunitários de saúde (ACS), e observando a função dessa equipe multiprofissional na Atenção Primária. Durante as visitas aos PSF’s foi realizada também uma pesquisa de estimativa rápida para observar as condições estruturais e de saúde de cada microrregião responsável pelos Postos de Saúde. No final do período, os estudantes apresentaram, aos professores da disciplina de Saúde Coletiva e a alguns profissionais relacionados com a saúde pública de Senador Canedo, suas impressões sobre como a atenção primária é trabalhada na cidade em questão e o que corresponde, ou não, à teoria, tendo como base a pesquisa de estimativa rápida realizada, a própria experiência dos alunos e os ensinamentos apreendidos em sala de aula. Efeitos e impactos: O uso de uma metodologia ativa de ensino, na qual o aluno é colocado de maneira interativa com a comunidade e o funcionamento do SUS, proporciona ao aluno a possibilidade de vivenciar experiências únicas em sua formação. De maneira tal que ele aprenda a interagir com a base do sistema de saúde do país. O conhecimento adquirido por essa interação provoca no futuro profissional de saúde uma mudança de perspectiva de maneira tal que ele compreenda o papel e, acima de tudo, valorize cada um dos profissionais envolvidos nos diferentes órgãos que compõem o sistema de saúde, assim como possibilita uma visão mais fidedigna do que é o sistema público de saúde e como é a situação desse sistema de acordo com a realidade brasileira. Desta forma se muda a posição amplamente desfavorável que os alunos tendem a ter do SUS, para uma visão realista de um sistema complexo, em constante evolução e que, apesar dos avanços alcançados desde a sua criação, ainda enfrenta desafios para a consolidação de um sistema integrado, que responda de forma adequada às necessidades de saúde da população. E partindo do ponto de vista que é um sistema que necessita de aprimoramento, a metodologia ativa de ensino possibilita ao aluno uma revisão de seu próprio comportamento para que ele possa posicionar-se de maneira eficiente no sistema e atuar como agente ativo no processo de aprimoramento deste. Outro efeito da metodologia ativa de ensino é o estabelecimento de relações teórico-práticas desde o começo do curso, possibilitando a formação de egressos com uma visão mais ampla e das reais necessidades da sociedade em que está inserido. Interferindo diretamente na formação de profissionais da saúde capazes de exercer uma medicina humanizada, já que o aluno é constantemente lembrado de que deve promover a saúde de indivíduos que são iguais a ele e não apenas “concertar defeitos de uma máquina quebrada”. Assim integrando a dimensão psicossocial ao ensino e às práticas de saúde, visando à construção de um modelo biopsicossocial, se contrapondo ao modelo biomédico Não podemos esquecer também que, ampliado o contato com a comunidade durante a formação médica, a retenção do conhecimento teórico adquirido em sala aumenta significativamente uma vez que o interesse e o nível de atenção são maiores quando a situação é vivenciada. Considerações finais: O contato com o Sistema Único de Saúde proporcionado pela disciplina Saúde Coletiva, desde o início do curso de Medicina, é essencial para a formação de um perfil profissional mais humanizado e voltado para as reais necessidades da população, que entenda a realidade do SUS e trabalhe para aperfeiçoá-lo. A construção de uma proposta curricular que insira e aproxime o acadêmico de um campo de atuação mais amplo, menos tecnicista e voltado para questões multidisplicinares e multifatoriais, promove o anseio em se suprir um desafio real e crescente de se levar o conhecimento universitário à população, possibilitando uma maior troca de informações entre esses dois âmbitos e, ao mesmo tempo, utilizando dessa interação para se pensar, discutir e propor soluções a situações clínicas que possuem não apenas uma origem orgânica, mas uma origem baseada em um ser biopsicossocial, inserido em um contexto  e em uma macroestrutura social. A convivência com os profissionais da saúde e com a sociedade fornece aos alunos uma visão mais realista sobre como é o a rotina na UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família). Além disso, ao ter acesso aos referenciais teóricos que embasam o SUS e vê-lo na prática, o estudante passa a ter uma maior criticidade ao emitir juízos e opiniões sobre a forma como é estruturada a saúde pública brasileira, se distanciando do senso comum, amplamente disseminado. As visitas nas Unidades de Saúde mostraram, também, que uma boa gestão é importante para que as unidades tenham boa estrutura, sendo o comprometimento dos componentes da equipe necessário para atender eficientemente as demandas da população local. Diante desse cenário, o discente passa a ter uma visão mais holística sobre como é constituído o processo saúde-doença, e repensa seus objetivos em relação à sua formação e vida profissional futura, construindo o desejo real de melhorar a qualidade da saúde da população brasileira.    

Palavras-chave


sus;estudantes;contato

Referências


BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

BRASIL. Lei Nº 8.142, de 28 de Dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências.

CONASS. Coleção Progestores. Sistema Único de Saúde/ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília : CONASS, 2011. 291 p. (Coleção Para entender a gestão do SUS 2011, Vol. 1). As origens e o processo de implantação do SUS.

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